Em condições normais, este seria apenas mais um jogo para fazer poupanças. Jogo da Taça do Rei da Arábia Saudita, jogo em casa, jogo entre Liga e Champions asiática. No entanto, seja pela vontade de ganhar todas as provas na presente temporada, seja pelo aumento da competitividade entre a maioria das equipas do país, Luís Castro não quis entrar em facilitismos e colocou frente ao Al-Ettifaq aquela que seria a equipa tipo para qualquer competição, incluindo não só Alex Telles, Laporte, Fofana, Brozovic, Sadio Mané e Talisca mas também o próprio Ronaldo. Ao mesmo tempo em que continuava a ser assunto principal na Europa no rescaldo da entrega da oitava Bola de Ouro a Lionel Messi, o português tinha um novo desafio pela frente.

Uma melhor relação com pugilistas do que com a baliza: Cristiano Ronaldo em branco na vitória do Al Nassr

O capitão da Seleção não passou ao lado de alguns comentários sobre o prémio do argentino, a começar pelos smiles que colocou numa publicação do jornalista Tomás Roncero nas redes sociais em que falava do número 10 como um jogador “já retirado há alguns meses em Miami” (ao mesmo tempo que defendia que tivesse só cinco Bolas de Ouro e não oito, descontando as dos anos de 2010, 2021 e 2023). Já o avançado argentino deixou sobretudo elogios a Ronaldo. “Sempre foi uma batalha, entre aspas. Em termos desportivos foi muito bom. Alimentámo-nos um do outro porque somos muito competitivos e ele também queria ganhar tudo em tudo. Foi uma era muito bonita para nós e para as pessoas que gostam de futebol. Aquilo que fizemos durante tanto tempo tem muito mérito. Como se costuma dizer, chegar é fácil, o difícil é manter-se lá. Nós mantivemo-nos lá em cima durante dez ou 15 anos e foi muito difícil”, destacou o esquerdino.

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Ainda assim, e como foi assumido pelo próprio Vincent Garcia, editor-chefe da France Football, o contexto onde o número 7 se encontra agora fez com que pela primeira vez nas últimas quase duas décadas tivesse ficado de fora do top 30. “A ausência de Ronaldo não foi, de todo, tema de discussão entre a comissão. Não brilhou no Mundial e joga numa Liga que tem visibilidade limitada. Ainda assim, continua a ser um grande jogador”, salientou o jornalista numa análise que olhava mais para a realidade saudita do que para os números. Aí, o português continuava a dominar. Aliás, numa estatística improvável tendo em conta os 38 anos, Ronaldo entrava em novembro como o jogador com mais golos em jogos oficiais no ano civil de 2023. E após ter ficado em branco com o Al-Fayha quebrando a série de sete golos em quatro partidas, o avançado tentava voltar ao papel de protagonista. Mesmo sem golos, teve. E num encontro que teve tudo para deixar por terra o Al Nassr, Sadio Mané acabou por dar a vitória ao conjunto da casa no prolongamento.

O encontro começou com o Al-Ettifaq a deixar dois cartões de apresentação ao Al Nassr de como chegava à eliminatória para deixar de fora um dos principais candidatos ao triunfo, com Nawaf Alaqidi a defender uma segunda bola de Mohamed Al Kuwaykibi na área (7′) antes de ter nova intervenção decisiva a um remate de Wijnaldum (9′). A ansiedade do conjunto de Riade era evidente numa partida sem margem de erro, tendo no próprio Cristiano Ronaldo um espelho disso mesmo com um cartão amarelo ao português por ter protestado de dedo em riste três vezes com o árbitro por uma falta (que existiu) à entrada da área (11′). Aos poucos esse ímpeto dos visitantes foi esmorecendo mas nem por isso as transições ofensivas foram deixando de sair, com Demarai Gray a aproveitar o mau posicionamento do guarda-redes do Al Nassr para fintar em velocidade e atirar para a baliza deserta antes do corte providencial do central Al-Amri (29′).

Aos poucos, o Al Nassr foi conseguindo controlar de outra forma a partida, tendo muito mais posse de bola e chegando de forma mais efetiva ao último terço do Al-Ettifaq. Brozovic, com um remate rasteiro de meia distância, deixou um primeiro aviso ao antigo guarda-redes do Marítimo Paulo Victor (34′) antes de Ronaldo ter a primeira oportunidade real de visar a baliza para nova defesa do brasileiro num lance que seria depois invalidado por fora de jogo (45′). Só nos descontos a pressão do conjunto da casa trouxe resultados práticos, sendo que aquilo que parecia ser um final de sonho tornou-se um pesadelo: Alex Telles cruzou largo na esquerda para o desvio de Talisca ao segundo poste para golo, o lance foi invalidado pela posição de Ronaldo na jogada (o passe era para o português, que estava a ser agarrado em falta e não conseguiu por isso chegar à bola) e o mesmo Talisca, de cabeça quente com o sucedido, acabou expulso aos 45+10′ por uma agressão sem bola que aqueceu ainda mais os ânimos e deixou Ronaldo a pedir substituição… do árbitro.

Apesar da vantagem numérica, o Al-Ettifaq de Steven Gerrard, que conta com jogadores como Wijnaldum, Jordan Henderson, Demarai Gray, Mousse Dembelé ou Robin Quaison (os dois últimos ausentes por lesão), não quis assumir riscos e foi controlando o empate sempre em busca de transições que pudessem fazer a diferença. Com isso, nem os visitantes criavam perigo, nem os visitados encontravam espaços, numa partida que via passar os minutos com um só remate de Sadio Mané para defesa de Paulo Victor (52′) antes de um livre lateral de Alex Telles que passou perto do poste (71′) e um cabeceamento de Al-Amri após cruzamento de Ronaldo ao lado (79′). A tensão era evidente, com Ronaldo a arriscar o segundo amarelo num lance com o central Jack Hendry que acabou com os adeptos do Al-Ettifaq a cantarem o nome de Messi, o português a mandar calar e os fãs do Al Nassr a gritarem o nome de Ronaldo. Mas o “caldo” ia entornar mais, com Ali Hazazi a ver vermelho direto (forçado…) por uma entrada sobre Otávio (89′) antes do prolongamento.

Ao contrário do que aconteceu na segunda parte, foi o Al-Ettifaq a começar melhor o tempo extra com duas boas oportunidades de marcar numa fase em que o desgaste físico era evidente nos dois conjuntos mas o Al Nassr voltou a assumir o controlo do encontro e chegou mesmo à vantagem no início do segundo tempo do prolongamento, com Sadio Mané a surgir nas costas de Ronaldo na área a desviar sem hipóteses um cruzamento da esquerda (107′). Num encontro que estava a ter de tudo um pouco, chegou o golo que deixou em delírio os adeptos da equipa de Riade e valeu a passagem aos quartos da Taça do Rei apesar de mais um remate que levou muito perigo de Ronaldo mas que foi defendido de novo por Paulo Victor.