Cerca de um em cada 10 doentes internados em hospitais de agudos apresentavam uma infeção associada aos cuidados de saúde, segundo dados deste ano da Direção-Geral da Saúde (DGS), que apontam para um agravamento da situação.
Os dados foram apresentados por Ana Lebre, do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistências a Antimicrobianos (PPCIRA) da DGS, numa conferência de imprensa online a propósito do Dia Europeu do Antibiótico, assinalado sexta-feira.
Citando dados de um estudo promovido pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC, sigla em inglês), iniciado em 2011 e que se realiza a cada cinco anos, Ana Lebre afirmou que, em 2012, Portugal tinha quase o dobro da realidade das infeções a nível europeu, apresentando o valor mais elevado da Europa, com 10,8%.
“Em 2017 verificamos uma melhoria destes resultados, para 7,8%”, mas a fotografia realizada em maio [de 2023] mostra um novo agravamento, com cerca “de um em cada 10 doentes internados em hospitais de agudos” com uma infeção associada aos cuidados de saúde (IACS).
Ana Lebre ressalvou, contudo, que no último ano houve algumas diferenças metodológicas, que poderão explicar alguma da variação.
Segundo a especialista em doenças infecciosas, foram incluídas no estudo as infeções adquiridas em unidades de cuidados continuados e em lares, que são cerca de 10%, e infeção pela Covid-19 que “tem uns expressivos 5,7% que poderão de alguma forma influenciar aquilo que parece ser este aumento de 27% entre 2017 e 2023”.
Adiantou que os quatro tipos de infeção hospitalar — pneumonias, infeções respiratórias baixas, infeções urinárias e as infeções associadas a cirurgias — são responsáveis por cerca de três quartos do total das IACS.
A especialista salientou que estas infeções acarretam “uma importante morbimortalidade, importantes custos e uma importante mortalidade, e podem ser largamente evitadas”, o que, defendeu, “deve tentar fazer-se a todo o custo”.
Na conferência foram também divulgados pelo vice-presidente da autoridade nacional do medicamento (Infarmed), Carlos Lima Alves, os dados sobe o consumo de antibióticos em meio hospitalar e em ambulatório entre 2013 e 2023.
Os dados mostram uma tendência crescente do consumo global de antibióticos (ambulatório e meio hospitalar) de 2013 a 2019, ano pré-pandemia.
A pandemia acarretou “uma diminuição abrupta do consumo”, em 2021, causada fundamentalmente pelo consumo em ambulatório, devido a uma redução das infeções da comunidade e “até de alguma atividade na área da saúde”, salientou.
Em 2022, observou-se “um aumento súbito e muito expressivo” do consumo global de antibióticos, comum a todos os países da Europa.
Os dados que existem para este ano, até setembro, indicam “uma ligeira desaceleração deste crescimento”, que corresponde ao que está a acontecer fundamentalmente em ambulatório, adiantou Carlos Lima Alves.
Analisando especificamente o consumo de antibióticos na comunidade, verifica-se também uma tendência crescente de 2013 a 2020.
Neste momento, avançou o responsável, os dados apontam para um valor muito semelhante àquilo que acontecia no período pré-pandémico, em 2019.
Analisando a realidade do consumo de antimicrobianos nos hospitais, os dados mostram que até 2019 “a evolução é relativamente pequena”.
“Com a pandemia não só aumenta imediatamente o consumo de antimicrobianos em meio hospitalar, como este crescimento se mantém sustentadamente durante o período pós-fase aguda da pandemia” em 2022 e também em 2023, salientou.
O subdiretor-geral da Saúde, André Peralta Santos, salientou, por seu turno, a importância de alertar para estes tema, “que é uma das três grandes ameaças à saúde identificadas no contexto europeu”.
As estimativas apontam que mais de 35.000 pessoas morram por ano na Europa devido à resistências aos antimicrobianos, um número que terá tendência a aumentar com as alterações climáticas, realçou.