A União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) apelou esta terça-feira à sociedade para que denuncie os casos de violência doméstica e homenageou de forma “solene e simbólica” as 25 mulheres assassinadas em Portugal desde janeiro.
A forma escolhida para homenagear as 25 vítimas foi uma t-shirt por cada vítima pendurada numa cruzeta onde se lê o nome, a idade, a forma como foi assassinada e o local. As t-shirts são roxas e há uma amarela, pela vítima mais jovem, ainda criança de apenas 7 anos, que foi morta pelo avô, e estão espalhadas num local de exposições e num café do Porto.
Em Portugal, entre janeiro e 15 de novembro de 2023, foram assassinadas 25 mulheres com idades entre os 7 e os 92 anos, 15 daqueles crimes foram femicídios (mortes intencionais de mulheres relacionadas com questões de género).
“Apelo que denunciem as situações de violência quando se apercebem que estão a acontecer ou quando sabem que existem. Não tenham receio, a denúncia pode ser anónima, não compactuem com a violência”, foi o apelo da coordenadora do Centro de Atendimento para Vitimas de Violência Doméstica, no Porto, da UMAR, Ilda Afonso, em declarações à margem daquela homenagem.
Ilda Afonso explicou que a “maior parte das vezes o que [as pessoas que assistem a episódios de violência doméstica] fazem é fingir que não estão a ver”, comportamento que, defendeu, “que se mudar, tem que se mostrar censura a essa violência”.
“Sabemos que é um processo contínuo, não começa naquele dia, não começa no dia em que a mulher foi assassinada e se houver denuncia, para já a vítima sente que alguém se preocupa com ela, o agressor sabe que é censurado pelo seu comportamento e as autoridades tem conhecimento e podem agir”, explicou aquela dirigente da UMAR.
Segundo salientou “denunciar pode evitar mortes”.
Para aquela dirigente da UMAR, “o problema não está na legislação” mas na forma como esta é aplicada: “A violência doméstica é um crime público e temos dado grandes passos em termos de legislação, como o estatuto de vítima para crianças em situações em que há violência doméstica contra os progenitores. A questão não é a lei, é a aplicação, a forma como o sistema judicial aplica essa lei”, disse.
Das 25 mulheres assassinadas até 15 de novembro, 15 foram mortas em relações de intimidade, quatro foram assassinadas em contexto familiar, duas num contexto doutro crime, uma durante uma discussão pontual e três em contexto omisso.
Angelina Oliveira, Carla Dias, Carla Fonseca, Clara Rios, Cláudia Silva, Conceição Ferreira, Délia Gouveia, Dulce Oliveira, Farana Sadrudin, Gertrudes Costa, Isaltina Gomes, Janedi Borgwardt, Joana Nascimento, Lara, Lara Pereira, Lucinda Carvalho, Margarida Silva, Maria Alice Furriela, Maria Antunes, Mariana Jadaugy, Mónica Silva, Núria, Piedade do Patrocínio, Rita Cipriano, e Soraia Alexandra foram os 25 nomes escritos nas 25 t-shirts expostas e esta terça-feira recordados.
Os assassinatos registados foram 25, mas além destes crimes houve, entre janeiro e 15 de novembro, 38 tentativas de assassinato de mulheres, 25 deles em contexto de femicídio.