Três capítulos, dois resultados diferentes, uma certeza de que os jogos são marcados pelo equilíbrio. Roger Schmidt e Sérgio Conceição não têm propriamente um grande histórico entre ambos dentro daquela que é a rivalidade entre Benfica e FC Porto mas os duelos tiveram sempre grande história entre a vitória das águias no Dragão para o Campeonato com um golo de Rafa numa partida marcada pela expulsão de Eustáquio na primeira parte, o triunfo dos azuis e brancos na Luz com reviravolta que relançou a decisão da Primeira Liga e a recente conquista da Supertaça pelos encarnados num jogo marcado pelo vermelho ao técnico portista. Agora, no primeiro clássico da Liga, ambos relativizavam a importância do duelo naquilo que podem ser as contas do Campeonato mas admitindo, sobretudo no caso de Schmidt, o relevo dos jogos entre rivais.

O canto Angélico da sereia só esperava uma Musa (a crónica da final da Supertaça entre Benfica e FC Porto)

Essa acabou por ser a ideia forte das conferências dos dois treinadores, mediadas por menos de 20 minutos apesar de terem início previsto com uma hora de diferença: ganhar não decide nada, perder também não é o fim de nada mas, seja pela importância que pode ter mais tarde no desempate direto, seja pelo acréscimo de motivação que pode trazer, é um encontro que no final pode valer mais do que três pontos. A par disso, houve sobretudo dúvidas que continuaram por desvendar e poucas certezas a não ser a ambição de vitória, da condição física de Pepe que vai estar em dúvida até à hora do jogo (Namaso também já trabalha com a equipa, ao contrário dos restantes lesionados) ao parceiro de Otamendi no eixo recuado, passando pelos posicionamentos de Aursnes e Iván Jaime em campo. Confirmação? Bah e Ángel Di María estão aptos.

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“Não é fácil ser campeão em Portugal e duelos com rivais fazem diferença”

À luz do que tem sido habitual nas conferências de imprensa, qualquer que seja o adversário do Benfica ou a competição em causa, Roger Schmidt foi muito pragmático na abordagem ao que pode ser o clássico com o FC Porto sem entrar em grandes detalhes em termos técnicos e táticos mas com essa garantia de que todos os jogadores estiveram presentes no trabalho de campo na véspera da partida, abrindo assim a porta à total recuperação física de Alexander Bah e Ángel Di María para a sétima jornada do Campeonato.

“Acho que vamos ver um jogo de topo, com duas equipas que se respeitam muito. Já tenho mais alguma experiência nestes jogos, que são sempre difíceis e exigentes. A equipa também já tem muita experiência. A atmosfera na equipa é boa, os jogadores estão em boa forma, treinaram. Há pequenos detalhes que ainda têm de ser trabalhados. A equipa está preparada, jogamos em casa e podemos ganhar três pontos a um adversário direto na luta pelo título. Vai ser um jogo intenso. Lacunas do FC Porto? Não posso entrar em detalhes táticos. O FC Porto é uma equipa que ganha muitos e essa é a força deles. Têm uma mentalidade muito forte, é uma equipa muito disciplinada e com muita qualidade individual. São características essenciais para equipas que lutam por títulos, são capazes de ganhar os jogos em qualquer momento”, destacou o alemão, passando ao lado das últimas vitórias dos azuis e brancos em encontros feitos no Estádio da Luz.

“Esses jogos fazem parte da história e da estatística. O meu trabalho não tem nada a ver com os últimos jogos nem com a Supertaça porque vai ser outro jogo, um novo começo e precisamos de estar preparados. A equipa que conseguir dominar e encontrar os momentos certos para provocar dano no adversário vai ser a equipa que vai conseguir o melhor resultado. Penso pouco no passado. As duas equipas vão estar muito bem preparadas e motivadas para amanhã e no final espero conquistar os três pontos. Estarmos atrás do FC Porto na classificação? Vejo-o mais como uma oportunidade. Já o disse algumas vezes, não é fácil sermos campeões em Portugal, temos de somar muitos pontos. Isso significa que os duelos diretos com os rivais fazem a diferença. A pressão é uma constante no clube, em qualquer jogo”, salientou Roger Schmidt.

“David Neres e Di María de início ao mesmo tempo? Tudo depende da forma dos jogadores em determinada fase e de como a equipa quer encarar o jogo. Às vezes a definição do onze também implica ter boas opções no banco de suplentes para lançar durante o jogo. É necessário que as equipas tenham equilíbrio e esse é um fator determinante. Foi por isso que fomos campeões na última época. Precisamos de estar concentrados, nomeadamente nestes jogos de exigência máxima com adversários de topo”, voltou a enfatizar.

O germânico abordou também a estreia de Anatoliy Trubin num clássico em Portugal, depois de uma partida com o Salzburgo que não correu bem e que foi “corrigida” no Algarve frente ao Portimonense com o penálti defendido no segundo tempo que teve impacto direto no jogo e no resultado. “O Trubin não está nada nervoso, está muito calmo. O primeiro jogo no nosso estádio não foi o melhor, mas acho que esteve calmo, conseguiu fazer o que devia fazer em campo. Cada jogo vai ajudá-lo a ficar cada vez mais habituado e a melhorar, a conhecer melhor os companheiros e a ficar integrado. Não o vejo nervoso, não acho que ele esteja a pensar muito”, comentou, sem abrir o jogo depois em relação ao parceiro de Otamendi no eixo da defesa entre Morato e António Silva e à possibilidade de Jurásek poder voltar às opções iniciais na lateral.

“Foi tudo clarificado sobre o Pepe, aqui não está ninguém contra ninguém”

Pedindo desculpa pelo atraso de mais de 20 minutos em relação à hora marcada para a conferência, Sérgio Conceição começou por recordar o 130.º aniversário do clube. “Queria dar os parabéns a todas as pessoas que fizerem e fazem a história deste grandíssima instituição que é o FC Porto e a todos os sócios, adeptos e simpatizantes, a verdadeira alma do clube”, destacou, antes de uma primeira abordagem ao que espera do segundo clássico da temporada depois da derrota na Supertaça: “Não podemos prever o que vai acontecer no jogo, podemos sim é estar preparados para os diferentes momentos e, nesse sentido, dar o nosso máximo. Depois o jogo tem a sua história, caminho e percurso. Sabemos que é sempre um jogo difícil frente ao campeão nacional. Temos esse respeito mas também temos a ambição de ir à Luz para ganhar”.

“A nível emocional, o meu trabalho é menor nos grandes jogos. Não nos adianta estar muito bem em alguns jogos e noutros isso não acontecer. O plano faz parte do que é o nosso trabalho durante a semana. Esse passado recente não conta nada para amanhã [sexta-feira], o jogo ganha a sua vida dependendo do que fazemos nele. É preciso trabalhar bem e prepará-lo bem. Do outro lado está o campeão nacional com jogadores de altíssimo nível, mas nós também os temos. Queremos muito ganhar para que isso depois seja visível nos títulos conquistados”, destacou depois a propósito da série positiva que leva no Estádio da Luz, com quatro vitórias e apenas uma derrota em seis jogos e quatro encontros seguidos sem perder desde 2018.

Em paralelo, Sérgio Conceição voltou a abordar a questão em torno de Pepe, que soube apenas no dia do jogo com o Gil Vicente que não poderia ser opção. “A exigência aqui começa no presidente, que é exigente com ele e com os outros, acabando no tratador de relva. Toda a gente aqui é importante e toda a gente percebe que há uma exigência grande e muita vontade de fazer as coisas como devem ser feitas. O departamento médico faz parte e tem, ao longo destes anos, feito um bom trabalho. Nunca é fácil, numa época desportiva com tantas situações em que precisamos das recuperações físicas… Aqui não há caso nenhum. Houve um jogador que ficou de fora e eu manifestei-me daquela forma. No dia de jogo, a pressão desse mesmo jogo é grande e quando temos um atleta, da importância do Pepe, dentro e fora do campo… Foi tudo clarificado, aqui não está ninguém contra ninguém. O Pepe está em dúvida, vai ser até à hora do jogo”, frisou o técnico.

Sérgio Conceição abordou também o atual momento do FC Porto, recordando os 16 pontos conseguidos em 18 possíveis até agora no Campeonato mesmo admitindo que a equipa terá de melhorar em vários aspetos de jogo. “As pessoas podem pegar no que lhes interesse pegar. Estamos no início da época e nós, treinadores, queremos que a equipa evolua sempre de forma positiva e que, a cada dia que passe, seja mais forte. Aquilo que disse foi que podemos fazer mais e melhor em alguns momentos do jogo. Dão ênfase ao que interessa dar. Estamos em primeiro no Campeonato, em 18 pontos fizemos 16. Fomos a única equipa portuguesa que ganhou na Champions. Podem dizer o que quiserem. Tenho noção do que temos a melhorar. Eu disse aquilo, pegaram nisso e fizeram disso uma bandeira. As pessoas são livres de opinar mas não dou grande importância a isso. Temos de estar motivados contra o Barcelona ou contra o Vilar de Perdizes. Todos os clubes gostam de defrontar o FC Porto e o FC Porto tem de estar sempre igual, contra qualquer equipa que seja”, referiu, fazendo também uma alusão a um artigo de opinião de Nuno Encarnação, adepto do FC Porto, sem fazer alusão ao nome mas criticando a visão de que nos dragões “É tudo ao monte e fé em Deus”.

Por fim, coincidindo com o 130.º aniversário, Sérgio Conceição foi questionado por ser o único treinador a dar títulos no futebol ao Museu do FC Porto ao longo dos dez anos que celebra. “O que posso acrescentar? Posso acrescentar aquilo que posso. O meu objetivo é acrescentar a vitória importante de amanhã para conseguirmos o objetivo final de ganhar o Campeonato. O meu trabalho é o trabalho da minha equipa técnica. Conseguimos, nestes anos, colocar alguns troféus no museu do FC Porto e espero que no final desta época possamos contribuir com mais. Esse é o meu objetivo sincero, não só como adepto mas também como treinador”, concluiu o técnico com mais jogos, mais vitórias e mais títulos pelos azuis e brancos.