A curta-metragem portuguesa Um caroço de abacate, do realizador Ary Zara, acaba de ganhar o ator canadiano Elliot Page como produtor. A notícia foi avançada esta quarta-feira pela revista norte-americana Variety. O filme venceu prémios que o tornam elegível para integrar a “shortlist” de filmes candidatos à nomeação aos Óscares. Consegui-lo “significaria o mundo”, disse Ary Zara ao Observador.
Produzido pela Take it Easy, Um caroço de abacate é uma ficção que narra o encontro entre “Larissa, uma mulher trans e Cláudio, um homem cis”, numa noite em Lisboa, como refere a sinopse, sendo as interpretações de Gaya de Medeiros e Ivo Canelas. É “uma história de empoderamento, livre de violência para nos despertar dias melhores”, lê-se no mesmo texto.
Depois da estreia mundial no IndieLisboa, em 2022, o filme ganhou prémios em vários festivais, nomeadamente no festival de Outfest, em Los Angeles (EUA), e no Guadalajara International Film Festival, no México, troféus que tornaram a curta-metragem de 20 minutos elegível para entrar na “shortlist” de candidatos aos Óscares. A lista dos 1o filmes selecionados será anunciada no próximo dia 21 de dezembro.
Em plena campanha de promoção — caminho que Mal Viver, de João Canijo, também está a trilhar — Ary Zara falou com o Observador, por telefone, sobre a importância de ter Elliot Page (Juno, The Umbrella Academy) na ficha técnica. “Quando começámos a pensar na campanha perguntaram-me se conhecia alguém influente que pudesse ajudar a dar visibilidade ao filme”, recorda o realizador e autor do argumento. E então lembrou-se: aquando da passagem de Um caroço de abacate pelo festival de cinema Outfest, em Los Angeles, Elliot Page não só vira o filme como lhe havia enviado uma mensagem. “Descreveu ponto por ponto o que tinha gostado no filme. Olhei umas quatro vezes para ver se a página era oficial. Apanhou-me completamente desprevenido”, conta.
Confrontado com a eligibilidade da curta — algo que só é possível conquistando prémios num número restrito de festivais em todo o mundo — Zara enviou um e-mail a Page a perguntar se estava interessado em ser produtor executivo do filme. “Disse logo que sim porque gosta muito do filme”. Page, assim como Matt Jordan Smith e Tuck Dowrey, também da produtora do ator, Pageboy Productions, passaram então a ser produtores executivos da curta-metragem.
“Um caroço de abacate é exatamente o tipo de projeto que nos apela na Pageboy Productions. Estamos muito orgulhosos de entrar nesta curta e é uma honra amplificar o importante trabalho de Ary Zara”, disseram Page, Jordan Smith e Dowrey, citados pela Variety.
Para o realizador português, chegar à “shortlist” de candidatos à nomeação ao Óscar “significaria o mundo”. “Ficaria para sempre com este filme associado a esse evento gigante”, diz ao Observador, frisando a importância do momento para “abrir portas” na sua carreira cinematográfica, mas também “de alguma forma inspirar outras pessoas trans a escrever a a criar”. Zara sublinha a necessidade de “criar consciência de que há artistas LGBT+ com talento e uma voz a ser partilhada.”
Ary Zara, nasceu em Lisboa em 1986. Estudou Cinema na Universidade Lusófona e, mais tarde, em Austin, Texas. “Trabalhei durante muito tempo só com vídeo, tentei muitas vezes ter o meu breaktrough“, comenta. O filme surgiu num momento determinante: “em 2018, tinha já desistido de fazer cinema”. “Foi quando comecei a fazer a minha transição de género que ganhei uma nova slot de coragem para tentar mais uma vez. Fui com um guião à Take it Easy que se mostrou muito entusiasmada em desenvolvê-lo comigo”, recorda. O filme é produzido por Frederico Serra e Andreia Nunes e tem direção de fotografia de Leandro Ferrão.
Um caroço de abacate é a primeira obra do cineasta que trabalha como diretor criativo do projeto Queer Art Lab, que tem como foco principal promover o trabalho de artistas queer, organizando ações, exposições, workshops, palestras, concertos e programas ao vivo. Além disso Ary Zara trabalha como performer, a solo ou de forma coletiva, na Braba, plataforma criada pela artista e coreógrafa Gaya de Medeiros.