Não precisaram de fazer as malas nem de comprar bilhete. Só tiveram de entregar o requerimento que permite a dispensa de 15 horas anuais para assistir a reuniões e plenários. Depois, os elementos da PSP e da GNR dirigiram-se a três aeroportos do país para se manifestarem “por suplementos justos e pela igualdade de tratamento” em relação aos inspetores da Polícia Judiciária (PJ). Recusam ser uma polícia “low cost” e avisam: sem respostas da tutela, vão organizar protestos onde o primeiro-ministro e o ministro da Administração Interna estiverem. E a campanha pode ser um palco para mostrarem o seu descontentamento.
O protesto dos sindicatos da Polícia de Segurança Pública (PSP) e da Guarda Nacional Republicana (GNR) decorreu nos aeroportos de Lisboa, Porto e Faro e nas sedes de comando das três cidades. Os elementos das forças de segurança manifestavam por condições salariais e de trabalho mais próximas das que foram oferecidas aos inspetores da PJ, mas o foco das críticas foi direcionado aos “oito anos” de governação socialista..
Sindicatos da Polícia de Segurança Pública realizam reuniões de protesto em Lisboa, Porto e Faro
“Já não é a primeira, nem segunda vez, que o Presidente da República recomenda ao Governo que olhe para as forças de segurança. Não podemos ficar eternamente à espera, enquanto eles olham para nós sem importância“, aponta ao Observador Paulo Santos, presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP).
Cansados de esperar, os agentes da PSP e da GNR reuniram-se para demonstrar o “descontentamento enorme” com as decisões que têm sido tomadas. Nomeadamente a que diz respeito ao pagamento de um suplemento de missão para as carreiras da Polícia Judiciária (PJ), que pode representar um aumento de quase 700 euros por mês, em alguns casos.
Não estamos contra o aumento do suplemento à PJ”, sublinha Paulo Santos. “Estamos contra o facto de esse aumento não ter sido extensível à PSP e à GNR.”
A posição é semelhante àquela que é assumida pelo vice-presidente da associação. Miguel Neto disse à RTP que não pretende “obstaculizar o que foi aplicado aos colegas da PJ, que foi muito bem atribuído“. “Aquilo que queremos é uma igualdade de tratamento”, avisou, apelando a um “subsídio de risco na casa dos 100 euros”.
“A valorização da condição policial merece todo o nosso apoio, independentemente do nome, da cor e da farda“, salientou também à SIC o porta-voz da plataforma de sindicatos da PSP e da GNR, uma das organizadoras das reuniões.
Bruno Pereira denuncia aquilo que considera ser “um tratamento discriminatório, como nunca antes visto, relativamente a um corpo policial — que tem a extensão que tem —, em detrimento de mais de 1.500 profissionais das forças de segurança”, disse.
Com a extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e a sua integração nas forças policiais, a ASPP procura um “reconhecimento de quem assumiu funções”. “O trabalho é igual e o salário é muito diferente do que é, e foi, dado a outros funcionários, nomeadamente aos inspetores do SEF. Por isso, o que se pedia na altura — e pede-se — é que fosse criado o suplemento de segurança aeroportuária“, acentuou.
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Na última quarta-feira, a associação reuniu-se com a secretária de Estado da Administração Interna. Isabel Oneto terá informado os sindicatos de que o Governo não tem “intenção de alterar” os suplementos remuneratórios das duas forças. Ainda assim, garantem, a “esperança” numa posição diferente por parte da tutela mantém-se.
A esperança é a última a morrer. Foi isso que transmitimos ao Presidente da República”, reforçou. “Temos esperança de que esta mensagem seja acatada pelo Governo e que este ainda tenha capacidade para agir. Se não, pelo próximo governo, que perceba o que os polícias estão a transmitir.”
Polícia “low cost” promete “luta incessante” e vai andar atrás de Costa e Carneiro
A situação atual, diz o dirigente da ASPP, traduz-se numa discriminação daquilo que define como uma “polícia low cost“.
“De facto, quem está mal é a polícia low cost. Que não tem atratividade nenhuma para a carreira. Não consegue atrair jovens para esta profissão, que envolve risco e desgaste. Com baixos salários, isto é impossível”, lamentou Paulo Santos.
O maior objetivo da PSP é que uma mudança seja implementada em breve. Caso isso não aconteça, já tem pensadas ações mais “duras” para 2024, como foi referido pelo dirigente sindical Armando Ferreira, à margem do plenário que decorreu no Comando Metropolitano da PSP de Lisboa.
Segundo a agência Lusa, o dirigente avisou que os agentes vão voltar à rua já em janeiro, “nomeadamente em locais onde possa estar o senhor primeiro-ministro, onde possa estar o senhor ministro da Administração Interna e também no desenvolvimento da campanha eleitoral”.
“Isto vai ser uma luta incessante. Não vai ter termo enquanto esta situação não for ultrapassada“, garantiu o porta-voz da plataforma que reúne cerca de dez sindicatos representativas dos elementos das forças policiais.