Sem destoar daquele que tem sido o tom do congresso do PS, o líder parlamentar socialista, Eurico Brilhante Dias, parte para a pré-campanha eleitoral ao ataque. Em entrevista ao Observador, durante o congresso do partido, o líder da bancada disparou contra o Presidente da República pela decisão de dissolver a Assembleia da República e criticou duramente o Ministério Público, defendendo que “a política está a ser fortemente influenciada pela atividade judicial”.
Questionado sobre se o PS terá no Ministério Público mais um adversário para o combate político, Brilhante Dias começou por atirar: “Eu quero acreditar que não”. Depois, recorreu à ironia: “No limite, poderia dizer que o MP ultimamente anda com um azar terrível nas oportunidades em que acaba por comunicar com a opinião pública”.
O líder parlamentar socialista lembrou também a investigação sobre a casa de Luís Montenegro. “Isso não é bom, e não é bom chegarmos a eleições e estarmos a ter uma discussão fortemente contaminada, usando a Justiça e as investigações como arma de arremesso política. É aquilo a que se chama lawfare, a utilização da lei como arma de arremesso político”. Até março, avisou contra outras tentações, é preciso ter a “capacidade, que não é fácil, de procurar centrar o PS nas grandes opções. Os portugueses não votam em casos judiciais”.
Mas Marcelo também não foi poupado: com a decisão de dissolver o Parlamento, “determinou a própria natureza da campanha eleitoral, o que influenciará a decisão dos eleitores”, sentenciou. “Inevitavelmente, o Presidente marcou as eleições sabendo o cenário pré-eleitoral. Portanto é evidente que de alguma forma é co-responsável pelo resultado”, mesmo que cada eleitor vote em quem quer.
Sobre o risco de uma liderança bicéfala no PS, e respondendo a uma pergunta sobre se Pedro Nuno Santos poderá ser “assombrado” por António Costa como acontece com Luís Montenegro e Pedro Passos Coelho, o socialista gracejou: “Cada um tem o fantasma que merece”. Mas garantiu que a passagem de testemunho está “consumada”.
Quanto a Pedro Nuno — que não apoiou nas eleições internas, tendo-se colocado ao lado de José Luís Carneiro — explicou que as diferenças estão ultrapassadas, destacando a “capacidade de [Pedro Nuno Santos] assumir e integrar o legado dos oito anos de governação do PS”. Até porque, se durante a campanha interna “houve um momento em que parecia que José Luís Carneiro assumia mais a integralidade do legado”, agora “isso está absolutamente dissipado e há uma afirmação e reconhecimento desse trabalho”.