Roberto Carlos tem mais três anos do que Gilberto Silva, quem os vê falar quase consegue imaginar ali dois irmãos mas onde o mais velho é na verdade o mais novo. Ambos ganharam a Taça das Confederação e a Copa América em momentos diferentes, têm em comum aquela que foi a última vitória do Brasil num Campeonato do Mundo em 2002. Nem precisam falar para mostrar com simples olhar a química que os liga, numa relação que quase dois “irmãos” em extremos opostos: o antigo lateral, que falou sempre em português durante o Web Summit, é a emoção; o ex-médio, que falou sempre em inglês durante o Web Summit, é a razão. Juntos foram a razão que levou muitos fãs a encherem o Sports Trade com alguma emoção à mistura.

Passemos o filme uns quantos minutos à frente. No final da apresentação da nova plataforma Striver, criada pelos jogadores para os fãs sendo a primeira que coloca de parte qualquer abuso nos comentários, dezenas e dezenas de pessoas aproximaram-se do local onde os convidados costumavam sair depois de passarem pelo palco. O tempo apertado para seguirem para a sala de conferências de imprensa não permitiu que satisfizesse todos os pedidos mas o antigo jogador do Real Madrid (entre outros) recebeu aquilo que antes tinha falado como o mais importante para os atletas: carinho. O carinho que muitas vezes passa a abuso e a ofensa.

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“A Striver é a primeira plataforma sem abusos porque consegue moderar todo o seu conteúdo antes de ser publicado, com uma taxa de eficácia superior a 99,98%. É um projeto que mostra aquilo em que acreditamos porque é importante mostrar às pessoas que queremos fazer a diferença. Não tem de ser apenas uma coisa com mensagens positivas mas não existe qualquer ideia ou discurso de ódio. Consideramos até que estamos a promover a liberdade de expressão porque o facto de ter comentários moderados faz com que o diálogo entre as pessoas melhore”, explicou o fundador e CEO da Striver, Tim Chase, que deixou ainda uma confidência sobre os encontros profissionais que teve esta terça-feira, dia em que passou pelo Web Summit. “Alargar o conceito a clubes? Sim, temos recetividade para isso. Estamos a falar com quatro ou cinco clubes da Premier League e ainda hoje tivemos uma reunião com um importante clube português”, contou antes de mais tarde assumir que pretende alargar o espectro a outros desportos e até outras realidades como a música.

“É muito bom um jogador interagir com o público. As redes sociais mexem muito com os jogadores, vemos muitas coisas que não são boas. As redes sociais devem ser um veículo para mostrarmos a carreira. Se for uma coisas limpa pode ser uma coisa boa mas tem de ser sempre pelo lado positivo porque sabemos que as reações muitas vezes dependem dos resultados”, referiu Roberto Carlos, antes de falar também dos casos de racismo que Vinícius Júnior tem sofrido em Espanha: “Já passei pela mesma situação em alguns estádios. Perante os insultos racistas, temos de ser muito inteligentes. Nós não podemos resolver nada, a FIFA, a UEFA e as organizações é que podem resolver. O racismo quando acontece tem de dar punição”.

Mais tarde, o antigo lateral que é hoje embaixador do Real Madrid (razão pela qual só falou nos momentos que estavam previamente combinados sem entrevistas à margem) fugiu um pouco ao foco da sua presença antes de voltar a abordar a questão dos abusos. “Nós só queremos que as pessoas vão a um estádio para se divertirem, não pode ser para saírem de casa stressados e com ódios, como alguém que passa, está assim e atira uma pedra. Estamos num mundo um pouco estranho mas está na hora de mudar, é uma questão de educação”, ressalvou, antes de falar da importância da liderança para a conquista do Mundial de 2002.

“Eu nunca fui um líder mas o balneário sempre me tratou com grande carinho, não só no Brasil mas no Real e em todos os clubes por onde passei. Sempre deixei a parte da liderança para o Giba [Gilberto Silva], para o Cafu e para o Dunga, isso sim são líderes. Fazemos uma caneta e eles ficam sempre sérios. Fui capitão do Real Madrid sem ter perfil para isso mas porque motivava o grupo, conseguia fazer família. Sozinho ninguém vai a lado nenhum e tivemos a sorte de reunir um grande grupo de jogadores, não só em 2002 mas noutros anos com Zinho, Mazinho, Sampaio e depois Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo. Existe um grupo de líderes e existem depois os meninos. Foi por isso que o Real e o Brasil ganharam tantos títulos. No futebol é tudo fácil: controlo, passe, controlo, passe, pôr a bola em quem sabe… O resto é que faz a diferença”, disse.

“Comparação entre o futebol moderno e o anterior? No nosso tempo nós conseguíamos influenciar o jogo e as pessoas pelo exemplo que conseguíamos dar, o dar tudo ao máximo em campo para deixar uma imagem boa para fora. Agora as coisas mudaram muito e os jogadores necessitam das plataformas para comunicar o que quiserem, antigamente tínhamos de vestir os nossos equipamentos para fazer publicidades… Tudo mudou e temos de adaptar-nos a essa mesma mudança. Digo sempre aos jogadores para usarem as redes sociais mas de uma forma positiva, até mesmo quando perdem. Não tem mal explicar que não se jogou bem porque não se joga sempre bem. Nem todos os dias acordo da mesma forma, é normal. O problema é que às vezes as pessoas não aceitam que nós somos apenas humanos, que também cometemos erros, que podemos ganhar ou perder mas que no final fizemos sempre o melhor”, destacou Gilberto Silva.