Em apenas quatro dias, três discursos diferentes quase como se andasse a experimentar qual balão de ensaio aquele que encaixaria melhor para que a equipa reagisse ao atual momento. Pep Guardiola já salientou por mais do que uma vez que não gosta de motivar jogadores apontando algo por uma perspetiva negativa, como podia ter acontecido após o encontro com o Tottenham marcado pelo lance em que Jack Grealish seguia de forma isolada para a baliza mas o árbitro quebrou a lei da vantagem que dera antes sem que se percebesse o porquê. Agora, estava numa fase onde tentava de tudo para mexer com os campeões europeus e ingleses, que depois de fecharem a Liga dos Campeões rumarão à Arábia Saudita para tentarem conquistar o Mundial de Clubes. No entanto, o grande objetivo estava na Premier League, onde levava quatro jogos sem vencer.

Um campeão em crise: Aston Villa vulgariza Manchester City e Pep Guardiola iguala pior série sem vitórias na Premier

“A minha sensação é que vamos ganhar a Premier League. Se jogarmos ao nível a que temos estado a jogar, vamos ganhar novamente. As pessoas não acreditam depois de três empates, mas nós vamos vencer o Campeonato. A dificuldade existe e existiu na temporada passada mas, se me perguntarem hoje o que estou a sentir, vamos fazê-lo de novo”, destacava antes do jogo com o Aston Villa, deixando ainda “farpas” aos três comentadores da Sky Sports, Gary Neville, Jamie Carragher e Micah Richards, por nunca terem conseguido conquistar quatro vezes consecutivas o Campeonato inglês. No final, mais uma derrocada: a equipa de Unai Emery “vulgarizou” os citizens, que acabaram com apenas dois remates, e as palavras não funcionaram.

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No final dessa partida, as contas já eram diferentes a nível de discurso. “Ganhar outra vez Liga, Taça e Liga dos Campeões como no último ano? Esqueçam isso. Se o fizermos outra vez, retiro-me, pronto. É extremamente difícil. Quantas equipas incríveis é que já existiram em Inglaterra? E só aconteceu uma vez com Sir Alex Ferguson e connosco na época passada. Quando falamos com os jogadores, a mensagem é prepará-los bem para o primeiro jogo e depois o nosso nível vê-se. Pensar em títulos em setembro, outubro, novembro? Esqueçam isso”, referiu, admitindo a importância de o Manchester City encontrar uma solução para encontros em que não possa contar com Rodri, que estava castigado e fez demasiada falta à equipa.

Agora, na antecâmara do jogo fora com o Luton (que durante a semana perdeu por 4-3 com o Arsenal com um golo de Declan Rice aos 90+7′), o discurso voltou a mudar para uma carga mais dramática. “Preciso de provar que sou um bom treinador, preciso de ajudar os meus jogadores a ultrapassarem a situação. Também é um bom desafio para eles. Vão pensar: ‘Meu Deus, o Aston Villa foi muito melhor do que todos nós’. Eu não preciso de dizer nada. No clube, todos sabem que até podemos ficar fora da Liga dos Campeões. E se calhar é disso que precisamos depois dos últimos anos, precisamos de saber que é preciso trabalhar muito”, comentara antes de uma ronda que podia deixar a liderança de novo a quatro pontos depois da derrota do Arsenal com o Aston Villa que promoveu o Liverpool ao primeiro lugar. Apesar da desvantagem ao intervalo, foi isso que aconteceu. E se Guardiola evitou aquela que poderia ser a sua pior série de sempre sem vitórias, pode agradecer em grande parte a um rasgo de Bernardo Silva que desbloqueou o jogo.

Sem Haaland na equipa, com um ataque móvel que tinha Jack Grealish e Phil Foden no apoio mais direto a Julian Álvarez, o Manchester City começou o encontro com uma primeira oportunidade de Foden travado por Thomas Kaminski (2′) e teve depois um remate perigoso de meia distância de Rodri (18′) mas sentiu sempre grandes dificuldades em superar a barreira defensiva do Luton, sempre solidário nos momentos de entreajuda sem bola e com blocos organizados ao pormenor que tiravam qualquer espaço entre linhas aos citizens. A lição do jogo com o Arsenal tinha ficado aprendida, aquilo que de melhor tinha sido feito também não foi esquecido e, em períodos de descontos, os visitados passaram mesmo para a frente num lance em que Adebayo aproveitou uma má definição de Rúben Dias para fazer o 1-0 na pequena área (45+2′).

Se o cenário não estava bom, pior ficou e o Manchester City tinha 45 minutos para evitar o quinto encontro seguido sem vitórias, neste caso com a segunda derrota consecutiva. Não se pode dizer que a exibição tenha voltado aos melhores tempos mas a pressão exercida no meio-campo do Luton e a vontade de dar tudo pelo golo acabou mesmo por trazer resultados: já depois de uma “bomba” de Rúben Dias na área que bateu com estrondo na trave (59′), Bernardo Silva aproveitou uma segunda bola após corte de um defesa sobre Rodri para rematar de primeira para um grande golo que fez o empate (62′) e Grealish assinou a reviravolta após assistência de Julian Álvarez num lance que começou com uma grande recuperação do argentino (65′). Ross Barkley, que atravessa um momento fantástico ao nível do jogador que era no Everton e nunca chegou a ser no Chelsea, ainda teve um remate que ficou perto do empate (68′) mas o resultado estava mesmo feito.