A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, propôs este domingo um aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN) para 900 euros este ano e um aumento real de 50 euros todos os anos na próxima legislatura.

“A proposta do Bloco é simples. Uma subida intercalar do salário mínimo, já este ano, para os 900 euros e um aumento real de 50 euros nos anos seguintes. Isto é fazer o que nunca foi feito. Queremos um compromisso de subida do salário mínimo que garanta que à inflação se somam 50 euros de aumento por mês, todos os anos, na próxima legislatura”, declarou Mariana Mortágua, durante um almoço em Santo Tirso (Porto), que reuniu cerca de 150 bloquistas e simpatizantes.

No primeiro momento de pré-campanha eleitoral conjunta de Mariana Mortágua e Marisa Matias, cabeça de lista pelo distrito do Porto, a coordenadora do Bloco de Esquerda declarou o país não se pode contentar com a proposta do PS que “atira para 2028 um salário mínimo ainda inferior ao que Espanha tem hoje, de menos 134 euros”.

“O salário mínimo é uma garantia de dignidade. Mas uma economia que se nivela pelo mínimo, como acontece agora, não tem futuro. A qualificação, a especialização, os anos de experiência, a responsabilidade devem ser remuneradas”, disse a líder bloquista e candidata às próximas legislativas pelo distrito de Lisboa.

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A subida dos salários médios é outra “urgência” para o Bloco de Esquerda e voltando a defender a medida de “leques salariais” contra a economia da desigualdade.

“Se uma empresa pode pagar salários altos a administradores e altos cargos, ótimo. Mas tem também de pagar bem aos seus trabalhadores. Administrações de luxo e salários de miséria são um insulto ao trabalho. Não há experiência, responsabilidade, competência que expliquem que alguém ganhe mais num mês do que o trabalhador com salário médio na empresa ganha num ano”, considerou.

Mariana Mortágua disse que o BE pretende “fazer o que nunca foi feito”, estabelecer que a sociedade “se rege por princípios de respeito e igualdade”, frisando que nenhuma palavra “tirará uma hora de sono a Soares dos Santos, que paga a si próprio num ano o mesmo que um funcionário do Pingo Doce precisaria de mais de 180 anos de trabalho para ganhar”.

Perda de jovens para o estrangeiro é “desistir do futuro”

Mariana Mortágua considerou ainda que o maior problema de Portugal é ser um país que está obrigar os jovens à emigração, afirmando que tal se deve aos baixos salários. “É ótimo que quem queira sair, conhecer o mundo, ter outras experiências o possa fazer. Mas há uma diferença entre sair e ser expulso. Um país que expulsa as gerações mais jovens é um país que está a desistir do futuro. Este é o maior problema de Portugal”, declarou Mariana Mortágua, referindo-se aos dados recentes do Observatório da Emigração, referindo que 30% dos jovens nascidos em Portugal vivem no estrangeiro.

No seu discurso, a coordenadora do Bloco de Esquerda disse que são “mais de 70 mil” portugueses que saem a cada ano, em todos os anos deste século, e que “Portugal tem a taxa de emigração mais alta da Europa e uma das mais altas do mundo”.

Mariana Mortágua afirmou que a razão para os jovens estarem a emigrar são os baixos salários.

“Não há nenhum mistério nas causas da emigração. E não vale a pena inventar desculpas. o problema dos salários baixos não é o IRS, é o facto dos salários serem baixos, apesar do esforço, apesar das qualificações e da vontade. O salário não paga a casa nem as contas, e não há nenhuma esperança que daqui a três anos seja diferente, enquanto as carreiras continuarem a ser uma coisa do passado”.

A coordenadora do Bloco de Esquerda observou que a sua geração, bem como outras gerações anteriores e outras posteriores, não quiseram emigrar, nem ceder. Contudo, a “crise atrás de crise” vem demonstrar que aos 40 e 50 anos existe a mesma instabilidade que se sentia aos 20 anos de idade.

“Olhem para quem tem hoje 30, 40 anos. Foi a crise financeira, foi a pandemia, foi a inflação, é a conjuntura externa. Há sempre uma desculpa para os salários baixos, o contrato precário, os horários impossíveis. Há sempre o “agora não pode ser”, que a economia não aguenta melhores salários, que a produtividade não aumenta, que Portugal é um país pobre”, disse, advertindo que “Portugal é um país pobre porque paga salários pobres”.

Aumento de salários é solução para problemas na habitação e saúde

No encontro com membros do Bloco, a coordenadora do partido criticou o PS por ter falhado nas políticas da habitação e Saúde e considerou que o BE vai ser determinante para a maioria que governe para resolver habitação e saúde.

“Quero dar-vos uma certeza e vou repeti-la todos os dias desta campanha: não haverá nenhuma solução para atacar os preços da especulação imobiliária ou para melhorar os salários sem o Bloco. O Bloco vai ser determinante para a maioria que governe para resolver habitação e saúde para toda a gente. Só com o Bloco e nunca sem o Bloco será possível começar a fazer o que nunca foi feito”, declarou Mariana Mortágua.

Para Mortágua, não basta ao PS reconhecer o problema na habitação ou na saúde ou assumir o fracasso passado sem apontar soluções de futuro.

“Ouvi ontem o secretário geral do PS [Pedro Nuno Santos] reconhecer como falharam nos últimos dois anos na habitação e na saúde. É uma evidência: entra pelos olhos dentro que vinte horas de espera numa urgência, mais de milhão e meio sem médico de família, as casas mais caras da Europa, são tudo fracassos porque as políticas estavam erradas, protegeram o negócio e não as pessoas. Só que não basta reconhecer o problema ou assumir o fracasso passado sem apontar soluções de futuro.”

A líder bloquista defendeu que o “o país exige responsabilidade, consequência e vontade para fazer o que nunca foi feito”, designadamente os aumentos reais do salário mínimo e novas regras para fazer subir todos os salários, com mais força aos contratos coletivos, para que se acabe com o abuso da precariedade, dos horários longos demais, dos salários baixos demais”.

“Não desistimos de Portugal. No Bloco ousamos a esperança. Sabemos que é a força do Bloco que pode determinar os caminhos do país para lá de 10 de março. Estamos a crescer, o apoio a uma política exigente com soluções exigentes agiganta-se e temos esta confiança: vamos para ganhar e fazer o que nunca foi feito”, concluiu.