Nas cadernetas de cromos, os quadrados têm um número para cada jogador. Não há que enganar. Os espaços para os autocolantes estão bem delimitados. Uma equipa também funciona assim. Cada um no seu espaço. Roger Schmidt achava que tinha dois cromos repetidos quando, na verdade, tinha era artigos colecionáveis daqueles que recebem licitações milionárias em leilões por serem tão raros.

Até aqui, o treinador alemão, quando pensava em Di María para o onze inicial, excluía David Neres, esquecendo que os podia combinar. Escusado será dizer que o brasileiro, por uma questão de estatuto, partia sempre em desvantagem. Por isso, quando teve oportunidade de jogar lado a lado com o argentino, demonstrou que é tão como ele.

Parecia óbvio que ambos rendiam melhor sobre a direita do ataque, atuando de pé trocado, logo foi com naturalidade que o filho renegado dos deuses teve que se adaptar. David Neres, frente ao FC Porto, na sétima jornada da Primeira Liga, jogo onde foi titular apenas pela segunda vez esta época, sacrificou-se, jogando sobre a esquerda, onde, aliás aproveitou para combinar várias vezes com Aursnes, lateral improvisado. A verdade é que o camisola sete dos encarnados já tinha dado provas de que, também naquela posição, podia ter rendimento. Frente ao Estrela da Amadora, num jogo complicado para o Benfica, foi naquelas coordenadas que desbloqueou o encontro.

David Neres começou o clássico a causar problemas a João Mário, lateral portista, quer jogando por dentro, quer por fora. Foi o elemento que mais vezes fez a diferença nos primeiros 45 minutos, acabando por arrancar a expulsão a Fábio Cardoso. Na segunda parte, estava claro que o atacante precisava de quem lhe seguisse o exemplo. E que tal se o auxílio viesse por parte de Di María? Foi mesmo isso que aconteceu, acabando por ser a ligação entre ambos a resultar no lance do golo do Benfica que deu os três pontos ao clube da Luz.

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Neres e Di María celebraram juntos e demonstraram que não roubam o ar um ao outro e até fazem os encarnados respirarem melhor quando partilham o campo. Aos 86 minutos, os dois extremos foram substituídos em simultâneo e ouviram o mesmo aplauso quando rumaram ao banco.

“Jogamos sempre um futebol atacante. É uma questão de equilíbrio. O David esteve muito bem na semana passada, contra o Portimonense. Está em boa forma. Fisicamente, está muito melhor do que no final da pré-temporada, porque teve um pequeno problema. Mereceu jogar de início hoje. Os jogadores da frente trabalharam em conjunto e estiveram conectados. Não é um problema jogar com estes jogadores na frente”, disse Roger Schmidt à Benfica TV no final do encontro.