Foi o nome que esteve na génese do caso que está a abalar o futebol italiano, foi o exemplo de como se pode cair no vício das apostas sem ter essa noção, foi também primeiro a conhecer a sanção por violar as regras de conduta dos jogadores que proíbem qualquer tipo de intervenção em encontros organizados pela Federação Italiana, pela FIFA ou pela UEFA. No entanto, tão ou mais impactante do que os sete meses de suspensão do futebol (mais uma multa de 12.500 euros, sendo que a sanção envolve também cinco meses de reabilitação) que surgiram como uma pena de três anos atenuada em mais de 50% por ter confessado e ajudado também as autoridades, o caso de Nicolò Fagioli ganhou um maior mediatismo esta quarta-feira com as revelações que fez quando foi prestar depoimento e que foram noticiadas pelo jornal transalpino Gazzetta dello Sport.

Futebolista Nicolò Fagioli suspenso sete meses por apostas ilegais

“No início, enquanto jogador, tinha muito tempo livre e acabei por querer experimentar a emoção das apostas para ultrapassar esse aborrecimento. Comecei a apostar nos treinos da seleção nacional de Sub-21. No entanto, com o passar do tempo, comecei a entrar num estado de stress por causa das dívidas”, contou o médio da Juventus, que explicou que chegou a sair a chorar de um jogo pelos bianconeri frente ao Sassuolo na última época pelas dívidas que tinha e que já chegavam quase aos três milhões de euros, sendo que uns meses antes estavam “só” em 250.000 euros – sendo que nessa fase a família e os amigos próximos tentaram que procurasse ajuda para deixar de fazer apostas, algo a que não ligou mesmo sendo já um vício.

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“Apostava compulsivamente em frente à TV em qualquer evento desportivo que estivesse a ver, inclusive futebol… até Série B e Lega Pro”, admitiu, explicando que começou “com jogos de ténis e que passou depois para o futebol. “Num Torino-AC Milan, em outubro de 2022, apostei no empate ou na vitória no AC Milan mas perdi porque a vitória por para o Torino”, deu como exemplo no depoimento que prestou às autoridades. “Quando estava na Cremonese [por empréstimo, em 2021/22], a minha mãe aconselhou-me a procurar tratamento, fui lá algumas vezes mas ficou por aí. Tinha a ilusão que conseguia fazê-lo sozinho…”, acrescentou o médio de 22 anos, que é internacional Sub-21. Ainda assim, Fagioli garantiu que nunca aceitou fazer faltas ou ver cartões de forma propositada, “como chegou a ser proposto”, e que nunca fez qualquer tipo de apostas nos dois clubes que representou como sénior em Itália, a Juventus e a Cremonese”.

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“Pedi dinheiro emprestado a alguns companheiros de equipa. Ao [Federico] Gatti pedi 40.000 euros, disse-lhe que precisava de comprar um relógio e que as minhas contas tinham sido bloqueadas pela minha mãe. O [Radu] Dragusin emprestou-me também 40.000 euros. Comprei alguns Rolex valiosos em Milão, por transferência bancária. Às vezes eu mesmo entregava os relógios, noutras ocasiões os donos das plataformas vinham buscá-los às joalharias”, contou, numa altura em que via as dívidas aumentar a várias entidades e plataformas: “Cerca de 110.000 euros à betar.bet e à specialibet.bet, cerca de 1,5 milhões à plataforma ilegal bullbet23.com, cerca de 1,3 milhões a outra plataforma ilegal, cerca de 31.000 euros a um banco ilegal em Como…”. “Fui aumentando as minhas dívidas e cheguei a receber ameaças físicas como ‘Vou partir-te as pernas’… Pensei que só estava a jogar para pagar dívidas…”, frisou ainda o jogador transalpino.

Pensava vir a público pedir desculpa, não só aos adeptos da Juventus, mas a todos os adeptos de futebol e de desporto do mundo, pelo erro ingénuo que cometi. Em vez disso, sou obrigado a lidar com a porcaria que os jornais e as pessoas escrevem sobre mim. Só para me fazer parecer mal com mil falsidades. Ou apenas para obterem mais duas visualizações. Em breve falarei”, escreveu nas redes sociais o jogador, naquela que foi a primeira reação ao caso.

Entre esse testemunho, Fagioli confessou também que foi Sandro Tonali, internacional italiano do AC Mian que se mudou no último verão para o Newcastle a troco de mais de 70 milhões de euros, que lhe apresentou e incentivou a apostar num site ilegal de apostas. O médio, que estava convocado para a seleção por Luciano Spalletti mas acabou por ser dispensado a par de Zaniolo quando rebentou o caso, prestou depoimento na investigação que está a ser conduzida pela procuradoria de Turim e deverá também conhecer em breve a sanção, sendo que logo aí reconheceu o erro cometido e mostrou vontade de fazer terapia.

“Não houve má gestão. O pai diz que não tinha conhecimento de nada e aponta o dedo a quem cuida dos interesses do jogador. Alguns procuradores do Ministério Público falam da má gestão das agências multinacionais… A única coisa que posso dizer é que o nosso cliente teve estes problemas antes de assinar connosco, a Caa Stellar. Estávamos a aproximar-nos do verão e a primeira coisa que fizemos foi aconselhá-lo a assumir o problema que tinha e a fazer tratamento. Somos a maior agência do mundo mas a relação com os nossos clientes é próxima, contínua e pessoal. Nicolò sofre de ludopatia, um problema que surgiu quando não éramos agentes. Apesar disso, decidimos não deixá-lo sozinho. Por isso, ajudamo-lo de todas as formas. Tem tido um comportamento exemplar desde que assinou connosco”, destacou Marco Giordano, representante do jogador transalpino, numa entrevista ao La Repubblica.