Um ano depois de ter começado a testar a semana de trabalho de quatro dias, a 360imprimir fala em resultados “bastantes positivos” da experiência: a taxa de absentismo caiu em 50%, a retenção de trabalhadores aumentou e a maioria das chefias diz não ter notado uma quebra no desempenho das equipas. A produtividade por hora, porém, caiu ligeiramente (1,3%), um número que a empresa interpreta como uma estabilidade do indicador.

A empresa de personalização de produtos já tinha feito uma primeira avaliação sobre os três meses iniciais, em que disse que iria manter debaixo de olho alguns indicadores, como as ausências — que na altura até tinham subido —, a quebra do volume de trabalho ou o facto de 13% dos trabalhadores e 36% das chefias terem indicado, na altura, que ainda não estavam a conseguir usufruir do dia extra de folga na totalidade.

Empresa 360imprimir adapta-se à semana de 4 dias: para as chefias está a ser mais difícil usufruir do dia extra do que para os trabalhadores

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Um ano depois, os números estão diferentes. Uma das alterações mais expressivas foi nas ausências: a taxa de absentismo caiu para metade, de 0,43% para 0,22%. “A redução do número de faltas é uma expectativa necessária para o funcionamento da semana mais curta, pelo que este resultado é crucial”, nota a empresa.

Já a produtividade por hora registou uma quebra ligeira de 1,3% em média, no último ano, face ao trimestre anterior à implementação da semana de quatro dias. “O output médio por colaborador reduziu proporcionalmente à redução de horas de trabalho por semana”, refere o comunicado. Para a empresa, “os dados indicam que os níveis de produtividade por hora se mantiveram estáveis”. Um dos argumentos dos defensores da semana de quatro dias de trabalho é que, com a necessária adaptação dos processos de trabalho, é possível concentrar o mesmo volume de trabalho, ou até mais, em menos dias e horas de trabalho.

Para Sofia Patrão Alves, responsável pelos recursos humanos da empresa, a redução das horas trabalhadas foi “mais do que compensada pelo elevado impacto na atração e retenção de talento, pelo efeito positivo na esfera pessoal das nossas pessoas e também pelas consequências positivas a nível social e ambiental”.

Por outro lado, de acordo com informação partilhada com o Observador, 18% dos trabalhadores dizem que não conseguem usufruir sempre do dia extra, uma subida face aos números do primeiro trimestre da experiência (13%). Mas este indicador melhorou no caso das chefias: 24% não conseguem tirar sempre o dia off, menos do que os 36% do primeiro relatório. Ainda assim, os dados continuam a mostrar que implementar a semana de quatro dias continua a ser mais difícil para as chefias.

Em outubro do ano passado, a 360imprimir implementou um modelo das 36 horas de trabalho semanal, divididas por quatro dias por semana (nove horas diárias). A maioria dos trabalhadores abrangidos (78%) têm o dia extra de descanso fixo e 22% (das áreas operacionais e atendimento ao cliente) vão alternando para garantir que há sempre alguém disponível. A ideia é que o  projeto piloto — implementado de forma de forma independente ao projeto que o Governo está a ajudar a aplicar no privado — dure mais um ano. Após esse período, consoante a análise que for feita, o modelo pode vir a ser implementado em definitivo.

Menos reuniões, mais partilha de informação

A empresa diz que as equipas têm conseguido adaptar a forma como trabalham à semana de quatro dias. Entre as medidas adotadas estiveram reuniões diárias de “kick-off” de 15 minutos, para organização do trabalho diário da equipa, a redução do número de reuniões semanais, a reorganização e distribuição de tarefas pelos membros, assim como a partilha de informação “constante”.

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A maioria das chefias estão satisfeitas com o modelo: 92% dos chefes disseram estar agradados (muito ou parcialmente) com o desempenho da equipa, mais quatro pontos percentuais face aos dados do primeiro trimestre da experiência. Já 79% acreditam (muito ou parcialmente) que as equipas estão tão produtivas como antes, mais nove pontos percentuais.

“Comparativamente à análise publicada com os dados do primeiro trimestre, verifica-se que a perceção das chefias sobe a produtividade das equipas aumentou, o que reflete o sucesso das medidas de adaptação implementadas”, indica a empresa.

Na atratividade da empresa, a 360imprimir também notou melhorias. O número de candidaturas recebidas foi quase oito vezes superior ao período com regime de cinco dias de trabalho semanal e a taxa de saídas da empresa recuou 43%, “no contexto atual da indústria tecnológica caracterizado por intensa competição por talento”. O número de trabalhadores subiu 28% (mais 220 pessoas).

Em comunicado, a empresa revela que cumpriu os objetivos “nas três principais áreas de impacto: bem-estar e satisfação dos colaboradores; atração e retenção de talento; e sustentabilidade do negócio.

Como é que as pessoas ocupam o dia extra?

Os efeitos parecem, também, ter-se estendido à partilha de tarefas em casa: 64% dos homens “passaram a participar mais nas tarefas domésticas” e 71% passaram mais tempo a cuidar dos filhos, acima dos valores registados para as mulheres (47% e 58%, respetivamente).

Segundo a empresa, os trabalhadores estão a usar o dia extra para “tratar de assuntos pessoais apenas possíveis durante a semana” (70%), a dedicar tempo à família e amigos (45%), a organizar e a arrumar a casa (41%), a descansar (40%), em atividades culturais ou de lazer, como ir ao cinema ou ao teatro ou viajar (35%), a praticar exercício físico (29%), a atividades de desenvolvimento pessoal, como workshops ou estudos (18%) e em idas ao cabeleireiro, esteticista, barbeiro e manicure (10%).

Os novos resultados revelam ainda que, no primeiro ano de implementação, 98% dos trabalhadores indicaram conseguir um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e 45% passaram a praticar mais exercício físico e viram a qualidade do sono melhorar. Os níveis de stress, fadiga e ansiedade desceram 21%.

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Além disso, os trabalhadores pouparam, em média, uma hora e sete minutos nas deslocações diárias para o emprego, o que a empresa calcula que se tenha traduzido numa redução das emissões de dióxido de carbono em “aproximadamente 733 kg por dia”.

Já um indicador que evoluiu de forma contrária às expectativas foi o número de trabalhadores que se mudaram para fora das grandes cidades devido ao modelo de trabalho dos quatro dias: apenas 38% o fizeram.