Várias casas já arderam na sequência da erupção de um vulcão na Islândia que entrou novamente em atividade este domingo, avançam os meios de comunicação islandeses. A erupção foi registada num vulcão a norte da cidade piscatória de Grindavík, situada a cerca de 41 quilómetros a sul da capital, Reiquiavique, e obrigou à retirada dos habitantes da localidade.

Após, no domingo, o diretor da proteção civil islandesa, Víðir Reynisson, ter declarado que os acontecimentos ocorridos neste dia serão “lembrados durante muito tempo”, na segunda-feira, a cientista Hjördís Guðmundsdóttir, que também trabalha na proteção civil disse que a noite decorreu sem incidentes e que “parece que o fluxo de lava está a diminuir”.

O jornal RÚV adiantou também esta segunda-feira que a corrente de lava da segunda fissura – a mais pequena – parece ter parado e que é provável que os gases resultantes da erupção sejam expelidos para o mar.

De acordo com a imprensa islandesa, apesar de o fluxo aparentemente ter parado à superfície, os especialistas acreditam que o magma possa estar a pressionar no interior, levando a terra a subir em Svartsengi, a alguns quilómetros da vila piscatória onde estão as fissuras. Um padrão que não aconteceu com a erupção de 18 de dezembro.

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Por isso, Lovísa Mjöll Guðmundsdóttir, do gabinete de meteorologia da Islândia, considera que a erupção vulcânica não acabou. A atividade na fissura a norte pode ter diminuído, mas as atividade sísmica mantém-se intensa, com 740 sismos registados desde a meia-noite, refere a imprensa islandesa.

O governo reúne-se esta segunda-feira para discutir as consequência da erupção na cidade de Grindavík e dos terramotos na península de Reiquiavique. Além disso, o presidente da autarquia de Grindávik afirmou que os habitantes não estão apenas “tristes”, mas sim “destroçados”. Este devem juntar-se nas igrejas de Hafnarfjörður e de Keflavík às 17 horas.

“Estamos apenas provavelmente a ver o início de uma cadeia de eventos que vão continuar e que serão difíceis de lidar”, alertou este domingo o diretor da proteção civil islandesa, sublinhando que “este é o evento mais sério no que diz respeito a erupções vulcânica desde janeiro de 1973”.

O diretor da proteção civil adiantou que há danos consideráveis na infraestrutura, divulgando que não há nem água quente, nem eletricidade em Grindavík, cidade piscatória com menos de 4.000 habitantes. Várias casas já acabaram danificadas e algumas estão perto do fluxo de lava.

A primeira-ministra da Islândia, Katrín Jakobsdóttir, também participou no briefing. No final, a líder política disse que este era um “dia negro” para Grindavík e para toda a Islândia. Prometeu que o país ajudará os residentes, aumentando os canais disponíveis para a prestação de ajuda psicológica. Acrescentou também o governo está empenhado em garantir habitação a todos aqueles que ficaram sem casa na sequência da erupção vulcânica.

Mais tarde, num discurso ao país, o Presidente da Islândia, Guðni Th. Jóhannesson, agradeceu a todos aqueles que ajudaram os habitantes de Grindavík. Apelou ainda à população para ter fé e esperança, assinalando que é um dever de todos os islandeses assegurar que quem perdeu a casa tem direito a uma habitação. “Nós, islandeses, fazemos isto juntos. Não vamos desistir”, prometeu o Chefe de Estado.

Num comunicado, o instituto meteorológico islandês detalhou que existem, neste momento, dois grandes fluxos de lava ao longo de duas fissuras, uma de 900 metros e outra de 100 metros. “A velocidade do fluxo de lava não é elevada”, lê-se no comunicado citado pela imprensa islandesa, sendo que são necessários mais análises para compreender os impactos que poderá ter em Grindavík.

O instituto meteorológico nota alguma “deformação” do solo perto de Grindavík, mas está a diminuir. Quando isso acontece, diz aquele organismo, é um “sinal de que a pressão do magma está a atingir um equilíbrio”, o que levaria a um cenário de abrandamento. Não obstante, “não é impossível que haja mais erupções” no futuro, avisa o instituto.

Magnús Tumi Guðmundsson, um geofísico, revelou à islandesa RÚV, que não é possível estimar quanto tempo é que este fenómeno poderá durar. “Não é possível ler a partir dos dados quanto tempo é que isto vai durar, pelo menos agora”, explicou, para logo notar que “a erupção de dezembro durou menos tempo do que as pessoas esperavam. Só durou dois dias e meio”. Porém, a Islândia já teve fenómenos de erupção de vulcões bastante mais longos. Só à medida que as horas passem e que as autoridades comecem a ter acesso a mais dados é que poderá ser possível tentar fazer alguma estimativa.

Por precaução, a Blue Lagoon, um dos pontos turísticos mais procurados do país, que fica a alguns quilómetros do local da erupção, foi evacuada no domingo e vai estar encerrada até terça-feira, é possível ler no site.

As três casas danificadas

Por volta das 15h00 de domingo, a lava começou a chegar às primeiras casas de Grindavik, tendo pelo menos três sido consumidas pelas chamas. O governo islandês reuniu esta segunda-feira para tentar dar resposta, admitindo-se a hipótese de medidas de habitação temporária para a população afetada.

“A situação mudou completamente ontem e as pessoas não vão voltar a Grindavík nos próximos meses. Precisamos de olhar para a questão da habitação a uma nova luz e durante um período mais longo de tempo”, disse Guðrún Hafsteinsdóttir, a ministra da Justiça da Islândia, citada pelo Guardian. “Estamos a discutir a questão no governo e vamos discutir como é que podemos fazer isto da melhor forma possível.”

A primeira-ministra islandesa, Katrín Jakobsdóttir, esteve reunida com o diretor da Proteção Civil Islandesa, Víðir Reynisson, e com os responsáveis do Serviço Meteorológico Islandês.

Depois da última erupção, em novembro de 2023, as autoridades procuraram reforçar a segurança na localidade de Grindavik, com a construção de uma barreira que pudesse impedir a passagem de lava e protegendo as infraestruturas locais.

As imagens da emissora nacional islandesa mostram um autêntico rio de lava a chegar à povoação de Grindavik e a destruir algumas das casas que se encontram na orla externa da cidade.

No entanto, “de acordo com as primeiras imagens de vigilância aéreas da Guarda Costeira, verifica-se a existência de uma fissura em ambos os lados [das linhas de] defesa que começaram a ser construídas a norte de Grindavik”, referiu o Gabinete Meteorológico Islandês. “A lava dirige-se neste momento em direção a Grindavik. Com base em medições do helicóptero da Guarda Costeira, o perímetro é agora de 450 metros das casas na zona norte da cidade.”

A atividade vulcânica acontece cerca de três semanas depois do último episódio na região, a 18 de dezembro. Trata-se da segunda erupção na mesma falha vulcânica. Nessa ocasião, a localidade de Grindavik teve de ser evacuada e os cerca de 4 mil habitantes transferidos para uma zona mais segura.

Contudo, os habitantes de Grindavik puderam regressar entretanto às suas casas, uma vez que as expectativas das autoridades apontavam para uma provável nova erupção noutra zona. Aliás, as autoridades islandesas construíram, nas últimas semanas, um conjunto de muros de contenção para proteger a povoação e algumas estruturas vitais da região, mas a erupção deste domingo ocorreu no interior desses muros.

Grindavik estava, ao longo das últimas semanas, a ser objeto de obras de recuperação depois dos estragos sofridos no sismo de novembro. Durante as obras de reconstrução, um trabalhador desapareceu depois de ter caído numa das falhas que estavam a ser tapadas. Os esforços de resgate ainda decorriam este fim de semana quando ocorreu a nova erupção.

Entretanto, a Associação de Proteção dos Animais da Islândia veio dizer que há cerca de 30 ovelhas presas em Grindavik. “Estes animais estão cativos e é muito importante que sejam resgatados se possível”, diz a associação, citada pelos jornais islandeses. Muitos dos animais que tinham sido resgatados em novembro foram, entretanto, levados de novo para a cidade — mas não foi possível retirá-los a tempo este domingo.

Notícia atualizada às 12h58 de 15 de janeiro de 2024