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“The Continental”: onde os assassinos dormem

Este artigo tem mais de 1 ano

Três episódios em volta do hotel que conhecemos nos filmes de John Wick. Nova Iorque, anos 70 e um homem em vingança: como Winston Scott encontrou lugar no mundo dos assassinos. Na Prime Video.

"The Continental" segue a visão que já vimos em "John Wick". “É necessário fazer ação inteligente, não pode ser ação por ação", dizem-nos os realizadores
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"The Continental" segue a visão que já vimos em "John Wick". “É necessário fazer ação inteligente, não pode ser ação por ação", dizem-nos os realizadores

"The Continental" segue a visão que já vimos em "John Wick". “É necessário fazer ação inteligente, não pode ser ação por ação", dizem-nos os realizadores

Numa entrevista, há uma satisfação mútua quando a pergunta entra em sintonia com a vontade de responder. Não se trata de perguntas preparadas ou de respostas prontas. Trata-se de abordar questões inevitáveis. Em duas conversas com os realizadores dos três episódios — ou minifilmes — de The Continental: From the World of John Wick, falar sobre a banda-sonora seria obrigatório. É boa. É muito boa. Sobretudo porque há momentos que, graças a ela, se tornam memoráveis. Como a carta de apresentação de Yen (Nhung Kate), com Harry Nilsson a cantar Without You. Repetimos, é memorável. Quando perguntamos a Hughes sobre que mão teve na banda-sonora, ele tira do bolso um papel com uma série de canções. Era um playlist que tocava no set, parte dela entrou em The Continental. E ainda bem.

O subtítulo desmascara o que The Continental é, mas dizer The Continental deveria ser suficiente. É uma espécie de não-lugar no universo dos filmes de John Wick (uma das mais bem sucedidas sagas do cinema de ação dos últimos anos, protagonizada por Keanu Reeves), um hotel onde os assassinos dormem, onde se encontram, mas onde não se podem tocar, ou seja, não se podem matar. Tem uma aura especial, no meio de toda a loucura que acontece nos filmes, o Continental existe como uma espécie de gratificação: uma invenção brilhante que faz todo o sentido naquele universo. Encaixa nele mas também lhe dá algo mais, cria histórias que sem ele seriam inexistentes, dá uma relevância a personagens só por estarem lá. Por isso, agora, tem direito a uma história própria: “É um sítio especial, fora do que conhecemos. Gosto da mitologia, é misterioso, um local verdadeiramente underground. Nem toda a gente pode aceder a ele, cria mistérios que se amam. E permite construir todo um universo à sua volta.” resume Brändström, que tem um longo currículo em séries, incluindo muitos episódios de Os Anéis do Poder.

Hughes complementa a ideia com os objetos e as pessoas: “As moedas [que são nucleares nesta minissérie], as personagens como o Winston ou Charon. Os edifícios por fora não dizem nada, mas lá dentro é tudo gigante, com quartos magníficos: nunca viste nada assim, é maior do que a vida.”

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Não existe só um Continental, mas vários, espalhados pelo mundo. Na série viaja-se ao passado, não à fundação do Continental, mas como Winston Scott (Colin Woodell na pele da mesma personagem  que nos filmes é interpretada por Ian McShane) se tornou no dono daquilo tudo. A ação passa-se então nos 1970s, o centro é Nova Iorque, mas há momentos — sobretudo no primeiro episódio — noutras cidades, onde existem outros Continental. Porque é que Winston Scott quer o Continental? Vamos resumir as coisas, para não estragar a história, dizendo apenas que se quer vingar do atual dono, Cormac (Mel Gibson, esse mesmo). Para chegar lá, reúne um pequeno exército mas, mais importante, tem dinheiro: só assim poderia chegar ao final do primeiro episódio e dizer “preciso de armas, de muitas, muitas armas”.

The Continental segue a visão que já vimos em John Wick. “É necessário fazer ação inteligente, não pode ser ação por ação. Há uma vontade de contar uma história, até se contam histórias nas cenas de ação, porque toda a gente é diferente, por isso lutam de formas diferentes.” Este não é um comentário qualquer. Parte da razão do sucesso de John Wick e The Continental está nessa facilidade com que nos inteiramos das personagens, como elas ficam no imaginário fazendo, por vezes, tão pouco. O universo de assassinos é icónico e isso tem correspondência na série, com a vantagem de que The Continental é um bom fan service para os fãs de John Wick, deixando a porta aberta para quem está pouco ou nada familiarizado com a série. Só tem de gostar de boa ação. De uma boa história de ação.

Mel Gibson é Cormac, Colin Woodell é Winston Scott. O segundo quer vingar-se do primeiro. Há tês episódios para lá chegar

Albert Hughes que, com o seu irmão (Allen), filmaram filmes corajosos nos 1990s, como Menace II Society, Alta Jogada ou American Pimp não sentiu qualquer pressão em filmar a história de um local tão icónico da cultura popular dos últimos dez anos: “Eu e o meu irmão somos birraciais, crescemos em Detroit, encontrámos o nosso caminho. Éramos sempre o underdog. Podia ter feito um projeto sobre temas mais sérios – tinha um em mãos — mas optei por algo em que me ia divertir. Só que não fazia ideia de que isto iria ser tão divertido. E parte desse divertimento tem a ver com não estar a filmar personagens com crises reais. O facto de estar feliz e a divertir-me facilitou muito honrar o material original.”

Ação com um sorriso na cara com lutas que acabam com um ferro de engomar na nuca. Assassinos sem escrúpulos por quem se vai ganhando algum afeto, pela personalidade – ou ausência dela — que convida a prestar atenção a qualquer movimento que fazem. Uma história de conquista e vingança que acontece numa Nova Iorque com o crime a borbulhar e se desenvolve a um ritmo desenfreado, onde cada momento é justificado pelo seguinte. Se poderia ser só um filme? Sim, mas não seria a mesma coisa. Estas quatro horas e meia de The Continental adensam o lugar, a história de Winston Scott e trazem para a televisão algumas das cenas de luta mais memoráveis dos últimos tempos. E, claro, aquele momento com a Without You. Não sairá daqui enganado.

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