O presidente da Área Metropolitana do Porto (AMP), Eduardo Vítor Rodrigues, referiu quinta-feira que “mesmo nas greves há limites”, mostrando-se “preocupado” com a situação nacional na saúde, sobretudo quando se aproximam épocas de grande pressão.
“A situação atual é muito preocupante. Este contexto de greve e de reclamação sindical está a pôr muita pressão nos serviços, numa altura em que os serviços mais são requisitados. O outono e o inverno são alturas muito complexas”, disse Eduardo Vítor Rodrigues, em declarações à agência Lusa.
Para o também presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, “tendo em conta a área em questão [referindo-se à saúde], seria importante pensar que, mesmo uma greve, uma greve por reivindicações justas, tem de ter limites”.
“Estamos perante uma negociação que percebo que não seja fácil de resolver de um dia para o outro. O Presidente da República disse que os profissionais, às vezes tendo muita razão, acabam por perdê-la com a forma como a tentam materializar (…). A greve não está a servir como reclamação, mas como pressão. Os médicos não esqueçam que, como todos nós, têm a sua responsabilidade de âmbito social e há limites”, disse.
Salvaguardando que “acredita que as reivindicações sejam justas”, Eduardo Vítor Rodrigues questionou se “as consequências não estão a ultrapassar já o limite do que deveria acontecer”.
O também autarca de Vila Nova de Gaia avançou que tem mantido contacto com o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, porque, acrescentou, “a preocupação é grande ainda que aqui [AMP] a capacidade de resposta esteja a corresponder”.
“Felizmente estamos numa área metropolitana que tem suficiente capacidade de resposta para que o assunto não seja dramático. Ainda na semana passada fechou a ginecologia e a obstetrícia de Santa Maria da Feira e os doentes drenaram para o Hospital de Gaia. O Santo António e o São João têm estado com boa capacidade, mas acho que é óbvio para toda a gente que a situação é difícil e não me parece que tenda a melhorar enquanto não evoluir o processo negocial”, concluiu.
Um total de 38 unidades hospitalares está com cerca de 90% dos seus serviços indisponíveis devido falta de médicos para assegurar as escalas, segundo os mais recentes dados divulgados quinta-feira pelo movimento “Médicos em Luta”.
Em declarações quarta-feira à agência Lusa, a porta-voz do movimento “Médicos em Luta”, Susana Costa, disse que a lista é praticamente atualizada todos os dias e as informações sobre o impacto nos hospitais são facultadas pelos médicos.
Segundo os dados dos “Médicos em Luta”, Garcia de Orta (Almada), Amadora —Sintra, Aveiro, Barcelos, Barreiro, Braga, Bragança, Castelo Branco, Caldas da Rainha e Torres Vedras, Coimbra, Leiria, Covilhã, Évora, Famalicão e Santo Tirso, Faro, Figueira da Foz, Vila Nova de Gaia, Guimarães, Guarda, Leiria, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Santa Maria (Lisboa), São Francisco Xavier (Lisboa), Beatriz Ângelo — Loures, Matosinhos, Penafiel, Portalegre e Elvas, Portimão, São João (Porto), Santo António (Porto), Póvoa de Varzim, Santa Maria da Feira, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo e Ponte de Lima, Vila Franca de Xira, Vila Real-Chaves-Lamego e Viseu serão os mais afetados.
Até ao momento, foram contabilizados 19 serviços em que 100% dos médicos pediram escusa, como — entre outros — os casos das unidades hospitalares de Santa Maria da Feira, em ortopedia, Viana do Castelo e Ponte de Lima, em cirurgia geral, Garcia de Orta, em Pediatria e Neurologia, Guimarães, em obstetrícia, e Barcelos e Caldas da Rainha, em cirurgia geral.
Também 25 de 55 agrupamentos de centros de saúde (ACES) estão a sentir os efeitos do protesto às horas extraordinárias.
Na zona Norte estarão a ser afetados 15 ACES, enquanto no Centro três e no Alentejo um. Em Lisboa, serão seis os ACES a sofrer com o impacto da falta de médicos.