O Congresso de Jornalistas aprovou este domingo uma moção com a proposta de realização de uma greve geral. A data será marcada em momento posterior.
“Propomos ao V Congresso de Jornalistas que mandate o Sindicato de Jornalistas para convocar um dia de greve geral em solidariedade com os camaradas do Global Media Group, em defesa da dignidade no Jornalismo e da Democracia”, lê-se na moção aprovada esta tarde.
Na moção, os proponentes defendem que “o descalabro e o nível de destruição a que assistimos nos últimos meses pôs a nu, e da pior forma, a gravidade das condições de exercício do jornalismo em Portugal”, que “não começou com a destruição da Global Media Group” — “a crise está entranhada em todas as redações”.
A moção denuncia ainda a precariedade, os baixos salários, a longa duração dos horários de trabalho e o não pagamento de horas extraordinárias. “Temos de PARAR. Simplesmente parar. Exigir que finalmente nos ouçam. Deixar de dar notícias, de fazer diretos, abandonar as redações, as conferências de imprensa e as ações de campanha. Não metemos jornais nas bancas, não damos notícias nas rádios, não transmitimos o telejornal, não publicamos nas redes sociais”, lê-se.
Jornalistas querem que investidores tenham registo de idoneidade
Os jornalistas reunidos em congresso aprovaram este domingo outras moções, incluindo para que investidores na comunicação social sejam obrigados a ter um registo de idoneidade e que jornalistas recebam dividendos das grandes plataformas que usam o seu trabalho.
No fim do 5.º Congresso dos Jornalistas, que terminou este domingo em Lisboa, foram votadas mais de 20 moções, sendo que uma delas, proposta pelo Sindicato dos Jornalistas (SJ), exige que qualquer pessoa ou entidade que decida entrar no ramo dos media tenha de “obedecer a registo de idoneidade, sob pena de ficar inviabilizada essa entrada”.
A questão dos donos dos órgãos de comunicação social tem sido muito falada devido à entrada na Global Media (dona de JN, DN e TSF, entre outros) do fundo de investimento World Opportunity Fund (com sede nas Bahamas, um chamado paraíso fiscal). De momento, trabalhadores têm ordenados em atraso e há a ameaça de despedimento de 200 pessoas.
Outra moção do SJ aprovada prevê que os “jornalistas reivindiquem para si os dividendos que as grandes plataformas digitais fazem com o trabalho” jornalístico e que o sindicato tome a dianteira dessa luta.
O tema de as grandes plataformas digitais usurparem o trabalho dos jornalistas é dos mais discutidos pela classe e outra das moções votadas repudia “a abutrização do trabalho jornalístico por redes sociais controladas por plataformas multinacionais que não pagam por ele o valor devido e muitas vezes o deturpam e manipulam a favor dos seus interesses”.
Os jornalistas aprovaram ainda uma moção para que, por regra, não seja divulgado quem comete crimes ou é deles é vítima, considerando que identificar pessoas acusadas e condenadas prejudica a sua ressocialização e que identificar as vítimas de crimes, contra a sua vontade, viola a sua intimidade.
Foram também aprovadas moções contra ataques a jornalistas. Uma das moções pede uma investigação rápida à agressão ao jornalista do Expresso, a semana passada, num evento na Universidade Católica com o líder do Chega. Outras moções repudiam a prisão e assassinatos de jornalistas, desde logo na Faixa de Gaza.
Foram ainda aprovadas moções por mais diversidade nas redações e nas notícias (são sobretudo homens, brancos e heterossexuais) e pelo reforço do fotojornalismo e do estatuto dos fotojornalistas.
O 5.º Congresso dos Jornalistas decorreu desde quinta-feira até este domingo em Lisboa (no Cinema São Jorge) com quase 800 congressistas. Segundo a Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas, há 5.313 jornalistas, 3.110 homens e 2.203 mulheres.