É à Agência de Protecção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos da América que cabe medir e anunciar os consumos que, por sua vez, impactam a autonomia de cada automóvel comercializado em solo norte-americano, recorrendo aos seus técnicos que testar os veículos em condições reais de utilização, ao contrário do que acontece na Europa. Por cá, são os construtores que anunciam os valores que conseguem em testes laboratoriais, o que explica a maior proximidade com a realidade dos valores EPA face aos homologados de acordo com o protocolo em vigor na Europa, denominado Worldwide Harmonized Light-Duty Vehicles Test Procedure (WLTP). Apesar deste maior rigor, a EPA resolveu apertar (ainda mais) a malha e aproximar os valores anunciados da realidade experienciada pelos condutores, diminuindo a margem da mentira ou, pelo menos, o excesso de optimismo.
Diferença entre método americano e europeu é grande
Para termos uma ideia das diferenças entre os métodos americano da EPA e o WLTP europeu, basta comparar o que acontece nos dois lados do Atlântico, entre dois dos veículos eléctricos mais populares em ambos os mercados. Referimo-nos ao BMW i4 eDrive 40 Gran Coupé e ao Tesla Model 3 Long Range AWD (a versão antiga, pois a nova “highland” ainda não está a ser comercializada nos EUA). Na Europa, o BMW anuncia uma autonomia de 589 km, conseguidos à custa de uma bateria com uma capacidade de 80,7 kWh, enquanto nos EUA a autonomia medida pelos técnicos da EPA é de apenas 484 km, uma redução de 21,7%.
Com uma bateria 8% mais pequena (75 kWh), o Tesla anuncia em WLTP 602 km, com a EPA a ter determinado 576 km, o que representa ainda assim uma redução de 4,5%, confirmando o maior rigor do sistema norte-americano. Porém, longe dos 21,7% de optimismo da BMW, com a marca alemã a ter uma desvantagem face à sua rival americana de 2,2% na Europa, mas de 19% nos EUA, onde o consumo determinado para o Model 3 foi de 16,1 kWh/100 km, contra 21,1 para o i4.
O que vai mudar em 2024?
Com o início de 2024 e para ajudar os consumidores a terem uma ideia mais concreta do consumo do veículo que têm em vista, bem como mais próxima da realidade, a EPA decidiu optimizar o seu sistema de determinação de consumos. Uma das novidades é que, em vez de testar o veículo no modo de condução que lhe é mais favorável (e mais económico), os técnicos determinam o consumo máximo e o mínimo, nos diferentes modos, para depois fazerem a média. Esta alteração vai mexer nos valores conhecidos de consumos e autonomias para os diferentes veículos, sobretudo nos eléctricos, afectando todos os modelos à venda nos EUA, ainda que uns possam ser mais penalizados do que outros.
De momento, são já conhecidos os dados relativos aos modelos da Tesla, o que se compreende por serem os mais vendidos no mercado. Pela nova norma da EPA, a marca tem modelos cuja autonomia aumenta, enquanto outros a mantêm ou a vêem baixar entre 7 e 37 milhas (11 a 60 km). Se o Model S mais acessível mantém da autonomia, a versão equipada com jantes 21” até ganha 7 milhas, com o mais prejudicado a ser o Model S Plaid, que perde 37 milhas com jantes de 19” e 28 milhas com jantes 21”. O Model X perde entre 7 e 13 milhas, enquanto o Model Y RWD não é afectado pela mudança, mas os Long Range AWD perdem entre 18 e 26 milhas, consoante a versão e os pneus. Os Model 3 não registam alterações, por já terem sido homologados segundo os novos métodos.
Resta agora conhecer as alterações que o renovado EPA vai introduzir na concorrência, bem como aguardar que a Europa actualize o WLTP, muito desfasado da realidade. E isto é cada vez mais difícil de entender, uma vez que o regulador europeu recebe há muito informações sobre os consumos de cada veículo novo em condições reais de utilização, que o veículo envia para o construtor e este é obrigado a canalizar para a União Europeia. Daí que se conheça exactamente a diferença entre o consumo WLTP (e a autonomia) que é dito ao cliente que pode atingir e aquele que verdadeiramente poderá registar no dia-a-dia.