A jogadora transgénero Francesca Needham viu-se obrigada a sair de campo “nos próximos tempos”, após, pelo menos, quatro equipas da liga de futebol feminino de Sheffield, em Inglaterra, se terem recusado a jogar contra ela. Ao nomear as razões, ratificaram que não se tratava de um “caso de discriminação”, mas apenas uma “questão de segurança”.
Com 31 anos, a britânica do clube Rossington Main Ladies começou a ser escrutinada e criticada pelo público e pelos adversários após ter lesionado outra jogadora, partindo-lhe um joelho, na sequência de um bloqueio. Tal levou a que as outras equipas ficassem “assustadas” de jogar com alguém “tão forte” em campo, tendo resultado no cancelamento de duas partidas e na ameaça de acontecer o mesmo em outros jogos.
“Esta infeliz circunstância levou-me a pensar na possibilidade de seguir com um caso de discriminação, pois considero que representa uma violação do código de conduta relativo à diversidade e à inclusão, bem como à proteção dos adultos no futebol, estabelecido tanto pela Federação de Futebol como pela Sheffield and Hallamshire Women and Girls League”, escreveu a jogadora, num comunicado publicado na conta oficial de Facebook do clube, citado pela Sky News.
Por conseguinte, no melhor interesse do meu clube e das minhas companheiros de equipa que me apoiam e que estão ao meu lado, tomei a decisão de deixar de jogar futebol nos próximos tempos”, confessou.
Needham garantiu, contudo, que esta foi uma decisão que não queria tomar e que foi ainda mais “desanimador reconhecer que esta situação contradiz tudo o que está previsto nas políticas de diversidade e inclusão”. “Cumpri diligentemente todos os requisitos estabelecidos pela Federação de Futebol para poder jogar”, assegurou.
“Espero sinceramente que esta questão da discriminação de que sou alvo possa ser resolvida de forma pacífica e rápida, com o apoio total da Federação de Futebol e das políticas que redigiram e aprovaram”.
Apesar de não ter os adversários do seu lado, o clube não deixou de a apoiar, divulgando também um comunicado a “deixar claro que o clube aderiu meticulosamente ao Acordo de Igualdade Diversidade e Inclusão, conforme descrito pela Federação de Futebol”.
“Como comunidade formativa e como clube credenciado na Federação é nosso dever promover um ambiente inclusivo para todos os indivíduos e respeitar as regras e linhas orientadoras da Federação”, continuou, pedindo ainda que o problema fosse resolvido “rapidamente”. E é isso que parece estar a acontecer.
À Sky News, a federação disse que já está “trabalhar com a Sheffield & Hallamshire County FA para encontrar uma solução”. “Esta questão é complexa e está em constante evolução e, tal como muitos outros organismos nacionais que regem o desporto, estamos atualmente a rever a nossa política de transgénero para o futebol inglês, a fim de garantir que é inclusiva, justa e segura para todos”.
À partida, as leis da federação dizem que a “identidade de género não deve ser uma barreira à participação no futebol”. No entanto, são precisos diversos “requisitos”, como indicado por Needham e pelo seu clube, para que os jogadores sejam selecionados.
Desta forma, todas as jogadoras com mais de 16 anos que tenham nascido com o sexo masculino e que queiram competir no futebol feminino têm de apresentar anualmente testes aos níveis de testosterona no sangue. E Needham não era a única a fazê-lo, havendo, pelo menos, mais 50 jogadoras transgénero na liga. O que pode tornar-se um perigo para as colegas, segundo os argumentos das equipas que se posicionaram contra a mais recente baixa da Rossington Main Ladies.
“Há muitas raparigas de 16 anos na nossa liga que estão a entrar no futebol pela primeira vez. É uma grande preocupação e praticamente todas as equipas da liga tomaram a decisão de se manterem unidas e de não jogarem contra Rossington por razões de segurança. Francesca está a alegar discriminação, mas não é esse o caso. Trata-se apenas de uma questão de segurança. Já disse às minhas jogadoras: ‘Não vamos jogar contra eles. Prefiro deitar fora os pontos‘”, disse, na altura, uma fonte de uma das equipas ao The Telegraph.
“As pessoas dizem: ‘São apenas alguns jogadores trans, que diferença faz?’. Bem, aqui está um jogador masculino numa equipa que afeta todas as outras da liga. São mais de 150 mulheres”, começou por dizer Fiona McAnena, diretora desportiva da associação Fair Play for Women.
“Elas não querem jogar se for injusto, se estiverem preocupadas com lesões e algumas até falam em desistir do futebol se continuar assim. Há 50 jogadores do sexo masculino aprovados pela Federação e esses são os únicos que eles conhecem. Isto afetará milhares de mulheres e raparigas no futebol”, argumentou.