A Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMJ) deverá fechar as contas do evento que trouxe o Papa Francisco e 1,5 milhões de jovens católicos a Portugal, em agosto, com um lucro a rondar os 20 milhões de euros, apurou o Observador. Confrontado com este dado, o presidente da Fundação, o cardeal Américo Aguiar, garante que ainda não há um valor final apurado — que só deverá existir no primeiro trimestre do ano —, mas admite que, em função do levantamento contabilístico feito até ao momento, o retorno da Jornada, já com despesas excluídos, deverá rondar os 20 milhões de euros.

18 milhões em alimentação, 7 milhões em transportes, total superior a 34 milhões. Igreja tem “mais de 90%” das contas da JMJ fechadas

O Observador sabe que em algumas dioceses do país já foi revelada a informação de que a Jornada Mundial da Juventude permitiu à fundação arrecadar 22 milhões de euros. “Podem ser 24 milhões, podem ser 19 milhões, ainda não está inteiramente apurado”, disse Américo Aguiar ao Observador.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O destino concreto a dar a esse montante também ainda não está definido, mas, como o Observador avançou no início de dezembro, a ideia é canalizar os fundos para projetos que beneficiem a juventude. Têm estado a ser equacionadas várias modalidades, como projetos relacionados com a vida universitária, com o apoio a jovens deficientes, entre outros, mas não há decisões tomadas a esse respeito. Por outro lado, o valor gerado pela Fundação JMJ com a organização do evento poderá ter uma gestão conjunta entre a própria Fundação e as câmaras de Lisboa e Loures.

Contabilidade na fase final. Fundação devolve verbas a quem não veio à Jornada

Também no início do mês, Américo Aguiar explicava ao Observador que o pagamento das contas da Fundação JMJ estava a “mais de 90%”. Neste momento, adianta o também cardeal de Setúbal, há questões contabilísticas específicas que não permitem ainda avançar com um valor final. E dá o exemplo: “Tivemos milhares de inscritos do Paquistão para participar na Jornada, mas que nunca chegaram a vir. O que estamos a fazer agora são as devoluções a esses grupos.”

Para participar no evento, e se optasse por inscrever-se antecipadamente para ter acesso a alojamento, alimentação e viajar nos transportes públicos, cada pessoa teria de pagar entre 50 e 235 euros, também em função do tempo de permanência em Portugal. No arranque da Jornada, a 1 de agosto, estavam inscritos nesse regime cerca de 354 mil jovens — uma parte dos quais, como o caso mencionado pelos grupos oriundos do Paquistão, nunca chegou a viajar para Lisboa para participar na Jornada.

Somando apenas as cinco principais rubricas do orçamento da Fundação JMJ — alimentação; transportes; estruturas para eventos; recursos humanos, tecnologias de informação e serviços; e fundo de solidariedade —, conclui-se que a Igreja Católica gastou pelo menos 34 milhões de euros com a organização do evento. O número final poderá, ainda assim, ser muito superior: antes do início da JMJ, por altura da polémica em torno dos custos do altar-palco do Parque Tejo-Trancão, Américo Aguiar tinha estimado que os gastos da Igreja Católica com a JMJ deveriam ultrapassar os 80 milhões de euros.

Somando essa estimativa aos investimentos realizados pelo Governo e pelas câmaras de Loures, Lisboa e Cascais, o custo total da JMJ foi estimado em cerca de 160 milhões de euros — algo que ainda está por confirmar com exatidão.

Câmara de Lisboa diz que despesa da JMJ ficou um milhão de euros abaixo dos 35 milhões previstos

A meio de outubro, a Câmara de Lisboa anunciou uma despesa de pouco menos de 34 milhões de euros com o evento. Em comunicado, a autarquia salientava que, do montante total de despesa apurado, cerca de 23,9 milhões (o equivalente a 70%) “são investimento que fica para o futuro da cidade”. Neste campo, é dado destaque ao Parque Tejo e à ponte ciclo-pedonal sobre o rio Trancão, que tem a maior fatia de investimento (16,4 milhões), mas também aos equipamentos fornecidos ao Regimento Sapadores de Bombeiros, Polícia Municipal e Proteção Civil Municipal e às obras no espaço público.

No que diz respeito ao possível retorno económico da JMJ, a nota da Câmara de Lisboa referia que “irá ainda ser aferido”, referindo que “a responsabilidade desse estudo é do promotor do evento, a Fundação Jornada Mundial da Juventude.”

Jornada Mundial da Juventude. Município de Loures diz que investiu 8 dos 10 milhões de euros para realização do evento

Da parte de Loures, logo a seguir ao fim da Jornada Mundial da Juventude a autarquia avançava a informação de que, dos 10 milhões de euros previstos em investimento para a realização do evento, tinham sido gastos oito milhões. Em declarações à Lusa, o presidente da câmara, Ricardo Leão, dizia que, dos oito milhões investidos na organização da JMJ, seis milhões de euros foram utilizados para obras de infraestruturação e o restante para adquirir um sistema de contentorização de resíduos, que serão agora distribuídos pelas diferentes freguesias do município.