José Cardoso, ex-candidato à presidência da Iniciativa Liberal, vai desfiliar-se do partido. Na opinião do liberal, a IL encontra-se assente numa “mentalidade centralizada”, tem vindo a “anular” e a “ostracizar” membros e a “golpada” no que toca à possibilidade de alteração de estatutos foi a gota de água. O liberal tem intenções de continuar na política e juntar-se a outro projeto, mas num partido que não a IL.

“Lutei durante três anos por esse partido e, perante o adiamento da convenção estatutária e com a golpada que o presidente do Conselho Nacional e da Comissão Executiva estão a tentar de impedir os membros de mudar o que quer que seja, acaba aqui a possibilidade de a IL ser um partido liberal“, explicou em declarações ao Observador.

Em causa está o facto de o regimento para a convenção estatutária referir que “as propostas de emenda, eliminação ou aditamento incidem apenas sobre artigos, números ou alíneas dos projetos globais de alteração aos estatutos da Iniciativa Liberal”. Na visão do liberal, o objetivo era “impedir alterações aos estatutos atuais”, sendo que, caso nenhuma das propostas globais conseguisse os 2/3 dos votos, não seria possível que 150 membros se juntassem para fazer propostas de alteração. José Cardoso não só acha que está em causa um “abuso de poder gravíssimo“, como considera que os membros devem recorrer para o Tribunal Constitucional porque a proposta é “irregular perante os estatutos atuais da IL”.

“Não podiam fazer um regimento que impede os membros de alterarem os seus estatutos. Não é uma linha vermelha, é roxa, é uma ditadura“, entende o liberal, sublinhando que “em algumas coisas os estatutos da IL são escandalosamente os menos liberais” dos estatutos de partidos em Portugal e “os mais centralistas do espetro português”.

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“Para mim, um partido liberal tem de ser liberal nas políticas que defende e na prática política“, afirma ao Observador, reconhecendo ter “pena” que a IL “não tenha sabido agarrar a oportunidade que lhe foi dada” quando conseguiu quase 5% dos votos nas últimas eleições legislativas. José Cardoso refere que o partido “sabia que a seguir vinha a parte difícil, que tinha de ser adulto” e que as pessoas que lideram “estão mais preocupadas com a manutenção do poder delas do que com o partido ou o país”.

Crente de que “tudo tem vindo a ser centralizado e as pessoas anuladas“, dá o exemplo de Carla Castro como a “face visível” do afastamento de pessoas que têm “valor” e que não contam para o partido. Aliás, José Cardoso serve-se até do exemplo do PS para recordar que Pedro Nuno Santos vai contar com José Luís Carneiro para listas comuns, defendendo que “o partido é inteligente ao ponto de perceber que essa gente [a percentagem de pessoas que votou no candidato derrotado] não deve ser ostracizada porque têm de estar unidos“.

O ex-candidato a presidente da IL acredita que o partido “esbanja capital organizacional, humano e intelectual todos os dias” e, questionado sobre o maior erro da linha da liderança, acusa-a de “achar que vai construir um partido com mais de 5% dos votos com cinco, dez ou 20 pessoas”. Aliás, realça até que a IL tem feito questão de frisar que há mais pessoas a entrar do que a sair do partido e que “as que saíram não são substituíveis” e saem porque “a IL não está a saber respeitar as pessoas e acha que 100 que saem se podem trocar por 200 que entram”.

José Cardoso foi candidato à liderança da IL, ficou em último com 4,3% e estava atualmente na equipa que apresentou uma proposta de alteração de estatutos para a convenção estatutária. Durante o tempo que esteve na IL foi conselheiro nacional e foi sempre uma das vozes mais desalinhadas com a corrente da liderança por considerar que o partido não é liberal no que toca ao funcionamento interno.

Apesar de ter sido militante no PSD durante três anos, foi na IL que José Cardoso participou ativamente na política pela primeira vez. Está certo de que pretende continuar na política e, segundo garante ao Observador, pretende “encontrar um partido que tenha prática política liberal“. “Vou ou criar um partido ou juntar-me a um partido que esteja em constituição. Há vários movimentos a serem realizados porque os liberais não são obrigados a nada e seguem os princípio de mérito, concorrência, oportunidades”, garante o liberal. Para já, bate com a porta da IL por ter deixado de se sentir em “casa” num projeto em que “tudo fez para que fosse liberal”.