Cento e dezanove. O número é o passaporte da Arábia Saudita para mais um feito: a capital do país do Médio Oriente vai receber a Exposição Universal de 2030. Os concorrentes diretos, Busan (Coreia do Sul) e Roma (Itália), tiveram 29 e 17 votos, respetivamente, o que tornou Riade o destino da Expo 2030 ao conquistar 119 votos, mais de dois terços dos 165 totais.
O Bureau International des Expositions (BIE) anunciou, esta terça-feira, que a capital da Arábia Saudita será palco do evento e a notícia foi em festa: desde a comemoração no momento do anúncio aos longos minutos de um espetáculo de luzes e fogo de artifício.
“Estamos imensamente orgulhosos com este resultado. É uma expressão da confiança da comunidade internacional naquilo que temos para oferecer e estamos empenhados em corresponder às expectativas “, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Faisal bin Farhan al-Saud, logo após o anúncio.
Tonight, Riyadh's sky is full of celebration lights for the historic achievement announced by HRH the Crown Prince and Prime Minister, on Riyadh's victory to host the World Expo in 2030, following a successful candidacy bid led by @RCRCSA. ????????#RiyadhTheWorldsChoice… pic.twitter.com/49xdURrUVi
— Riyadh Expo 2030 الرياض إكسبو (@Riyadh_Expo2030) November 29, 2023
E, em várias línguas, na rede social X (antigo Twitter), a página que serve a Expo 2030 deixou um vídeo apenas com uma mensagem: “Bem-vindo, mundo.”
بلغاتٍ متعددةٍ.. وبرسالةٍ واحدةٍ بألسنةٍ تلهجُ ترحابًا؛ مرحبًا بكم في #الرياض_إكسبو2030! ????????#الرياض_اختيار_العالم
Echoing a unified message in diverse languages and warm hospitality; welcome to #RiyadhExpo2030! ????????#RiyadhTheWorldsChoice pic.twitter.com/dz340sN8dm
— Riyadh Expo 2030 الرياض إكسبو (@Riyadh_Expo2030) November 28, 2023
O príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, afirmou que a Exposição Mundial de 2030 “não terá precedentes na história” e oferecerá soluções “para os desafios” que o planeta enfrenta. “Pretendemos apresentar uma versão excecional e sem precedentes na história da realização deste fórum global com os mais altos níveis de inovação”, disse bin Salman num comunicado divulgado pela agência noticiosa oficial saudita SPA.
Bin Salman defendeu que a edição de 2030 da Expo proporcionará “uma plataforma global que tira partido das últimas tecnologias […] com o objetivo de investir de forma otimizada nas oportunidades e oferecer soluções para os desafios” que o planeta enfrenta atualmente.
O príncipe herdeiro saudita salientou que a realização da Expo em Riade coincidirá com a implementação da Visão 2030 do reino árabe, um plano governamental para diversificar a economia saudita, fortemente dependente do petróleo, e posicionar o reino no auge da inovação com a construção de projetos de grandes dimensões.
O lobby e os apelos para que Riade não vencesse
“A Arábia Saudita ganhou a Expo2030 de forma decisiva”, afirmou Dimitri Kerkentzes, secretário-geral do BIE, felicitando Riade pela sua “vitória incrível”. “Esta exposição será o catalisador para a transformação” do reino, afirmou na conferência de imprensa que se seguiu à votação.
As três cidades candidatas apresentaram projetos ecológicos e de alta tecnologia na sua candidatura à Expo, um evento que atrai milhões de visitantes, e lançaram intensas campanhas de lobbying nos últimos meses. A candidatura saudita apresenta “paisagens naturais de classe mundial” e “a primeira exposição de carbono negativo”, num país árido, um dos principais produtores de petróleo do mundo e um dos maiores emissores ‘per capita’ de gases com efeito de estufa. No entanto, a exposição foi alvo de críticas generalizadas.
Há precisamente uma semana, 15 organizações não-governamentais de defesa dos direitos humanos apelaram ao BIE para que “não votasse” em Riade devido ao seu historial “terrível” em matéria de direitos humanos.
Antes da votação, e em declarações à AFP, o embaixador Giampiero Massolo, presidente do Comité Promotor de Roma2030, criticou a “deriva mercantilista dos outros candidatos”, que prometiam “um elevado volume de investimentos, privados ou públicos, para assegurar uma grande parte dos votos”.
Para o sociólogo Patrick le Galès, diretor de investigação do CNRS, o centro francês de investigação científica, este tipo de eventos serve sobretudo para “valorizar o estatuto das elites no local”.
Um caminho com mais uma conquista
A Arábia Saudita tem-se tentado afirmar com recurso essencialmente ao desporto, mas nos últimos anos são várias as conquistas em vários âmbitos. O país é acusado de sportswashing, ou seja, de promover ou limpar a própria reputação, especialmente quando envolta em controvérsia ou escândalo”.
O auge foi atingido com a transferência de Cristiano Ronaldo para o Al Nassr, mas o processo começou pelo golfe, em 2019, quando a Golf Saudi, uma divisão do Fundo Público de Investimento da Arábia Saudita, anunciou a intenção de fundar um novo circuito internacional de golfe para competir com o histórico e estabelecido PGA Tour, que existe desde os anos 70. Foi criado o LIV Golf, que conseguiu atrair verdadeiros campeões da modalidade e ameaçava continuar a desviar os principais golfistas através de prémios milionários e quantias que em nada poderiam ser comparadas às do PGA Tour.
No futebol, os primeiros passos começaram com acordos publicitários, seguindo-se a organização de eventos europeus, como a Supertaça de Espanha e Itália, levando muitos adeptos espanhóis e italianos até Riade. E prosseguiu com a aquisição do Newcastle.
Não conseguiu uma vitória para organizar o Mundial 2030, numa candidatura conjunta com Grécia e Egipto que foi batida por aquela que inclui Portugal, mas já sabe que vai organizar a competição em 2034. Ao mesmo tempo, o país continua empenhado em aplicar aquela que é chamada de “Visão 2030”, o grande plano económico que pretende reduzir a dependência do país do petróleo ao diversificar a economia, desenvolvendo setores públicos como a saúde, a educação, as infraestruturas e o turismo.
As exposições universais realizam-se de cinco em cinco anos e têm uma duração máxima de seis meses. Segundo Dimitri Kerkentzes, constituem uma oportunidade para o país escolhido “se mostrar ao mundo”, além de serem “um laboratório para os arquitetos”.
A título de exemplo, a Torre Eiffel foi construída em Paris para a Exposição Universal de 1889, tal como o Atomium e a Space Needle, estruturas simbólicas em Bruxelas e Seattle (EUA), para as exposições de 1958 e 1962, respetivamente.
Portugal foi anfitrião da exposição em 1998. A mais recente, em 2020, no Dubai, atraiu 24 milhões de visitantes. A de 2025 terá lugar em Osaka, no Japão.