Foi demitido por falta de confiança e dias depois aceitou regressar ao cargo que tinha deixado vago. Esta quarta-feira, Sam Altman voltou a ser, oficialmente, CEO da OpenAI. O novo conselho de administração (que ainda não será o definitivo) — nomeado após o antigo se ter demitido na sequência de pressão de executivos — também assumiu formalmente o controlo, com a Microsoft, que detém 49% da empresa, a ocupar um lugar à mesa como observadora, sem direito de voto.

O novo conselho de administração (incompleto) é composto por três membros, que foram nomeados quando o regresso de Sam Altman foi conhecido: Bret Taylor, antigo CEO da Salesforce, Larry Summers, ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, e Adam D’Angelo, da plataforma Quora, que é o único integrante do quarteto que esteve envolvido no afastamento do CEO a voltar.

Bret Taylor, que assume para já a presidência do board, detalha, em comunicado divulgado pela OpenAI, que os objetivos para o futuro próximo passam por construir “um conselho de administração qualificado e diversificado”, composto por “indivíduos excecionais, cuja experiência coletiva represente a amplitude da missão” da empresa; estabilizar a tecnológica, incluindo através da “convocação de um comité independente do conselho de administração para supervisionar uma avaliação dos acontecimentos recentes”; e “melhorar os procedimentos de gestão” para que “todas as parcerias interessadas — utilizadores, clientes, funcionários, parceiros e membros da comunidade — possam confiar que a OpenAI continuará a prosperar”.

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Na rede social X, o antigo CEO da Salesforce mostra-se “entusiasmado” por trabalhar com os restantes membros do conselho de administração, com a liderança da OpenAI e os seus acionistas, sendo que reitera que o atual foco passa não só por estabilizar a empresa como “construir um conselho qualificado e diversificado”. Ainda assim, o seu papel será temporário: “Quando estas tarefas de transição estiverem concluídas, pretendo afastar-me e deixar a supervisão da OpenAI nas boas mãos dos colegas do conselho de administração.”

No comunicado que marca o regresso à posição de CEO, Sam Altman começa por afirmar que nunca esteve “tão entusiasmado com o futuro” como agora e diz estar “extremamente grato pelo trabalho árduo de todos numa situação pouco clara e sem precedentes”, sobre a qual “serão escritos livros”. O líder da OpenAI revela ainda que, durante a ‘novela’ da sua destituição e posterior regresso, a empresa não perdeu “um único funcionário”, nem nenhum cliente.

Altman acredita que a equipa, em especial aqueles que ocupam cargos elevados na hierarquia, como, por exemplo, Mira Murati, que é chief technology officer [que tem o pelouro da tecnologia], está “claramente pronta para gerir a empresa” sem a sua presença. “Dizem que uma forma de avaliar um CEO é escolher e treinar os seus potenciais sucessores. Estou sair-me bem melhor do que pensava. É claro para mim que esta empresa está em ótimas mãos e espero que isso seja claro para todos.”

Nas redes sociais, o empresário acrescenta que reconhece que podem ter sido “levantadas algumas questões sobre o potencial conflito de interesses de Adam [D’Angelo] em gerir a Quora e o Poe” enquanto fazia parte do conselho de administração da OpenAI, para onde agora regressa. “Para que fique registado, quero dizer que o Adam sempre foi muito claro comigo e com o board sobre o potencial conflito e que fez tudo o que era necessário” para gerir a situação. “A Quora é uma grande cliente da OpenAI e considerámos útil ter uma representação dos clientes no nosso conselho de administração”, remata.

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O alegado conflito de interesses está relacionado com o facto de o Poe, desenvolvido pela plataforma Quora, ser um chatbot com inteligência artificial, semelhante ao CustomGTP, da OpenAI. Na altura da demissão de Sam Altman chegaram até a surgir rumores de que Adam D’Angelo poderia ser o grande responsável por essa saída, algo que não foi confirmado por qualquer das partes.

Acerca da sua saída, Sam Altman admite que “é evidente que houve verdadeiros mal-entendidos” entre si e membros do antigo conselho de administração e acredita que é “importante aprender com esta experiência e aplicar esses ensinamentos à medida” que a empresa avança. Questionado em entrevista, pelo The Verge, acerca dos “mal-entendidos” a que se refere, afirma ainda não estar “preparado para falar sobre isso”. “Tenho todo o gosto em falar sobre tudo o que se refere ao futuro e imagino que haverá uma altura em que terei muito gosto em falar sobre o que aconteceu aqui, mas não agora”, acrescenta.

O CEO da OpenAI reconhece também que, quando foi contactado após a demissão, não aceitou regressar de imediato. Foram precisos alguns minutos para “ultrapassar o ego e as emoções para depois dizer: ‘Sim, claro que quero fazer isso”.

Ilya Sutskever, McCauley e Helen Toner estiveram envolvidas no afastamento de Sam Altman. Os três não fazem parte do novo conselho de administração, algo sobre o qual Toner falou nas suas redes sociais. “Para ser clara: a nossa decisão [de demitir Altman] foi sobre a capacidade do conselho de supervisionar eficazmente a empresa, que era o nosso papel e responsabilidade. Embora tenha havido especulação, não fomos motivados pelo desejo de desacelerar o trabalho da OpenAI”, escreveu, dizendo que foi uma “grande honra” fazer parte, de 2021 até agora, de uma “organização especial”.