O secretário-geral do PCP defendeu esta quarta-feira que a única solução para resolver os problemas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) é contratar mais profissionais, acusando o Governo de estar a “fazer remendos” com impacto na vida das pessoas.
Em declarações aos jornalistas no mercado de Moscavide, numa iniciativa de contacto com a população, Paulo Raimundo sustentou que o Governo “pode fazer os apelos e tomar as medidas que quiser”, mas não conseguirá resolver os problemas no Serviço Nacional de Saúde sem contratar mais profissionais.
PCP diz que Governo só não resolve problemas no SNS “se não quiser”
“Faltam médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico, faltam assistentes e até falta gente (na linha) SNS24. Ora, só a contratação de mais profissionais é que resolve o problema”, defendeu.
O secretário-geral do PCP reconheceu que essa situação não se resolve “de um dia para o outro”, mas sublinhou que “é possível abrir um caminho para resolver esse problema, e o caminho que tem sido aberto é exatamente o inverso”.
“Nós, quando precisamos de tomar medidas para fixar profissionais, o que estamos a fazer são remendos. Quando precisávamos de atrair profissionais que estão hoje no setor privado para virem para o setor público, não estamos a fazer nada disso”, criticou.
Para Paulo Raimundo, “isso paga-se caro com as vidas das pessoas”, que “não vão às urgências porque lhes apetece, mas porque sentem necessidade de ir, de serem tratadas, acompanhadas e sentirem-se seguras”.
O líder comunista admitiu que é normal que, no inverno, “haja uma afluência maior” às urgências, mas considerou que se está assistir atualmente a uma “tempestade perfeita” no Serviço Nacional de Saúde, com “menos profissionais e menos serviços (de saúde) disponíveis”.
“É preciso tomar medidas: mais espaços abertos, mas com mais profissionais. Sem isso, não vale a pena, é para nos estar a enganar”, disse, defendendo que a medida que garantiu que alguns centros de saúde estiveram abertos durante o período de Ano Novo foi positiva e deveria ser mantida “em funcionamento regular”.
Cerca de 200 centros de saúde abertos no fim de semana e no dia de Natal
Questionado se considera que o recurso ao privado pode ajudar a mitigar esta situação, Paulo Raimundo respondeu que “a solução não é por aí”, salientando que as horas de espera nos hospitais privados também são elevadas.
“Quem quiser ir ao privado, que vá, nós não somos contra isso. Mas isso não pode ser um complemento, tem de ser opção”, sublinhou, acrescentando que hoje em dia se está a assistir a um movimento em que, “quanto mais solução privada existe, menos acesso à saúde existe”.
Paulo Raimundo considerou que a contratação de mais profissionais para o Serviço Nacional de Saúde vai ser precisamente um dos temas que vai ser decidido nas eleições legislativas de 10 de março, designadamente “se é para deixar o caminho tal como está, ou se é para abrir um caminho novo”.
“E nós estamos confiantes que vamos ter força suficiente para impor esse caminho novo”, vincou, considerando que o acordo alcançado em novembro entre o Governo e o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) foi “uma golpada extraordinária” que não irá “resolver nada”.
Já interrogado sobre o facto de a ADSE passar a assumir, este ano, as despesas de saúde de 226 mil trabalhadores das autarquias locais, o secretário-geral do PCP considerou que se trata de “levar ao limite a transferência de competências”.
“Acho que não é solução para nada. O caminho deve ser aquele que estava: um serviço próprio que o Estado tem de assumir, porque é daí que vêm os descontos dos trabalhadores. Devia-se manter na alçada do Estado”, defendeu.
Paulo Raimundo criticou o processo de transferência de competências, qualificando-o como “uma trapalhada” que “vai aumentar e agravar os problemas”.
“As competências são transferidas, os trabalhadores são transferidos, mas depois não há meios. (…) Só há duas hipóteses: ou agrava os problemas, ou então — talvez seja esse o objetivo final —, há uma parte desses serviços que vão ser encaminhados para o privado e esse não é o caminho”, sustentou.