“É uma situação que está dentro da nossa estratégia para chegar ao fim do ano com contas positivas, com capitais próprios positivos. Capitais próprios negativos? Não posso dizer agora o número exato, se não amanhã depois podia ser mentiroso… O que lhe digo é que capitais próprios e contas negativas que nós apresentámos foram calculadas para que em dezembro possam estar positivos ou perto disso, a nível de capitais próprios. Já falámos dos 60 milhões do Otávio, que só agora é que entraram. Se vendêssemos antes o Otávio, as contas estavam equilibradas. O nosso objetivo também é desportivo.

Temos planos e projetos, que até vão fazer entrar algum dinheiro considerável no FC Porto. Exemplos? Olhe, uma melhoria grande no Estádio do Dragão, em que uma empresa suporta isso e ainda nos vai entregar uma verba considerável. O naming não entra, vai beneficiar na rentabilização de espaços. Estamos a partir de uma base de cinco a seis milhões mas para algo a médio prazo. Em dezembro os capitais próprios vão estar, se não positivos, muito perto disso. O que me importa é que o Sérgio Conceição desde que veio tem dez títulos no Museu. Os sócios vão ao Museu vão ver as taças e não os capitais que são negativos. Isso é uma arma de arremesso. Estivemos em fair play financeiro e já não estamos. Pudemos apresentar este prejuízo em acordo com a UEFA porque eles sabem quais são os nossos planos até ao final do ano. Nós demos preferência ao aspeto desportivo. Naturalmente que está tudo controlado.”

“Os sócios vão ao Museu ver títulos, não vão consultar extratos”: a entrevista de Pinto da Costa (com AG, Sérgio, Villas-Boas e rivais)

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Na entrevista que deu à SIC, que teve como principal tema tudo o que se tinha passado na Assembleia Geral Extraordinária para votação das propostas de alterações estatutárias (entretanto “congeladas” com a decisão de cancelar o retomar dessa reunião), Pinto da Costa tentou também “esvaziar” aquele que tem sido o grande ponto crítico dos últimos anos da gestão à frente do clube ao deixar a garantia de que a questão dos capitais próprios negativos ficará resolvida ou perto disso. Já este fim de semana, Fernando Gomes, administrador da SAD, foi um pouco mais à frente na ideia dentro das cláusulas de confidencialidade existentes nos acordos que têm sido feitos, falando ao JN do impacto que o negócio com a Legends terá a nível de contas dos azuis e brancos e acrescentando ao Jogo que havia outro “peso-pesado” para reforçar essa vertente.

A um mês desse prazo estipulado não só em termos internos mas também pela própria UEFA, por causa da avaliação dos critérios do fair play financeiro para inscrição nas provas europeias, o que se sabe?

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No passado dia 16, que assinalava o 20.º aniversário do Estádio do Dragão (que ficará também na história por ser o palco onde Lionel Messi se estreou pelos seniores do Barcelona), o FC Porto celebrou um acordo com a empresa Legends para os próximos 15 anos pela exploração comercial do recinto. O que significa isso? Que a empresa fundada nos EUA em 2008 passava a ter os direitos sobre a venda de comida e bebida no interior do Dragão, a exploração das zonas VIP e dos camarotes empresa (uma fonte de receita que tem crescido a nível de números entre os três “grandes”) e a possibilidade de procurar novas oportunidades de receitas e parcerias que pudessem surgir neste segmento. Em paralelo, e dentro da mesma lógica, será a Legends a procurar possíveis investidores e patrocinadores para o naming do Estádio e do Dragão Arena.

O acordo global válido até 2038 não teve qualquer valor revelado (pelo menos até agora) mas irá render uma verba fixa de entrada e depois montantes variáveis consoante os rendimentos alcançados e que são divididos. Já em relação ao naming, que é um dossier à parte deste contrato, a base encontra-se nos cinco/seis milhões de euros de preço mínimo para o Estádio, sendo que além do Dragão e do Pavilhão haverá ainda uma nova Academia na Maia que poderá ter amortização imediata de investimento com o naming. A título de exemplo, com as devidas comparações à parte, o contrato celebrado entre a Legends e o Real Madrid no ano passado, para exploração comercial do renovado Santiago Bernabéu, colocou a Legends com 30% da sociedade que trabalha essa vertente no Estádio e os merengues com um encaixe de 360 milhões de euros.

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“Um devoto do FC Porto dizia que estávamos a sacrificar receitas futuras. Não é verdade. Ninguém ainda sabe… Há um acordo de confidencialidade com a empresa com quem estamos a negociar. Antes do final do ano informaremos os sócios, teremos de tomar deliberações também na administração, mas o que posso dizer nesta fase é que o FC Porto pode dar aqui um grande passo no sentido de melhorar a sua imagem, melhorar a presença dos sócios, a qualidade da presença no estádio, melhorando o seu estádio, melhorando as receitas, sem que isto signifique ir buscar receitas de amanhã. Trata-se de aumentar receitas e esse aumento das receitas é que é partilhado. Há um know how, uma rede internacional que nós não temos e essa é que é a mais valia”, tinha referido um mês antes do acordo Fernando Gomes, administrador da SAD. “O FC Porto está em negociações com uma empresa, vai fazer diminuir o capital próprio negativo, vai acontecer esta época. Vai diminuir bastante o capital próprio negativo”, acrescentou ainda o dirigente.

“No dia em que o Dragão cumpre 20 anos, continuamos na vanguarda como um dos estádios mais bonitos da Europa e com melhor ambiente. Esta parceria faz-nos olhar em frente, para o futuro, porque nos estamos a ligar a um grupo que se relaciona com os mais modernos estádios, como são o novo Santiago Bernabéu e o futuro Camp Nou, ou as mais importantes competições, como os Mundiais de futebol e de râguebi. Depois do relvado com tecnologia mais moderna, continuamos a apostar na modernização”, comentou Pinto da Costa no anúncio oficial do acordo. “O FC Porto tem adeptos apaixonados e a administração está sempre à procura da excelência. Estamos entusiasmados para esta colaboração, levando os nossos conhecimentos para criar experiências excecionais e trazer resultados comerciais sustentáveis, de modo a assegurar sucesso a longo prazo para o clube”, comentou também na ocasião Jesus Bueno, diretor geral da Legends-Iberia.

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E o que se sabe da Legends? A empresa norte-americana com 15 anos de vida foi criada pelos proprietários dos New York Yankees e dos Dallas Cowboys no sentido de colmatar algo que ainda não estava tão explorado a nível de fenómeno desportivo e que passava pela vertente comercial dos recintos. Rapidamente a Legends foi trabalhando com muitas outras modalidades também em solo europeu, não só no futebol (Real Madrid e Barcelona são acordos mais recentes, o Manchester City é um case study apresentado pela própria empresa como exemplo do que pode fazer) e no râguebi mas também no golfe. No entanto, houve um outro momento importante em 2021 que passou pela entrada da Sixth Street, fundo de investimento privado que conta com alguns dos quadros que saíram da Goldman Sachs, no capital social da Legends.

Quando anunciou o acordo milionário do renovado Santiago Bernabéu que terá a duração de 20 anos com os tais 360 milhões de encaixe fixo para o clube fora variáveis, o Real Madrid fez questão de separar ambas as marcas, falando de “um acordo com a Sixth Street, uma empresa de investimentos com vasta experiência no desporto e nas infraestruturas, e a Legends, uma empresa de experiências premium para organizações desportivas e de eventos ao vivo, com o objetivo de elevar o Santiago Bernabéu como local único e referência mundial em lazer e entretenimento (…) A Sixth Street, que administra mais de 60 mil milhões de dólares em ativos, traz ampla experiência em investimentos com empresas líderes no mundo do desporto e em setores como imobiliário, infraestruturas e consumo, como San Antonio Spurs, Airbnb e Spotify”.

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E o que tem a ver a Sixth Street com o FC Porto? É que além de ser a atual acionista maioritária da Legends, com quem os dragões assinaram o acordo de exploração comercial do Estádio, tudo aponta para que seja o tal “peso-pesado” que Fernando Gomes falou em entrevista ao jornal O Jogo para outro acordo.

“Queremos injetar uma nova vitamina na atividade económica do FC Porto, de maneira saudável, e isso vai acontecer por duas vias. Primeiro: apresentando resultados positivos no final do primeiro semestre, a 31 de dezembro. Salvo qualquer cataclismo, vamos ter resultados positivos. Depois: uma operação de grande envergadura com um parceiro internacional, dos maiores neste setor, que neste momento gere parcerias comerciais dos principais pavilhões da NBA, em estádios de basebol e também alguns dos maiores estádios em Inglaterra. A Legends é uma delas mas não é essa que está neste momento em causa. É uma empresa do mesmo universo, que tem outra finalidade. Um peso-pesado. Só que o FC Porto tem um acordo de confidencialidade assinado com eles até ao princípio do próximo ano, porque há um estudo de viabilidade económica que estamos a implementar em conjunto. Até estar totalmente feito, apresentado e publicado, não podemos dizer o nome da empresa”, explicou o administrador da SAD, ao que tudo indica da Sixth Street.

“Vai permitir fazer-nos uma parceria em toda a área comercial do FC Porto, tirando partido da utilização do estádio e da marca, em que eles entram com o seu grande know how internacional porque são pessoas do mundo e não só da Europa. A responsabilidade de gerir a Porto Comercial continuará a ser nossa mas eles entram minoritariamente. Para isso, fazem duas contribuições: o seu know how e partilham connosco a responsabilidade de gestão dessas áreas de publicidade, entrando com uma parte líquida que irá melhorar, com certeza, a situação financeira, os capitais próprios e, depois, o negócio em si, com a reavaliação desses valores. Tem um valor, admitido entre nós, mas que não posso revelar”, acrescentou.

Em termos práticos, e sem serem conhecidos valores e percentagens em causa, aquilo que estará então em causa são duas realidades paralelas com duas empresas que pertencem ao mesmo grupo. Por um lado, e com a Legends, já existe o acordo anunciado até 2038 para exploração comercial do Estádio do Dragão, tal como tem sido feito com vários parceiros de diversas modalidades; por outro, com a Sixth Street (ainda sem o seu nome confirmado), haverá um acordo mais no âmbito comercial que envolve a compra por parte do fundo de uma parte substancial mas minoritária da Porto Comercial um pouco à semelhança do que aconteceu por exemplo com a empresa que gere o Santiago Bernabéu do Real Madrid com as receitas a serem provavelmente partilhadas na mesma proporção mas com o pagamento de um fee pela percentagem da sociedade azul e branca que será também dinheiro “fresco” para equilibrar as contas de todo o grupo.