A filha de Donald Trump testemunhou esta quarta-feira num tribunal de Nova Iorque no processo de fraude civil contra o ex-Presidente norte-americano e que ameaça abalar o império imobiliário da família, bem como a Trump Organization.
Ivanka Trump é o quarto membro da família Trump a testemunhar no caso e esta quarta-feira foi questionada durante cinco horas sobre o património e negócios do pai, acusado de fraude por alegadamente ter exagerado a sua riqueza durante anos em declarações financeiras que foram dadas a bancos, seguradores e outros para ajudar a garantir empréstimos e negócios.
Enquanto algumas provas apresentadas em tribunal sugeriam que Ivanka Trump lidou diretamente com as declarações financeiras anuais do pai, a filha de Trump garantiu que não estava envolvida nessas questões. “Eu assumia que ele teria demonstrações financeiras pessoais. Isso não eram coisas que eu conhecia”, explicou durante a audição, segundo o New York Times.
Durante a sessão, Ivanka foi particularmente questionada sobre os empréstimos para financiar o campo de golfe Doral, na Florida, através do Deutsche Bank. Este é uma parte importante no caso apresentado pela procuradoria-geral de Nova Iorque, uma vez que os empréstimos requeriam que Donald Trump submetesse declarações financeiras anuais que a procuradoria alega terem sido falsificados para inflacionar a riqueza do antigo governante e assim obter melhores taxas de empréstimos. Também os filhos mais velhos do ex-Presidente — Donald Jr e Eric Trump — são acusados de participar conscientemente no esquema.
A filha de Trump foi também questionada sobre um e-mail de 2011 no qual reconhecia que a exigência do Deutsche Bank de que o seu pai mantivesse um património líquido de pelo menos 3 mil milhões de dólares era um problema, mas encorajou mesmo assim os responsáveis da empresa a aprová-la. “Queríamos obter uma taxa excelente e a única maneira de obter recursos/prazo e principal onde os queremos é garantindo o negócio”, escreveu a um advogado da Trump Organization.
Foi também confrontada com um outro email que recebeu do governo federal, que expressava preocupações sobre irregularidades nas declarações financeiras de Trump, numa altura em que a empresa se preparava para requalificar uma estação de correios histórica em Washington num hotel. Questionada sobre o assunto, Ivanka admitiu lembrar-se das discussões sobre a visão geral e a experiência da empresa, mas disse não se recordar das declarações financeiras anuais requeridas. “Não me recordo especificamente de nenhuma discussão sobre declarações financeiras”, afirmou, citada pela Associated Press.
“Há muitos emails, muitas conversas”, disse, num testemunho calmo e muito diferente da postura assumida pelo pai, ouvido em tribunal na segunda-feira. “Isto é uma caça às bruxas politicamente motivada”, chegou a acusar Donald Trump durante a sua audição.
Questionada sobre como se sente quanto ao trabalho que fez para o negócio de família, Ivanka Trump disse estar “incrivelmente orgulhosa”, acrescentando que foi necessário muito tempo, trabalho árduo e visão.
A filha do ex-Presidente começou por ser constituída ré no caso de fraude, mas um tribunal acabou por rejeitar o caso contra ela. Depois de ter sido dispensada, os advogados da defesa alegaram que não seria necessário testemunhar visto que se tinha mudado de Nova Iorque, deixando a sua posição de vice-presidente executiva na Trump Organization em 2017, mas o Ministério Público argumentou que a filha do arguido possuía informações relevantes para o caso.
“A Sr. Trump fará tudo o que poder para tentar separar-se da corporação, mas está inextricavelmente ligada à Trump Organization e às propriedades para as quais ajudou a garantir financiamento”, sublinhou ainda antes da audição a procuradora-geral de Nova Iorque, Letitia James.
A comparência de Ivanka Trump em tribunal esta quarta-feira marcou o fim de uma ronda de audições a 25 testemunhas.