As reações políticas nacionais ao ataque do grupo islâmico Hamas contra Israel, a partir da Faixa de Gaza, diferenciam-se num ponto muito concreto: a condenação da violência. O posicionamento ideológico face ao conflito israelo-palestiniano deixou algumas forças à esquerda sem palavras quanto à condenação da ação violenta que veio este sábado, de forma inesperada, do lado palestiniano. O mais claro foi o PCP que emitiu este domingo um comunicado onde ignora a violência do ataque na sequência do qual morreram mais 700 pessoas e houve mais de 2 mil feridos, só no lado de Israel (entre as duas partes o número de mortos já ultrapassa os mil). Os comunistas focam-se antes na condenação das intervenções de Israel até aqui.

Num comunicado divulgado esta tarde, os comunistas afirmam que os acontecimentos de sábado são “inseparáveis da escalada na política de ocupação, opressão e provocação levada a cabo pelo governo de extrema-direita de Netanyahu e por colonos israelitas, que não só é responsável pelo agravamento da situação, como está a conduzir ao incremento da confrontação no Médio Oriente.”

Para o PCP, a “responsabilidade pelo que se está a passar deve ser encontrada naqueles que nunca procuraram realmente a paz no Médio Oriente, no respeito pelos direitos dos povos”. O comunicado nunca se refere que aconteceu neste sábado em particular, cingindo-se à manifestação de “preocupação e inquietação com a escalada do conflito, em particular com as suas trágicas consequências para as populações”. Os comunistas alertam ainda para o perigo do alastramento do conflito” numa região já martirizada por décadas de ocupação, guerra e subversão por parte dos Estados Unidos da América, de Israel, das potências da NATO e da UE – seja no Afeganistão, no Iraque, na Líbia, no Líbano, na Palestina ou na Síria, entre outros exemplos –, que espalharam a morte e a destruição e geraram milhões de refugiados”.

O PCP pede que se cumpra a resolução da ONU que prevê a criação de dois estados na região e que se encontre uma “solução política que garanta a concretização do direito do povo palestiniano a um Estado soberano e independente, com as fronteiras de 1967 e capital em Jerusalém Oriental, e a efetivação do direito ao retorno dos refugiados, conforme as resoluções pertinentes da ONU”.

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No Bloco de Esquerda ainda não há uma reação oficial ao ataque do Hamas, mas na rede social X (antigo Twitter) a eurodeputada do partido, Marisa Matias, logo no sábado ao início da tarde, referiu as “vítimas inocentes dos dois lados” que “são o efeito da ocupação”. Para a bloquista, “parar a guerra implica pôr fim ao apartheid e a ocupação ilegal da Palestina por Israel“. Marisa Matias centra-se no lado palestiniano, sem condenar a violência do ataque preparado pelo Hamas, e como deve existir “respeito pelo direito à autodeterminação como na Ucrânia ou em Timor, ou não haverá solução para a paz”.

O paralelismo com a Ucrânia surge num partido que também teve divisões internas quando teve de tomar uma posição sobre a invasão russa da Ucrânia. Os críticos da direção acusavam a atual liderança de romper com a história do partido e de estar colado à NATO. A controvérsia interna tinha-se colocado, de resto, desde início e sobretudo quando os eurodeputados do partido tiveram de votar no Parlamento Europeu resoluções de condenação do que se passava na Ucrânia.

Nesse tema, o PCP acabou por ficar isolado no Parlamento, ao resistir condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia. Manteve a responsabilidade exclusivamente apontada aos EUA e à NATO por promoverem uma “perigosa estratégia de tensão” que pode provocar um conflito de larga escala. Na altura, o Comité Central considerou que a explicação para a tensão entre os dois países estava em “décadas de política de tensão e crescente confrontação dos EUA e da NATO contra a Federação Russa, nos planos militar, económico e político, em que avulta o contínuo alargamento da NATO” e a proximidade dos seus meios e contingentes militares das fronteiras russas.

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A reserva em condenar a violência em Israel não é, no entanto, comum a toda a esquerda. O Livre esperou pela tarde de sábado para fazer saber, através da conta oficial na rede social X, que condena “os horrendos ataques a civis” em Israel, apontando a autoria do Hamas. Numa sequência de três publicações. o partido que está representado no Parlamento por Rui Tavares atira ao Conselho de Segurança da ONU e à sua “falta de liderança e vontade política” que “tem dado e continuará a dar espaço a ações de atores oportunistas. É tão urgente como difícil uma nova iniciativa global para conter e desescalar este conflito e voltar a pôr a solução de dois estados em cima da mesa, acabar com a ocupação e os colonatos na Cisjordânia, ambos ilegais de acordo com o direito internacional, e o sistema de apartheid a que estão sujeitos os palestinianos, mas é precisamente aí que se deveriam concentrar os esforços da comunidade internacional”.

A operação surpresa “Tempestade al-Aqsa”, desencadeou uma resposta de Israel que lançou ataques aéreos a várias instalações do Hamas na Faixa de Gaza, na operação “Espadas de Ferro”. No PSD, Luís Montenegro tornou pública a sua posição ainda antes de qualquer contra-ofensiva de Israel e condenou, também através do antigo Twitter, “o terrível ataque das forças do Hamas a Israel e o reaparecimento do terrorismo mais implacável e desumano”. No Chega, André Ventura foi no mesmo sentido sendo, no entanto, bem mais contundente na condenação do Hamas e pedindo logo a intervenção americana: “Espero que Israel vença esta guerra, espero que a União Europeia, onde nós nos incluímos, e os Estados Unidos tenham uma firmeza muito grande no apoio a Israel contra o terrorismo”, resumiu.

No PS ainda não há uma posição oficial, embora o Governo socialista tenha falado em várias frentes, nomeadamente através do próprio primeiro-ministro. António Costa escreveu que os ataques terroristas contra Israel “são inaceitáveis e merecem forte condenação”. Antes dele, também o ministro dos Negócios Estrangeiros tinha já condenado “firmemente os ataques terroristas lançados contra civis pelo Hamas”. João Gomes Cravinho defendia logo nessa publicação na rede social X que “Israel tem o direito de se defender. Estes ataques nada resolverão, contribuindo apenas para piorar a situação na região. Estamos solidários com Israel e oferecemos condolências pelas vítimas”.