Ao fim de sete meses, tirámos a barriga de misérias no regresso do calendário da moda em Portugal. No solarengo primeiro dia da 61.ª edição da ModaLisboa — com o tema À La Carte — provámos uma degustação de jovens designers à entrada, uma Arndes atemporal como prato principal e terminámos numa nota doce com as confissões de uma criadora que foi mãe apenas um mês antes de apresentar um rebranding e uma nova coleção — falamos de Ana Duarte e da sua DuarteHajime, que fechou o calendário de sexta-feira, 6 de outubro, pelas 22 horas.
Como bom filho a casa torna, esta edição serviu a ementa com a confirmação do célebre ditado popular e regressou ao Pátio da Galé ao fim de sete anos — foi a esse mesmo espaço que o evento chamou casa entre 2011 e 2016. Recorda-se que as últimas duas edições da ModaLisboa estiveram instaladas na Lisboa Social Mitra, em Marvila.
A partir das 18 horas, uma encalorada multidão composta por convidados, celebridades, stylists e imprensa aglomerou-se nos bancos corridos da sala de desfiles — servindo-se do que podia, leques e até folhas, para arejar — para ver passar as propostas para a próxima estação, cheias de pele à mostra, transparências, assimetrias e malhas. Como já é costume, esta edição começou com o concurso Sangue Novo e a seleção de seis finalistas. Seguiram-se as Workstations de Niuka Oliveira e Filipe Cerejo (vencedores da última edição) pelas 20h, Arndes às 21h e a festa fechou com DuarteHajime pelas 22h.
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▲ As assimetrias (nas imagens, de Niuka Oliveira e Bárbara Atanasio), foram um dos destaques do dia
TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
O cartaz continua nos dias 7 e 8 de outubro (sábado e domingo), com nomes como Constança Entrudo, Luís Buchinho, Carlos Gil, Luís Carvalho, Nuno Baltazar, Gonçalo Peixoto e Dino Alves, entre outros. Conheça o programa completo no site oficial.
Continue a ler para conhecer os destaques do primeiro dia de desfiles da ModaLisboa À La Carte.
Sangue Novo
O pontapé de saída é sempre deles. Pelas 18 horas de sexta-feira, convidados e imprensa encavalitaram-se pela primeira vez nos bancos corridos da sala de desfiles para ver passar 10 jovens promessas da moda nacional: Afonso Afonso, Ana Maricato, Bárbara Atanásio, ÇalPfungst (repetente da edição passada) Diogo Mestre, GabrielBandeira, Isza, IzabelMonnerat, Maria do Carmo Studio (também repetente) e Maria Miguel Martins. Deste variado menu, o júri composto por Miguel Flor, Joana Jorge, João Magalhães, Adriano Baptista, Ana Tavares e Olivia Spinelli selecionou os seis criadores que passaram para a final — apesar de, tipicamente, os finalistas serem cinco, um empate técnico levou os jurados a abrirem uma exceção. São eles: Bárbara Atanásio, Diogo Mestre, Gabriel Bandeira, Isza, Maria do Carmo Studio e Çal Pfungst.
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▲ Isza, Bárbara Atanásio e Gabriel Bandeira foram três dos seis finalistas
TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
Os seis finalistas regressam na próxima edição para competirem pelos prémios do IED – Instituto Europeo di Design (mestrado em Fashion Brand Management no IED Florença no valor de 24 mil euros, uma bola de 4 mil euros e mentoria por parte da Associação ModaLisboa), ModaLisboa x RDD Textiles (estágio de 3 meses na RDD Textiles para desenvolverem uma coleção, bolsa de 1.750 euros, apresentação da colação na plataforma Workstation da ModaLisboa e mentoria por parte da Associação ModaLisboa) e ModaLisboa x Showpress (assessoria de imprensa e showroom na Showpress).
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▲ Os repetentes Çal Pfungst e Maria do Carmo Studio passaram à final. Diogo Mestre fecha os seis finalistas
TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
Niuka Oliveira e Filipe Cerejo
Também foi ao primeiro dia que dois designers emergentes ex-Sangue Novo apresentaram as suas propostas na plataforma Workstation. Niuka Oliveira, 24 anos, natural de São Tomé e Príncipe, que na edição de março venceu o prémio Tintex Textiles, mostrou a sua “Perspective” para a próxima estação quente. É uma coleção em que, de forma literal, pretende abordar “novos pontos de vista”, lê-se no descritivo. As saias fizeram-se compridas, as calças largas e soltas, os tops ora cropped ora longos e fluídos, numa paleta de cores cingida a três cores: branco, vermelho e preto.
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▲ Na paleta cromática de Niuka Oliveira predominou o vermelho (em cima). Já Filipe Cerejo, pintou a passerelle de tons neutros, em que o cru e o preto assumiram protagonismo (em baixo)
TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
Segundos depois, partilhando o espaço no calendário de desfiles, eis Filipe Cerejo, outro já premiado no concurso da ModaLisboa. Inspirado no trabalho do fotógrafo alemão Konrad Helbig, conhecido pelos retratos íntimos de jovens sicilianos, o jovem designer trouxe à passerelle uma fresca perspetiva da moda masculina. Peças em fio de seda meticulosamente tricotado conviveram com provocadoras transparências e calças de alfaiataria clássica alternaram com tecidos cujo movimento acompanha a graciosidade dos gestos. Na coleção “Symposium” destacaram-se também as camisas pouco ortodoxas e os decotes tradicionalmente associados à feminilidade — aqui questionada: afinal, quem dita quem pode usar um top sem alças?
Arndes
Já o estômago alertava para a hora de jantar quando Ana Rita de Sousa, designer da marca Arndes, abria o apetite com uma receita que conhece bem: uma coleção atemporal, coesa e totalmente a partir de tecidos provenientes de deadstock. “Não tenciono criar tendências nem segui-las”, disse ao Observador minutos após o desfile em que mostrou “Freestyle”, mais uma coleção que torna evidente que a preocupação da criadora com a sustentabilidade vai bem além da sazonalidade. Foi o tempo dos cupros, peles reutilizadas, gangas várias (num mosaico levado ao limite num longo trench coat azul-escuro), e um vestido de malha rib proveniente de um sítio inusitado. “É um teste de encolhimento, por isso é que tem lá um pequeno detalhe escrito à mão, que é a fórmula do teste”, revelou.
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▲ Ana Rita de Sousa, designer da marca Arndes, apresentou pela quinta vez na ModaLisboa
TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
DuarteHajime
“Achava que precisava de uma coisa mais específica”, explicou ao Observador Ana Duarte sobre o rebranding da marca conhecida desde 2015 apenas por Duarte e que passou, agora, a chamar-se DuarteHajime. Nas artes marciais japonesas, Hajime é a palavra que dá início às lutas. A criadora já a tinha escolhido para batizar a coleção passada, inspirada no judo, modalidade que praticou entre os 4 e os 24 anos. Com o início da internacionalização da marca, o simbolismo do nome vem mesmo a calhar. “Tem a ver com movimento e desporto, que tem a ver connosco.” Nesta edição da ModaLisboa, trouxe-nos um desfile com as participações especiais de Sharam Diniz e André Leitão (ator de “Rabo de Peixe”) numa linha inspirada nos jogos de arcade em 8-bit e na estética dos pixéis. “Tinha desejos de fazer uma coisa mais retro.” As linhas mais retas das peças resultaram nas silhuetas sem género a que a marca nos habituou, cortes oversized, e tecidos como algodão orgânico, ganga e polyster reciclado. “Para as jardineiras, inspirei-me no Super Mario e no Luigi”, confessa.
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▲ As jardineiras de DuarteHajime inspiraram-se nas personagens de videojogo Super Mario e Luigi
MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR
Mas nem só de moda foi feita a conversa, uma vez que Ana Duarte foi mãe há cerca de um mês. “O meu Filipe”, conta. Como foi equilibrar essa experiência com a apresentação de uma coleção? “Uma aventura”, responde. “Não é fácil, porque a pessoa dorme mesmo muito pouco. Hoje chegou às 21h30, estava ali no backstage e deu-me uma quebra. Normalmente é a hora a que estou na cama.” A criadora contou que tem trabalhado de casa com um auscultador no ouvido, mas por vezes também leva o filho para o atelier de arquitetura dos pais — a partir do qual a própria marca funciona —, onde dorme numa alcova forrada com um padrão criado para a coleção passada da DuarteHajime. “Qualquer dia, quem sabe, já desfila também”, ri-se.
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▲ André Leitão, ator de "Rabo de Peixe", desfilou. A apresentação começou com uma serie de modelos a recriarem o ato de jogar jogos de vídeo
MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR