O Conselho para a Saúde e Ambiente alertou esta segunda-feira que cada cama hospitalar gera seis a oito quilos de lixo por dia e defendeu que reduzir a pegada ecológica na saúde deve “tornar-se uma prioridade política”.
No Dia Mundial da Saúde Ambiental, instituído por iniciativa da Federação Internacional de Saúde Ambiental, que visa destacar o contributo que os profissionais de saúde devem dar para a saúde e para o bem-estar das populações em todo o mundo, no que se relaciona com as alterações climáticas e a degradação ambiental, o Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA) exorta os profissionais a tornarem-se exemplares na adoção de comportamentos que protejam o ambiente.
O CPSA, que reúne 62 organizações ligadas ao setor da saúde, salienta, em comunicado, que o setor da saúde é responsável em Portugal por 4,8% da emissão de gases com efeito de estufa, uma percentagem superior à média europeia, apelando por isso a “um esforço na redução da pegada ecológica” nesta área, com metas definidas de neutralidade carbónica, e ao desenvolvimento e implementação de boas práticas de sustentabilidade ambiental nas instituições de saúde.
Elucidando que “a pegada ecológica de um doente em internamento é cerca de quatro vezes superior à de um cidadão vulgar”, o organismo defende que medidas corretoras desta situação podem ter um grande benefício ambiental e financeiro.
“Algumas dessas medidas são prática corrente nos países mais desenvolvidos e podem ser tomadas sem qualquer prejuízo da qualidade dos cuidados”, defende, apontando como exemplos a otimização da triagem dos lixos, a opção por materiais reutilizáveis, a racionalização dos conjuntos pré-formatados, o abandono da prescrição de inaladores ou de anestesia com gases com efeito de estufa, a opção por energias renováveis, uma melhor gestão dos equipamentos elétricos e de ar condicionado, a utilização de lâmpadas LED ou a diminuição do desperdício alimentar.
Apela ainda a uma maior cooperação das organizações relacionadas com a saúde no combate às alterações climáticas e à degradação dos ecossistemas, à introdução destes temas no ensino dos mais novos e na formação pré e pós-graduada dos profissionais de saúde, à promoção da investigação nesta área, à adaptação dos sistemas de saúde para se prepararem para cuidar dos doentes que sofrem as consequências destes fenómenos, em particular as populações mais vulneráveis.
“Os impactos do sistema de saúde na ‘nossa casa comum portuguesa’ são uma verdade de que não se fala. Uma cultura do descartável e de facilitismo provocou exageros de consumos e hábitos, por vezes baseados numa promoção do medo, sem bases objetivas que o justifiquem”, frisa no comunicado.
Refere também que o enquadramento legal português “está obsoleto e impede a disseminação de práticas sustentáveis no setor da saúde”, apelando “à revisão urgente” da legislação de 1996 sobre resíduos hospitalares, bem como à revisão da suspensão da reutilização de dispositivos médicos de uso único, prática corrente nos países da Europa com maiores Índices de Transparência e de Desenvolvimento Humano.
“A comparação das taxas de reciclagem e de economia circular da UE e Portugal mostra que temos um atraso profundo e que se continua a agravar. Os cuidados de saúde podem dar um contributo importante para melhorar estes índices, mas é indispensável que os responsáveis mostrem que estão empenhados nesse progresso”, defende o CPSA, criado em outubro de 2022.