As experiências foram apenas duas, nenhuma delas correu da melhor forma. Na última temporada, que era a segunda em que o Benfica participava na fase de grupos da Liga dos Campeões feminina (algo que nenhum outro clube português conseguiu), as encarnadas começaram por ser goleadas por claros 9-0 em Barcelona e perderam também no Seixal por 6-2. Afinal, falamos da formação que no final da época se sagraria campeã europeia e que no verão colocaria várias jogadoras no Mundial, em particular na seleção espanhola que iria conseguir o seu primeiro título. Agora, na terceira passagem consecutiva pela principal prova de clubes da Europa, quis o destino que as águias voltassem a jogar com as blaugrana logo a abrir. Havia alguma dúvida sobre o favoritismo do Barça? Não. Mas todos os anos o Benfica tem tentado encurtar esse fosso.

“Somos muito mais ambiciosas neste ano do que fomos na época passada. Mais crentes, mais corajosas e acreditamos muito mais. Também temos mais responsabilidade, que vem do que vamos conquistando com os resultados que fomos conseguindo no percurso que definimos. Não queremos ficar a ver a história, queremos fazer parte dela. Quando sofremos resultados menos positivos é que percebemos os aspetos onde podemos crescer. Não nos consideramos as melhores neste momento, mas acreditamos que somos potenciais vencedoras da Liga dos Campeões no futuro. Se vamos fazê-lo em dois, três ou cinco anos, elas é que o vão dizer”, assumiu Filipa Patão na antecâmara da terceira participação na fase de grupos da Champions, quarta na competição recuperando a temporada de 2020/21 em que o modelo passava apenas por eliminatórias.

“Existe um longo caminho a percorrer mas queremos apresentar desde já o crescimento que temos tido e as diferenças nesta fase de grupos da Liga dos Campeões. Temos a plena consciência de que o Barcelona é o detentor do título e provavelmente a equipa melhor colocada para ganhar outra vez mas no futebol não há créditos anteriores. Temos a ambição de chegar aos quartos de final e vamos fazer tudo para alcançar esse objetivo, que é um objetivo que o clube tem muito claro para esta época. 9-0? O último resultado que recordamos com o Barcelona não foi uma goleada [6-2 no Seixal]. Marcámos dois golos, falhámos dois penáltis e isto é que está presente nas nossas cabeças. Conseguimos estar mais perto e beliscar o campeão. Se conseguirmos fazê-lo com mais competência, seriedade e mais foco em cada detalhe do jogo, estaremos mais perto do objetivo”, acrescentou ainda a treinadora das encarnadas antes do jogo no Estádio Johan Cruyff.

Motivos para confiar não faltavam, até pelo percurso do Benfica até aqui com 12 vitórias e dois empates que depois se transformaram em triunfos no desempate por grandes penalidades (e que valeram a conquista da Supertaça). No entanto, pela frente estava um Barcelona que além de campeão em título registava uma série de 78 vitórias consecutivas a jogar em casa. De forma natural, chegou a 79.ª. E se é verdade que durante 40 minutos as encarnadas cumpriram esse “passo” pedido por Filipa Patão, a goleada tornou-se inevitável.

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Com Carole Costa no banco após um período de ausência por lesão, Filipa Patão apostou numa linha recuada a quatro com Laís Araújo a fazer dupla com Ana Seiça tendo Catarina Amado e Lúcia Alves como laterais, em três médias com características todo-o-terreno como Andreia Faria, Anna Gasper e Marie Alidou e Kika Nazareth no apoio pelo meio às avançadas Jéssica Silva e Andrea Falcón. E os primeiros minutos acabaram por confirmar esse discurso ambicioso da treinadora, com o Benfica a evitar qualquer tipo de sufoco junto da sua área entre tentativas de saída em transições e a ter até o primeiro remate enquadrado por Alidou para defesa de Cata Coll (12′). Ainda assim, e na primeira vez em que o Barça criou superioridade no último terço, chegou o primeiro golo: Carolina Hansen fletiu da direita para o meio, o remate ficou na área e Alexia Putellas desviou de cabeça mais alto do que Lúcia Alves sem hipóteses para Lena Pauels (15′).

Sem que tivesse jogado para isso mesmo sendo sempre melhor no controlo do jogo, o Barcelona estava em vantagem mas nem por isso o Benfica foi abaixo com esse golo consentido, continuando à procura de uma maior divisão do jogo e de situações em que chegasse com critério ao último terço. E foi isso que aconteceu nos 35 minutos iniciais, altura em que Brugts saltou mais alto ao segundo poste após um lance combinado na sequência de um canto para desviar de cabeça para o 2-0 que foi depois atribuído a Alexia Putellas por ter ainda empurrado a bola em cima da linha (39′). O intervalo estava perto mas essa foi a fase em que houve a tal quebra das encarnadas, aproveitada para Aitana Bonmatí fazer o 3-0 após passe de Hansen (44′).

A forma como o Benfica saía com três golos de desvantagem sem ter feito um encontro inferior aos que fizera na última temporada das catalãs era um peso demasiado grande nas ambições das encarnadas, que ainda tentaram mostrar a sua melhor face no início da segunda parte mas não conseguiram travar mais dois golos que acabaram em definitivo com uma história que nunca chegou propriamente a existir, com Bonmatí a bisar depois de mais uma assistência de Hansen (52′) e Oshoala a marcar com um pontapé acrobático na área acabada de entrar em campo após novo passe de Hansen (61′). Mesmo sabendo aquilo que tinha de fazer, o conjunto português não impediu mais um recital de futebol das catalãs, com uma variabilidade de jogo com bola como não existe em mais nenhuma formação europeia e que foi depois gerindo a vantagem.