“Parece que morreu um membro da família”, desabafa Catarina Portas, fundadora d’A Vida Portuguesa, ao Observador. É “com imensa tristeza” que a marca se despede do primeiro espaço a que chamou casa, através de um comunicado partilhado esta quarta-feira no Instagram. A loja inaugural da marca abriu portas em 2006 no Chiado. No final da próxima primavera, já não vai lá estar. O espaço que ocupa passará, a partir do próximo verão, a funcionar como uma extensão do alojamento local de luxo em que se transformou, nos últimos anos, aquele prédio, no número 11 da Rua Anchieta.

A notícia de que o contrato não lhes seria renovado já chegou “há alguns meses”. Houve tempo para fazer o luto. “É uma grande chatice. Claro que tenho pena. Adoro este espaço”, confessa-nos a fundadora, que se mostra esperançosa, com a mira apontada para o futuro, focada em encontrar um novo espaço no Chiado, mas também numa abertura que se adivinha no Porto no próximo ano, sobre a qual não pode ainda partilhar mais informações.

“Vale a pena refletir sobre isto. Tal como o turismo nos ajudou a passar a crise de 2008, hoje são os seus próprios agentes a condenar ao desaparecimento o comércio independente da cidade“, lê-se na nota, onde comércio local é classificado como um “oportunista”, num centro de Lisboa que “está hoje em mutação”. As zona da Baixa e do Chiado “transformaram-se numa paisagem indistinta de marcas globais” que se multiplicam de forma “sufocante”. E continua: “São os males do turismo que procura apenas o lucro individual, sem querer entender as transformações que opera na cidade a médio e longo prazos e assumir as suas responsabilidades numa estratégia mais vasta e melhor pensada, para todos.”

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É um triste três em um. A uns curtos 350 metros, na Rua Nova do Almada, Joana Pinho confirmou esta quarta-feira ao Observador que a Livraria Ferin está fechada por necessidade de fazer um “levantamento de problemas”, sem que seja antecipado um desfecho para esta história. Subindo 400 metros, na Rua Áurea, também a histórica Casa Chineza fechou portas, ao fim de 157 anos de atividade, avança a Time Out no mesmo dia. Embora o motivo oficial de encerramento não seja conhecido, os comerciantes vizinhos contaram à revista sobre os rumores que circulam, de que naquele prédio sem moradores passará a existir um hotel.

Livraria Ferin, em Lisboa, está fechada por tempo indeterminado para “levantamento de problemas”

A Vida Portuguesa chegou ao Chiado para vender produtos tradicionais portugueses, com vontade de “provar que era possível fazer uma loja de espírito contemporâneo”, preservando “escrupulosamente um espaço antigo” que encontrou abandonado. Atraiu clientes cá dentro e lá fora, foi recomendada num sem fim de guias turísticos, celebrada “na comunicação do mundo inteiro”, como refere a nota.

Sai da Rua da Anchieta, mas Catarina Portas confirma ao Observador que a marca continua a funcionar no Time Out Market do Mercado da Ribeira, no Largo do Intendente e no projeto Depozito, em Parceria com a Portugal Manual, que fica na Rua Nova do Desterro. Sem esquecer, claro, a loja online. Até lá, continuam a receber calorosamente quem passar pela primeira casa. E ainda fica um último apelo: “Compre português, há um país inteiro que agradece.”