A boa notícia é que frio vai embora. A má notícia é que vem aí de novo um rio atmosférico. O tempo muda de novo a partir desta quarta-feira à noite, já que Portugal voltará a estar sob a influência de uma frente que arrastará uma massa de vapor de água que vem das Caraíbas até à Europa, que trará chuva intensa e trovoada. O maior impacto será sobretudo no norte do país na quinta-feira de manhã e o IPMA já colocou oito distritos em alerta, três a laranja (Porto, Braga e Viana do Castelo) e cinco a amarelo (Leiria, Coimbra, Aveiro, Viseu e Vila Real).

É para já ainda impossível prever as quantidades de água que vão cair e os locais exatos onde isso acontecerá, mas as previsões dos modelos meteorológicos, em especial o ECMWF — citado pelo site especializado Meteored — aponta para precipitação abundante nos distritos sob alerta, nomeadamente no Minho, com acumulações entre 100 e 150 mm em Viana do Castelo, e de 50 e 100 mm em várias zonas de Braga, Porto, Vila Real, Aveiro, Viseu e Coimbra. No resto do país, nomeadamente no interior norte e centro e no Alentejo e Algarve também vai chover, ainda que sem o mesmo grau de intensidade.

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Porto, Braga e Viana do Castelo entram em aviso laranja logo às 3hoo da manhã até às 6h00, passando depois a amarelo até às 18h00. Os avisos amarelos estão ativos entre as 9h00 e as 18h00 para Coimbra, Aveiro, Viseu e Vila Real e entre as 12h00 e as 18h00 para Leiria.

Como tem chovido bastante, as terras estão muito saturadas, e não será de descartar avisos da Proteção Civil a alertar para inundações, cheias ou derrocadas. Daí que se fale em má notícia: não que a chuva seja má, Portugal ainda não saiu por completo da situação de seca, nem tem o armazenamento de água completo, mas a intensidade da chuva e os ciclos nem sempre têm sido benéficos.

[Já saiu: pode ouvir aqui o quinto episódio  da série em podcast “O Encantador de Ricos”, que conta a história de Pedro Caldeira e de como o maior corretor da Bolsa portuguesa seduziu a alta sociedade. Pode ainda ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui, o terceiro episódio aqui e o quarto episódio aqui.]

Mas antes que a chuva a sério chegue é melhor perceber porque é que ela chega e dizer que ela se prolongará ao longo de todo o fim de semana prolongado. Ou seja pelo feriado de sexta-feira, dia 8 (dia de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal, e antigo dia da mãe), até pelo menos domingo (as compras de Natal vão encher centros comerciais e entupir o trânsito) e provavelmente ao longo da próxima semana. Com a tal boa nova de que as temperaturas, máximas e mínimas, vão subir. E explicar que isto está tudo ligado.

Esta terça uma depressão a sudoeste de Sagres fez com que chovesse a sul. Depois, ao entrar pelo golfo de Cádiz, abriu caminho a que várias tempestades se pudessem aproximar da Península Ibérica. Pode não fazer sentido escrito assim, mas é tudo uma questão de ventos a arrastar mais ventos, que por sua vez arrastam humidade que se traduzirá em chuva: se se tentar visualizar, a pequena depressão, que seguirá na direção de Gibraltar, girando no sentido contrário aos ponteiros do relógio (como todas as depressões), deixou espaço à frente que vem das Caraíbas, carregada de ar subtropical, muito húmido e mais quente, e que por isso afastará o frio dos últimos dias. E o panorama vai manter-se.

Há ainda outro dado essencial. Como se não bastasse este caminho estar aberto, o jato polar — jet stream, a forte corrente de ventos que giram a cerca de 8 a 10 km de altitude a cerca de 800 km/h — está de novo muito ativo sobre a nossa latitude. E é ele que transporta os famosos comboios de tempestades e frentes, que não vão por isso parar de chegar nos próximos dias.

Há como que uma linha invisível desde o Minho e a Galiza (mais coisa menos coisa (pode baixar) numa diagonal até às Caraíbas (isto é mesmo uma imagem), que faz com que os ventos Norte batam numa barreira e as tempestades geladas também fiquem por ali e sigam para o norte da Europa. Enquanto a Península fica sujeita aos ventos que vêm do Sul/Sudoeste e das Caraíbas e aqueçam Portugal e Espanha.

As temperaturas máximas podem assim subir uma média de 5ºC (esta terça estiveram 12ºC em Lisboa, estão previstos 19ºC para sábado e 18ºC de domingo a terça), e as mínimas 3 a 4ºC (voltando ao exemplo da capital e desta terça-feira, passaremos de 8ºC para 12/13ºC). Mas serão vários os distritos do país que podem rondar os 19/20ºC durante o dia, muito acima do normal para esta época do ano, como Setúbal, Évora, Beja, Leiria, Santarém ou Faro.

artigo atualizado com os novos avisos do IPMA esta quarta-feira