Defensor assumido das ideias do Papa Francisco, Américo Aguiar reconhece os momentos difíceis que a Igreja Católica atravessa atualmente, com as divisões entre as chamadas alas progressista e conservadora.

A poucos dias do início da primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que vai decorrer de 4 a 29 de outubro, no Vaticano, o futuro cardeal sublinha que o Papa avisa que “o sínodo não é um parlamento, em que chegam lá as várias fações, “cada uma conta as espingardas (…) e ganha a maioria”.

Não. O sínodo é um local onde cada um se deve sentir livre para falar, deve ter o gosto de ouvir e depois o Espírito Santo decidir. Porque, às vezes, o Espírito Santo toma a decisão que não é propriamente a da maioria”, afirma Américo Aguiar em entrevista conjunta à agência Lusa e à agência Ecclesia.

“É óbvio que nós estamos a falar de irmãos e irmãs que têm manifestado uma sensibilidade diferente em relação a alguns temas. E o Papa tem-nos provocado a todos para que possamos refletir sobre eles”, adianta o nomeado bispo de Setúbal, reconhecendo que quando se consultam os documentos preparatórios do sínodo se verifica “alguma conexão” entre as diferentes sensibilidades.

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É possível ver que “há preocupações europeias que casam com preocupações americanas, africanas e asiáticas. Ou seja, não é assim tão díspar”.

No entanto, “depois, quando começamos a pôr o microscópio a aproximar, depois vem muito mais a identidade nacional e realidades muito específicas”, acrescenta.

Ora, é muito importante não desvalorizar aquilo que é a opinião do meu irmão, aquilo que a opinião de um país, aquilo que a opinião de uma conferência episcopal. Não quer dizer que estejam errados, nem quer dizer que estejam certos, mas é importante que eles se sintam respeitados ao pronunciarem-se e também estejam disponíveis para acolher aquilo que é o sentir da Igreja em processo sinodal”, defende o bispo Américo Aguiar, convicto de que o período da Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos será um tempo “de muita oração, de muito trabalho”, confessando estar “expectante” em relação às conclusões.

Já no próximo sábado, e a anteceder o início da Assembleia Geral do Sínodo, terá lugar uma vigília de oração ecuménica — com o Papa a rezar com outros 12 líderes de confissões cristãs, na Praça de São Pedro, no Vaticano —, integrada iniciativa “Together”, dirigida aos jovens.

Perante este facto, Américo Aguiar lembra que a Jornada Mundial de Lisboa fortaleceu o espírito ecuménico.

É um caminho que vem sendo feito nas jornadas mundiais da juventude e eu gostei muito do que aconteceu no nosso país. Algumas dioceses têm alguma tradição de ecumenismo, de diálogo inter-religioso, noutras nem tanto, são realidades totalmente diferentes, e confesso que gostei e fiquei muito feliz com aquilo que foi o acontecer de vários eventos, acontecimentos, uns mais oficiais no calendário da jornada, outros oficiosos, outros laterais, ou seja, acho que todas as pessoas tiveram oportunidade de dizer, de se dar a conhecer”, recorda.

Reconhecendo que, por vezes, há “reações menos positivas daqueles que não gostam”, Américo Aguiar sublinha que, “desde que tudo aconteça no respeito pelos outros, tem de se fazer caminho”.

É importante dizer que, durante estes quatro anos [de preparação da JMJ], com a Comunidade de Taizé, principalmente, surgiu muito a questão dessa vigília, desse encontro de jovens de várias religiões e de sentimento diferente, diferenciado de transcendência. Eu acho isso muito interessante e muito rico, que os jovens se disponibilizem e queiram, nas suas diversas confissões, rezar ou ter presente uma vigília de oração. Eles são os filhos do sínodo”, acrescenta o futuro cardeal.