Não tem dúvidas de que alguém “contornou regras para agradar ao poder”, mas mete as mãos no fogo por Marcelo Rebelo de Sousa e diz que o Presidente “não meteu uma cunha”, mesmo que o filho o tenha feito. São estas as considerações de Luís Marques Mendes sobre o caso das gémeas este domingo. No habitual espaço de comentário que ocupa na SIC, assegurou que é necessário perceber se as “regras clínicas aplicáveis a esta situação foram respeitadas” e destacou o “silêncio incompreensível” do então diretor clínico do Hospital de Santa Maria.
Para Marques Mendes, “um pai não pode ser culpado das ações de um filho” e a inocência que atribui ao Presidente da República não transita para o seu filho, Nuno Rebelo de Sousa. “Acho que o filho escreveu ao pai para meter cunha e isso é inaceitável, agiu com imaturidade e devia ter-se abstido para não comprometer a imagem do presidente”. O comentador afirma que o Presidente agiu neste caso com imparcialidade: “Enviou esta documentação para o Governo como manda todos os pedidos que chegam a Belém, não descriminou nem favoreceu ninguém. Acho que perante os factos o presidente não pediu nenhum tratamento de favor.”
Apesar de ter assegurado por diversas vezes que “o presidente não meteu uma cunha”, reconheceu que a perceção pública do caso fragiliza o chefe de Estado. Marques Mendes destacou ainda as duas qualidades pessoais de Marcelo que tornam a acusação injusta — “a generosidade e integridade”, afirmando que o presidente “ajuda os mais pobres” e “não é de compadrios”. Ainda sobre as gémeas, lamentou que no meio da mediatização se “fale pouco da parte das crianças”.
Perante uma possível ida do filho do Presidente ao Parlamento, já pedida pela Iniciativa Liberal, Marques Mendes entende que a opção por um esclarecimento voluntário “é sempre melhor”. E deixou um recado aos governantes . “Antes de falarem, que se informem e que reconstituam os factos. Quando um governante diz que não se lembra, as pessoas acham que ele está a mentir. Admito que o secretário de estado não se lembre, mas um político não pode dizê-lo”, aconselhou.
“Costa tem objetivo de rumar a Bruxelas a curto prazo”
No espaço de comentário deste domingo, congratulou ainda a presidente do Conselho de Finanças Públicas, Nazaré da Costa Cabral, por denunciar “o leilão de promessas do PS e do PSD”, que classifica como “quase pornográfico”. “Cada partido quando apresenta uma proposta devia explicar onde é que vai buscar o dinheiro e acho que a UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental) devia pegar em cada proposta e apresentar a sua implicação financeira”, apontou Marques Mendes.
O antigo líder do PSD falou também sobre o futuro de António Costa que, garante, “tem dois objetivos a curto prazo”. “O primeiro grande interesse dele é que o PS ganhe as eleições, se o PS perder as eleições não vai culpar o líder eleito, mas sim António Costa e foi ele que entregou o ouro ao bandido”, afirmou. A não tão curto prazo, segundo o comentador, o primeiro-ministro demissionário mantém o “objetivo de rumar a Bruxelas” e “vai fazer tudo para resolver as questões judiciais antes”.
Sobre os resultados do PISA, revelados esta semana, o comentador recordou que este é um “problema sério que passou relativamente despercebido” e garantiu que que não é uma questão de “esquerda ou de direita”.
Ainda na Educação, classificou a mudança de posição do atual ministro, João Costa, como uma “cambalhota”. “O ministro andou a dizer durante dois anos que não era possível fazer a recuperação do tempo integral dos professores, porque se se o fizesse, havia um aumento de despesa permanente”, lembrou Marques Mendes, que acusa o político de “trocar uma convicção por uma conveniência para agradar ao chefe [do PS] que vai surgir”, o que “mina ainda mais a credibilidade da política”.
“Isto é a política do vale tudo, passou a estar com o futuro chefe e tem a posição contrária há que tinha. Aos olhos das pessoas é um pouco de falta de vergonha”, insistiu.
“Não acredito que nenhum governo tenha coragem de acabar com a Portela”
Na semana em que foram conhecidas as conclusões da comissão técnica do novo aeroporto, Marques Mendes considerou o relatório como “previsível”, por apontar para Alcochete e por manter a Portela como solução provisória.
“Fui a favor da criação da comissão e não acho que tenha sido tempo perdido e depois deste relatório vai ser muito difícil adiar esta decisão”, assinalou, garantindo que quer vença a “esquerda ou a direita” a 10 de março, as conclusões não poderão ser ignoradas. E elogiou ainda Luís Montenegro pela decisão de criar o grupo de trabalho, garantindo que este é um sinal de que o líder do PSD irá avançar com os planos para a construção.
Ainda sobre o novo aeroporto disse não ter dúvidas sobre “nenhum governo ter coragem de acabar com a Portela” e ressalvou que apesar dos “problemas de saúde e ambientais para as pessoas que vivam lá” esta é uma “localização competitiva para Lisboa”. Criticou ainda o relatório por não ter um “cronograma em relação às acessibilidades” e por não referir os custos e as infraestruturas necessárias. “Quem paga os 8 mil milhões de euros? Paga o Estado, os fundos Europeus ou a ANA?”, questiona.
Marques Mendes referiu ainda as declarações da presidente da comissão, Rosário Partidário. “Fiquei com a sensação de ouvir José Sócrates a falar de 10 estádio para Portugal há 20 anos, era tudo fácil e barato”, apontou, garantindo que a ideia de não saber quem paga é “preocupante”. Os vários partidos e várias entidades devem colocar estas dúvidas à comissão”. E a comissão, que ainda irá apresentar o relatório final com o resultado da consulta pública, deve dar mais informação sobre os acessos e o financiamento do projeto, acrescentou.