O jornal independente russo Meduza acredita que foi um país europeu a hackear o telemóvel da sua fundadora, Galina Timchenko, em fevereiro de 2023, avança o The Guardian. O ataque cibernético terá sido feito com recurso ao software de espionagem Pegasus, segundo uma investigação da universidade de Toronto e da ONG Access Now.

Tanto Timchenko como Ivan Kolpakov, editor-chefe do Meduza — jornal russo com sede em Riga, na Letónia — afirmam que se tratou do uso de uma arma cibernética, por parte de um país da UE, contra uma jornalista. Timchenko soube, pela primeira vez, que o seu telemóvel estaria comprometido em junho deste ano, quando recebeu um aviso da Apple. O aparelho terá sido hackeado em fevereiro, antes de Timchenko participar numa reunião, em Berlim, com jornalistas russo exilados. Entretanto, pelo menos mais quatro jornalistas russos viram os seus telemóveis afetados — três deles estão baseados na Letónia.

Uma investigação do Citizen Lab da Universidade de Toronto e da Access Now (uma organização não-governamental que defende os direitos digitais) confirmou entretanto que o telemóvel de Timchenko foi invadido por um país com acesso ao software de espionagem Pegasus, desenvolvido em Israel.

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Uma vez instalado no dispositivo hackeado, o Pegasus pode ler as mensagens de texto , aceder ao registo de chamadas, obter as palavras-passe, localizar o dispositivo via GPS ou aceder às fotografias e vídeos.

A fundadora da Meduza tinha dito, inicialmente, que o ataque tinha tido origem na Rússia. A suspeita de Timchenko era justificada: o Kremlin perseguiu vários jornalistas do Meduza, desde a fundação do jornal, em 2014, e lançou vários ataques cibernéticos contra o site do jornal. Contudo, a investigação conjunta da universidade canadiana e da ONG Access Now sugere que a Rússia não tem acesso ao Pegasus, pelo que o ataque não pode ter partido de Moscovo.

Alemanha, Letónia, Estónia, Polónia, Hungria, Espanha, Eslováquia, Bulgária e República Checa são alguns dos países da União Europeia onde se crê que o software seja utilizado, uma vez que, de forma oficial, nenhum estado confirma a utilizar do sistema de espionagem.

É provável que o hack tenha sido operado por algum serviço de segurança europeu. Não sabemos se foi a Letónia ou algum outro país, mas temos mais [presença] na Letónia”, disse Ivan Kolpakov. A verdade é que nem a Letónia nem a Alemanha – onde o ataque ao telemóvel de Timchenko ocorreu – se ofereceram para investigar o caso.