17 anos depois do lançamento do último disco dos Outkast, André 3000 tem um novo álbum. New Blue Sun foi anunciado esta terça-feira pelo rapper, produtor e compositor de 48 anos, tem lançamento marcado para a próxima sexta-feira, 17 de novembro, e, à imagem do seu idiossincrático e reclusivo criador, trata-se de um projeto algo surpreendente: um álbum elaborado à base de instrumentos de sopro, muito longe das rimas e batidas da cena rap de Atlanta, que o notabilizaram — ou pelo menos assim é anunciado.
Inspirado no trabalho de músicos como Brian Eno, Alice Coltrane ou Pharoah Sanders, o álbum é, ainda que possa não parecer à primeira vista, uma progressão natural no percurso musical de André 3000. “Há muito tempo que me interesso pelos sopros, por isso era natural começar a experimentar com a flauta. (…) Gosto de experimentar com instrumentos, e acabei por gravitar mais para o sopro”, disse o rapper no anúncio do álbum, citado pelo New York Times.
Um dos maiores nomes do rap nas décadas de 1990 e 2000, André 3000 é permanentemente associado aos Outkast, a dupla de hip-hop que formou com o amigo Big Boi, em 1992, e que durante quinze anos se tornou um dos mais aclamados, originais e influentes grupos de rap da sua geração. Temas como Elevators (Me and You), Ms. Jackson, B.O.B. (Bombs Over Baghdad), Hey Ya e Roses são frequentemente citados como referências do género, e três dos seus álbuns — Aquemini (1998), Stankonia (2000) e o duplo Speakerboxxx/The Love Below (2003) — integraram a mais recente lista dos melhores discos de sempre para a revista Rolling Stone.
No entanto, fãs de longa data dos Outkast à espera de um regresso “aos velhos tempos” não o encontrarão em New Blue Sun. Com uma duração de 87 minutos, é descrito como um projeto “minimalista e experimental, tribal e transcendente”, com uma sonoridade a girar em torno da flauta e do clarinete. A voz de 3000 também não está presente — tratando-se de um instrumental de música ambiente, não tem quaisquer versos.
Além do próprio André 3000, o disco contará ainda com contribuições de músicos e instrumentalistas da cena de jazz alternativo de Los Angeles, como Nate Mercereau, Surya Botofasina e Carlos Niño, que co-produz o álbum com o rapper.
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O lançamento do álbum marca o regresso de André 3000, não só à produção musical mas também, de algum modo, à vida pública. Durante vários anos, pós-Outkast, as suas aparições foram escassas, atendendo em parte à ansiedade de que o próprio revelou no passado sofrer. Por entre as ocasionais presenças em músicas de artistas como Beyoncé, Jay-Z, B.o.B ou Gorillaz, viralizava amiúde de cada vez que era gravado nas ruas de Los Angeles — precisamente, a tocar flauta. “Uma pessoa uma vez viu-me na rua e disse-me que era quase um jogo, em que o pessoal estava a tentar encontrar-me e a filmar-me a tocar flauta, uma espécie de Onde Está o Wally?“, disse à rádio norte-americana NPR.
O novo disco, explica, acaba por funcionar como um reflexo da idade e da passagem dos anos, bem como uma evolução das origens no hip-hop. “Quando via os meus heróis envelhecerem, percebi que o ritmo envelhece de algum modo, que as cordas vocais envelhecem. Por isso sempre procurei uma forma de continuar (…) que não datasse. Quando se ouve um instrumental, às vezes não se sabe a idade de quem está a tocar. De algum modo adoro isso”, explicou.
O resultado dessa exploração, New Blue Sun ficará disponível para ouvir nas plataformas digitais dentro de poucos dias. Consciente da subversão de expectativas, o rapper diz ao que vem logo na primeira faixa, cujo título espelha bem o seu sentido de humor: Juro que queria fazer um álbum de rap, mas foi literalmente para aqui que o vento me soprou, traduzindo de forma livre as palavras do próprio.