Os números não contam tudo mas ajudam a explicar muitas vezes o porquê de um determinado resultado. Exemplos disso? Os recordes batidos por Rafa a nível de remates num jogo, ocasiões flagrantes falhadas e ineficácia, o número “anormal” de defesas do guarda-redes Ricardo Velho (13), os registos máximos de tiros, tentativas enquadradas e ações na área contrária para apenas um golo marcado ao longo de 90 minutos mais descontos. Com tudo isso, juntando ainda o golo sofrido na sequência de um canto, o Benfica voltou a ceder pontos no Campeonato na receção ao Farense. Como dizia João Mário no final, foi provavelmente “um dos jogos que acontecem uma vez numa temporada”. No entanto, os números mostram mais do que isso.

Falcão atacou as águias que já têm o Velho hábito de perderem pontos (a crónica do Benfica-Farense)

Em dez partidas realizadas esta temporada na Luz (que foi uma espécie de casa forte na última época onde só FC Porto e Inter, em abril, conseguiram ganhar), o Benfica ganhou apenas uma vez jogando 11×11 e logo na estreia a contar para a segunda jornada do Campeonato com o Estrela da Amadora. Com isso, e apesar das sete vitórias consecutivas que se seguiram à estreia a perder no Bessa frente ao Boavista, o Benfica chegou ao final da 13.ª jornada com o pior registo desde 2018/19 na prova, por “culpa” dos três empates nos últimos cinco encontros na Primeira Liga. E tudo em vésperas de decisão na Liga dos Campeões, onde o conjunto encarnado teria não só de evitar novo deslize que igualaria a pior série sem vitórias desde que Roger Schmidt chegou ao comando da equipa mas também de ganhar por dois golos para continuar na Europa.

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Por tudo isso, o ambiente ficou a “ferro e fogo” na Luz, com vários episódios como há muito não se viam em jogos do Benfica e que estão a gerar vários comentários e críticas de diferentes quadrantes do clube.

O primeiro momento chegou na altura da substituição de João Neves aos 64′. O médio voltou a ser um dos primeiros sacrificados da equipa na altura de arriscar um pouco mais na frente tal como já tinha acontecido em Moreira de Cónegos (desta vez entrou Gonçalo Guedes) e os adeptos não ficaram satisfeitos com a opção, não ficando apenas pelos assobios e pelos gritos de “rua” mas atirando também vários copos e garrafas para a zona técnica onde estava Roger Schmidt, com Tiago Gouveia a pedir calma aos adeptos e os adjuntos a levantarem-se do banco em protesto com a atitude. Houve mesmo um adepto que chegou a conseguir saltar a vedação mas foi prontamente travado pelos stewards, sendo identificado a par de outro elemento na central.

Até ao final da partida, que chegou com o empate de Rafa entre várias oportunidades falhadas para chegar à reviravolta, a zona perto do banco do Benfica teve um reforço de segurança para garantir que nada mais se passava, sendo que depois dos assobios à entrada de Arthur Cabral houve lenços brancos para Schmidt.

Mais tarde, numa informação que foi avançada pela CMTV, um grupo com cerca de 20 elementos juntou-se e tentou invadir a zona da garagem onde ficam os carros dos jogadores da equipa profissional, numa manobra que foi rapidamente controlada pelos agentes da PSP presentes sem que fosse feita qualquer detenção ou identificação. Dessa forma, os encarnados foram conseguindo deixar a Luz sem problemas, sendo que só mais tarde surgiu um vídeo das redes sociais em que se vê Arthur Cabral, um dos principais alvos da ira dos encarnados apesar de ter sido uma das últimas apostas, a levantar o dedo do meio para os adeptos.

“Estou aqui para falar sobre o ocorrido de ontem [sábado]. Ao ver as imagens do que aconteceu, posso dizer que estou ainda mais arrependido do ocorrido. Sei que não tem sido fácil este início no Benfica, sei que o torcedor esperava muito mais de mim, também esperava muito mais, mas posso dizer que tenho trabalhado muito, todos os dias, sabendo que posso entregar muito mais. Após a partida de ontem, após mais um resultado negativo, saí do Estádio de cabeça muito quente, realmente de infelicidade, e, infelizmente, após ser insultado ao lado da minha família, eu não me consegui controlar, tive uma atitude que não é nem um pouco certa, muito longe disso. Peço desculpa, sei que errei, estou realmente muito arrependido e garanto que nada parecido com isso voltará a acontecer. O que posso dizer é que continuarei trabalhando ao lado dos meus companheiros para colocar o Benfica no lugar dele e alcançar todos os nossos objetivos, que com certeza é ser campeão no final da época”, assumiu o avançado este sábado.

Antes, Roger Schmidt teve um discurso de força após o empate, contestando os adeptos que vão ao estádio para criticar a equipa e admitindo mesmo sair caso seja visto como um problema. “Quero dizer obrigado aos adeptos que nos apoiaram. Houve muitos nas bancadas que apreciaram o que os jogadores fizeram. Os outros, os mais negativos, por favor, fiquem em casa. É o meu pedido. Peço-vos que fiquem em casa porque não é bom para a equipa”, comentou. “Se sou o problema, se o Benfica precisa de um treinador que faça as substituições que os adeptos querem, não há problema, eu saio e haverá alguém que me possa substituir e talvez até seja melhor do que antes. Se eu for o problema, eu darei espaço para que alguém faça melhor do que eu. Tenho de ser um bom treinador porque este é um grande clube, se não for bom o suficiente terei sair. É algo sobre o qual vou pensar”, acrescentou ainda o treinador germânico.

Bancadas assobiaram, voaram objetos e Schmidt reagiu: “Os adeptos mais negativos podem ficar em casa”

Também este sábado, numa das primeiras reações, Francisco Benítez, candidato derrotado nas últimas eleições e líder do movimento “Servir Benfica”, pediu uma intervenção do líder Rui Costa. “Como em qualquer organização, a responsabilidade máxima pelos momentos negativos tem que ser de quem a lidera. O silêncio de Rui Costa perante o que se passou esta noite, e perante o ataque que se tem visto nas últimas semanas ao treinador do clube, é um silêncio cobarde, de quem não só não tem capacidade de decidir, mas também está, com esse silêncio, a contribuir para o fim de ciclo do treinador. Não há liderança sem a capacidade de defender a equipa. Uma equipa que Rui Costa escolheu a dedo. Um plantel que Rui Costa montou. E um treinador com quem Rui Costa quis renovar até ao final do seu mandato”, apontou.