O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) anunciou na segunda-feira que irá encerrar a sua sede e pôr fim a todas as atividades na Nicarágua, a pedido das autoridades do país.
“A pedido das autoridades nicaraguenses, o Comité Internacional da Cruz Vermelha fechou o seu escritório em Manágua, pondo assim fim à sua missão humanitária no país”, afirmou a delegação, num comunicado de imprensa divulgado a partir do México.
Em Março de 2022, o executivo do Presidente de esquerda Daniel Ortega expulsou o chefe da missão do Comité Internacional da Cruz Vermelha, Thomas Ess, da Nicarágua.
A associação humanitária e o governo de Ortega tinham assinado em janeiro de 2019 um acordo para poder visitar os presos durante as manifestações de 2018, que exigiam a renúncia de Ortega e da esposa e vice-presidente, Rosario Murilo, e cuja repressão policial causou mais de 300 mortos, de acordo com a Organização das Nações Unidas.
A delegação do Comité Internacional da Cruz Vermelha recordou na segunda-feira que o seu trabalho consistiu também em apoiar a ação da Cruz Vermelha local, que foi dissolvida pelo Parlamento da Nicarágua em maio, acusada de falta de neutralidade durante os protestos de 2018.
Os deputados, todos apoiantes de Ortega, aprovaram uma resolução a cancelar o decreto que fundou a Cruz Vermelha da Nicarágua em 29 de outubro de 1958, substituindo-a por uma organização pública.
Os deputados acusaram a Cruz Vermelha de violar as leis que regulam as associações sem fins lucrativos, bem como o princípio de neutralidade da Federação Internacional da Cruz Vermelha, com sede em Genebra, onde foi fundada em 1863 e que reúne 192 sociedades nacionais.
A representação regional do Comité Internacional da Cruz Vermelha para o México e a América Central “reitera o seu desejo de retomar o diálogo e a ação humanitária na Nicarágua”, acrescentou o comunicado.
Mais de duas mil associações, organizações não governamentais ou laborais foram declaradas ilegais desde que o país adotou leis que impõem restrições severas.
Na segunda-feira, a Organização das Nações Unidas, delegações de diversos países e dissidentes da Nicarágua destacaram a perda de liberdades fundamentais num país “cada vez mais distante dos direitos humanos”, numa sessão do Conselho de Direitos Humanos.
“A cada dia que passa, o país se desvia mais das liberdades fundamentais, aprofundando o sofrimento do povo, alimentando o êxodo dos mais jovens e minando o futuro das instituições democráticas”, declarou a Alta-Comissária adjunta da Organização das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Nada Al-Nashif, no início da sessão.
Na sessão, participou a procuradora-geral da Nicarágua, Wendy Morales, que reiterou a “rejeição total” deste tipo de diálogo, que “é uma forma atrevida de agressão e ingerência contra a dignidade do povo nicaraguense e a soberania” do país.
Estas sessões de críticas à Nicarágua, acrescentou, “surgem de resoluções assentes em campanhas mediáticas de desinformação e ódio que pretendem sanções e bloqueios em detrimento dos princípios elementares dos direitos humanos”.