O desenvolvimento de uma estratégia de base científica para enfrentar os incêndios na Europa no contexto das alterações climáticas foi defendida esta sexta-feira, em Coimbra, num encontro de especialistas de vários países.

“Procuramos de algum modo ultrapassar uma visão estreita do risco de incêndio”, afirmou o investigador Emílio Chuvieco, da Universidade de Alcalá, Espanha, ao abordar a perspetiva científica do projeto internacional FirEUrisk.

O investigador espanhol interveio, ao início da manhã, numa reunião de balanço do projeto, desenvolvido nos últimos três anos e coordenado por Domingos Xavier Viegas, professor catedrático jubilado da Universidade de Coimbra, em que foram apresentados os resultados aplicáveis à zona piloto de Portugal, que abrange os territórios das comunidades intermunicipais (CIM) de Coimbra e Leiria.

Para Emilio Chuvieco, que participou nos trabalhos por videoconferência, a gestão do risco de incêndio na atualidade e nas próximas décadas, “além da componente metodológica”, deve ter em conta “variáveis com importância”.

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O cientista preconizou uma “avaliação do risco global, abrangente e coerente”, para que possa ser “replicável em diferentes regiões” da Europa.

A equipa de investigadores do FirEUrisk “procurou cobrir o território continental europeu”, nos estudos realizados até agora e que ainda não terminaram, a partir de três “locais piloto”, um deles em Portugal e os restantes no centro e no norte da Europa.

Os trabalhos, segundo Emilio Chuvieco, têm prosseguido no âmbito de “três grandes áreas temáticas”, tendo em conta as “capacidades atuais” face ao risco de incêndio, designadamente ao nível da “avaliação, redução e adaptação”.

O FirEUrisk adota “uma abordagem holística para a gestão de incêndios rurais, abrangendo as instituições de proteção civil, os setores económico, político e a sociedade em geral”.

“Avaliamos a localização, a intensidade, a frequência e a probabilidade de incêndios”, bem como “o perigo de incêndio e a exposição e vulnerabilidade aos incêndios em diferentes áreas, os efeitos dos incêndios nas pessoas, propriedades, ecossistemas e meio ambiente”, afirmam os responsáveis numa apresentação do projeto.

No plano da redução, são estudados “os fatores que levam à ignição de fogos causados pelo homem”, sendo também desenvolvidas “ferramentas para prever como os incêndios extremos se comportam e se espalham”.

“Criamos cenários de como as mudanças no clima, na população e no uso do solo afetam as condições de risco de incêndio”, referem os investigadores, no capítulo da adaptação e quanto ao objetivo de “melhorar a prevenção e a preparação para incêndios, especialmente em áreas onde se tornarão mais regulares no futuro”.

Por sua vez, ao intervir na abertura dos trabalhos, que decorrem ao longo do dia no auditório da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), Anselmo Castro, vice-presidente deste organismo, salientou que o abandono dos terrenos e um “comportamento muitas vezes arriscado” estão na origem de grande parte dos fogos na região e em Portugal, o que nalguns casos tem sido potenciado por temperaturas elevadas.

“Estamos a aprender em termos de limpeza dos matos e dos terrenos junto às estradas”, congratulou-se o professor universitário, admitindo que “mudar o tipo de floresta que temos é algo mais difícil”.

Organizado pelo consórcio do projeto, o ‘workshop’ FirEUrisk — Demonstration Event é uma iniciativa coordenada pela Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI), liderada por Xavier Viegas, que interveio na sessão de boas-vindas.

Financiado pela União Europeia, o projeto tem um orçamento de 10 milhões de euros e envolve 38 entidades parceiras.