Os economistas-chefes de grandes instituições públicas e privadas em todo o mundo antecipam, na sua grande maioria, um enfraquecimento das condições económicas globais em 2024. De acordo com uma sondagem divulgada pelo Fórum Económico Mundial, 53% dos inquiridos antecipam um “ligeiro enfraquecimento” e outros 3% admitem que a quebra das economias pode ser ainda mais gravosa. Menos de um em cada quatro especialistas aposta numa melhoria face a 2023.

As conclusões deste relatório foram divulgadas esta segunda-feira pelo Fórum Económico Mundial, no primeiro dia dos encontros anuais de Davos (Suíça). Além dos 56% que antecipam uma deterioração mais ou menos forte da economia mundial neste ano, 20% dos inquiridos acreditam que o enquadramento económico vai manter-se inalterado em relação ao passado recente. Só 23% acreditam numa “melhoria ligeira” e nenhum economista-chefe prevê uma aceleração robusta em 2024.

“Embora haja desenvolvimentos positivos, como um aliviar das pressões inflacionistas e os avanços no campo da inteligência artificial (IA), as empresas e os decisores políticos enfrentam desafios persistentes, ‘ventos contrários’ e volatilidade” na navegação do cenário económico, diz o relatório. A julgar pela opinião deste grupo de economistas-chefes consultados pelo Fórum Económico Mundial, “a relativa resiliência que a economia global tem demonstrado vai ser colocada à prova em 2024“.

“A atividade económica global está a perder fulgor, com sinais de abrandamento tanto no setor da indústria como dos serviços”, pode ler-se no relatório onde se acrescenta que, devido ao contexto de taxas de juro mais elevadas, “as condições financeiras apertadas estão a travar o consumo e o investimento empresarial”, ao mesmo tempo que “os responsáveis políticos estão a tentar calibrar e sequenciar as suas decisões de forma o mais cautelosa possível”.

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A previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI), recentemente divulgada, aponta para uma desaceleração do crescimento global para 2,9% em 2024, contra 3% em 2023. Esta é uma previsão que o Fórum Económico Mundial considera um quadro de “resiliência”. Porém, para que ela se concretize é necessário que se confirmem as previsões de crescimento das economias emergentes, já que “as economias mais avançadas estão a perder fulgor“.

As projeções de crescimento estão vulneráveis a possíveis choques que se tornaram mais prováveis. Os conflitos geopolíticos tornaram-se uma fonte mais importante de volatilidade económica global, com novas tensões a surgirem ou a agravarem-se em África, Médio Oriente e América Latina”, diz o relatório, acrescentando que “esta escalada de tensões pode interromper cadeias de abastecimento e enviar ondas de choque que irão alastrar-se muito além dos mercados de matérias-primas”.

E, com eleições cruciais previstas para este ano, com as Presidenciais norte-americanas à cabeça, o Fórum Económico Mundial sublinha que esse é outro fator que reforça o contexto de incerteza no horizonte económico internacional. As eleições nos EUA estão marcadas para o mês de novembro.

Economistas muito mais pessimistas sobre a zona euro

As opiniões dos economistas-chefes que suportam o relatório do Fórum Económico Mundial descrevem uma grande heterogeneidade geográfica, no que às previsões de crescimento diz respeito. “A atividade económica mais fulgurante continua a ver-se na Ásia”, diz o relatório, embora a China seja uma exceção pela negativa, nessa região: “a quebra no consumo e na produção industrial, além das tensões no mercado imobiliário tornam menos provável que haja uma recuperação na China em 2024”.

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Quanto à zona euro, o Fórum Económico Mundial descreve como “impressionante” a mudança de opiniões que houve desde a última edição deste relatório, divulgada há um ano. “A proporção de inquiridos que antecipam um crescimento fraco ou muito fraco [na zona euro] quase duplicou para 77%“, assinala o documento, acrescentando que também nos EUA desceu de forma significativa (78% para 56%) a percentagem de economistas que antecipam uma aceleração moderada ou elevada do crescimento da maior economia do mundo.

“Embora os avanços tecnológicos possam dar um novo impulso à produtividade global, são necessárias políticas que fomentem o crescimento de boa qualidade“, defende o Fórum Económico Mundial.

Questionados sobre como os líderes políticos e empresariais podem contribuir para estimular esse “crescimento de boa qualidade” no contexto atual, os economistas destacaram várias prioridades: robustecer o quadro institucional das sociedades, melhorar a integração nas cadeias de valor globais; explorar oportunidades de transição para a economia ‘verde‘; apostar na capacidade de inovação e na infraestrutura digital. Investir em capital humano e nos serviços básicos também devem ser prioridades, defenderam os economistas.

O Fórum Económico Mundial estará reunido até dia 19 de janeiro em Davos, na Suíça, onde milhares de empresários e economistas se juntam anualmente para debater a situação económica, política e social no mundo.