O ex-Presidente norte-americano Donald Trump esteve, esta segunda-feira, num tribunal de Nova Iorque, para uma audiência histórica em que testemunhou no processo de fraude civil contra si e o grupo empresarial que lidera.

Num caso que ameaça abalar o império imobiliário da família, assim como a Trump Organization, o magnata republicano é acusado de fraude, por alegadamente ter inflacionado a sua riqueza durante anos com o intuito de obter empréstimos e seguros mais favoráveis para a família.

Ao longo de mais de quatro horas (com uma pausa de almoço pelo meio), o ex-Presidente e atual favorito à nomeação republicana para 2024 respondeu a uma série de questões relativas ao caso e ao seu envolvimento com os negócios da Trump Organization. O tom da sessão foi combativo, com Trump e a sua equipa de defesa a colocarem em causa a conduta e imparcialidade de Arthur Engoron, o juiz que preside ao caso.

“O que é que se está a passar aqui, como é que uma coisa destas pode acontecer?” disse o réu a certa altura, a propósito de uma questão sobre o valor da sua propriedade em Mar a Lago, ao mesmo tempo que endereçou criticas diretas à procuradora-geral de Nova Iorque, Letitia James. “Isto é uma caça às bruxas politicamente motivada e acho que ela devia ter vergonha”.

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As respostas de Trump, frequentemente longas e desenquadradas das perguntas, testaram por vezes a paciência do juiz, que pediu por diversas vezes que o arguido respondesse de forma concisa às questões. Desde o arranque, a sessão ficou marcada pelas repreensões do juiz, Arthur Engoron, a Trump por estar a usar respostas longas quando lhe foram pedidas reações curtas — “Isto não é um comício político“. Trump foi-se defendendo, como já havia feito até aqui, dizendo que este é um “julgamento muito injusto” e mostrando-se esperançoso de que “o público esteja a assistir”.

Engoron chegou a dirigir-se à equipa de advogados do magnata, pedindo-lhe que “controlasse” Trump, caso contrário seria forçado a dispensá-lo. “Não estou aqui para ouvir o que [Trump] tem para dizer. Estou aqui para o ouvir responder a perguntas”, disse.

A primeira parte desta frase acabou por servir de pretexto para a defesa caracterizar o processo como estando inquinado. “‘Não estou aqui para ouvir o que ele tem a dizer‘ — foi o que se ouviu, alto e bom som. Não podia ter sido mais honesto, vindo de um juíz que já decidiu que o meu cliente cometeu fraude antes sequer de entrarmos neste tribunal”, alegou Alina Habba, uma das advogadas de Trump, à porta do tribunal durante o intervalo.

Questionado durante os primeiros minutos do julgamento sobre as avaliações do seu imobiliário e se estava diretamente envolvido nessas análises, Trump disse considerar que há património sobrevalorizado, mas que também há património que está subvalorizado.

Há muito aguardado, o depoimento de Trump não é o único que promete captar as atenções. Já na próxima quarta-feira, também Ivanka Trump, filha do ex-presidente, vai ser testemunha no processo de fraude civil contra o pai, os irmãos Donald Jr e Eric e a empresa da família. A acusação fez saber, no final da sessão desta segunda-feira, que o depoimento de Ivanka dará por encerrada a sua intervenção no processo.

Depois de ter sido dispensada enquanto ré, os advogados da defesa alegaram que Ivanka não teria que testemunhar visto que se tinha mudado de Nova Iorque, deixando a sua posição de vice-presidente executiva na Trump Organization em 2017.

Contudo, o Ministério Público argumentou que a filha do arguido possui informações relevantes para o caso e o juiz, Arthur Engoron, deferiu o pedido, citando documentos que provam que Ivanka manteve laços com algumas empresas em Nova Iorque, bem como a posse de várias propriedades em Manhattan.

A ação judicial em causa foi movida pela procuradora-geral de Nova Iorque, Letitia James, que acusa o antigo Presidente de exagerar a sua riqueza durante anos, em declarações financeiras que foram dadas a bancos, seguradores e outros para ajudar a garantir empréstimos e negócios.

Já depois da sessão, Letitia James caracterizou a conduta de Trump e da sua equipa como “distrações”, acrescentando que “as provas documentais demonstram, factualmente, que falsificou os valores dos seus bens para se enriquecer a ele próprio e à sua família”.

Também os filhos mais velhos de Trump são acusados de participar conscientemente no esquema para empolar o património líquido do pai e obter benefícios financeiros, como melhores condições de empréstimos e apólices de seguro.

Donald Trump, que tenta regressar à Casa Branca em 2024 e lidera a corrida às primárias Republicanas, nega qualquer irregularidade e classificou o julgamento como uma farsa com motivação política.