A campanha eleitoral ainda não começou mas as voltas dos líderes partidários já seguem nesse ritmo e esta quarta-feira Pedro Nuno Santos almoçou com representantes do setor do comércio e dos serviços onde foi separa as águas do seu PS em relação ao PSD em matéria de economia. O encontro foi promovido pela CCP (que vai fazer o mesmo almoço com Luís Montenegro) e foi onde o líder socialista afastou do caminho uma “reforma fiscal”, até porque não é isso que vai permitir “pagar melhores salários“, mas sim “uma economia mais forte e diversificada”.

Não precisou de referir o nome do líder do PSD para se perceber que fez a negação da estratégia e Montenegro que ainda esta terça-feira se reuniu com economistas e apresentou uma abordagem nesta matéria mais pela via fiscal (com a redução do IRC para as empresas ou para a classe média), com o socialista a colocar os seus ovos noutro cesto: “A grande ambição que o nosso povo tem de ter melhores salários só se concretizará com uma economia mais forte e mais desenvolvida.” Para o socialista, não é por “andar sempre atrás da reforma fiscal” que “se consegue aumentar o rendimento disponível das famílias”.

Antes dele tinha falado o presidente da CCP, João Vieira Lopes, que pediu “estabilidade” e “previsibilidade” das políticas dos governos. Deu mesmo exemplos concretos, defendendo que não se pode “correr o risco de todos os anos se fazer alterações à legislação laboral e o que os orçamentos do Estado sejam uma espécie de reforma fiscal” anual que tem implicações na rentabilidade das empresas.

O líder socialista continua sem detalhar em que áreas prioritárias um Governo seu deverá vir a concentrar-se, ainda que continue a carregar no aviso de que os investimento públicos e os fundos comunitários não devem estar nos bolsos de todos. O alerta já vem do Congresso do PS, mas Pedro Nuno reforçou-o ao apontar o “drama nacional” que tem sido “querer preencher todas as gavetas para ninguém se queixar”. “A nossa política de incentivos nunca é suficientemente transformadora” por causa disso, defendeu perante a plateia de representantes do setor do comércio e dos serviços com que diz contar para fazer “Portugal grande” .

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Temos dificuldade em dizer que não e isso tem consequências negativas” porque “o Estado não tem recursos ilimitados e por isso tem de ter capacidade de fazer escolhas que permitam que a concentração de fundos e apoios é suficiente para produzir valor”. Sem detalhar quais e onde, o líder socialista vai repetindo que o país tem de “ser capaz de concentrar no que verdadeiramente pode ter efeitos de arrastamento na economia”, para puxar o país para outro patamar.

Tentou ainda a aproximação à plateia onde estavam empresários para apelar à crítica aos que “arrastam os pés” e a quem falta “atitude”, colocando-se do lado de quem faz: “É a medida e a atitude perante a governação que distingue os empresários e tem de distinguir os políticos.” E colocou-lhes ainda a mão no ombro ao assumir o “erro” cometido durante anos de “continuar a concentrar todos os nossos ovos no cesto da indústria”, quando “é importante sabermos a importância deste sector [do comércio e serviços] para não fazermos asneiras”. “Não existe indústria forte sem um sector do comércio e serviços forte”, disse à sala garantindo que eles “são as artérias que permitem abastecer as nossas empresas e chegar aos consumidores”.

Mas também trazia recados, nomeadamente em matéria de imigração, que considera ser um tema “muito fácil de explorar” de forma mais “populista”: “Qualquer político consegue recorrer ao populismo, não precisa de saber muito e no caso da mão de obra é muito fácil explorar fenómenos como o da imigração”. Mas diz que “a economia precisa” de mão de obra e da imigração. “Sentimos em diferentes sectores a dificuldade em conseguir mão de obra” isso também tem consequências do ponto de vista da “pressão salarial”.  Pedro Nuno defende que se aposte na formação dos trabalhadores e com maior envolvimento das associações.

Por fim, ainda falou na questão territorial e na fuga para o litoral, dizendo-se “surpreso” por um país “que se queixa de ser pequeno se deixe limitar a uma faixa litoral e desperdice 70% do seu território”. Numa referência ao interior, Pedro Nuno Santos disse que “ter deixado para depois grande parte do território foi um desperdício”. A intervenção ainda foi aberta à comunicação social, já o debate que se seguiu (com perguntas dos presentes e as respostas do socialista), decorreu à porta fechada.