A Confederação das Associações Económicas (CTA) de Moçambique, a maior agremiação patronal nacional, quer reunir-se com o Governo antes de tomar uma posição sobre os novos casos de raptos, disse esta terça-feira à Lusa fonte da entidade.
A CTA adiou esta terça, pela segunda vez em dois dias, uma conferência de imprensa que havia convocado para se pronunciar sobre a nova onda de raptos que nos últimos tempos têm atingido as cidades moçambicanas.
Em declarações à Lusa, fonte da organização avançou que o adiamento deveu-se à não realização de um encontro com o Governo que iria abordar o impacto daquele tipo de crimes no ambiente de negócios e na economia.
“É um encontro de rotina com o Governo, mas, face aos desenvolvimentos recentes, seria debatido o impacto dos raptos no clima de negócios e na economia”, disse a mesma fonte.
A reunião com o executivo é importante para que os empresários emitam a sua posição, prosseguiu.
A fonte assinalou que a CTA já se pronunciou publicamente sobre as consequências que os raptos estão a provocar nos investimentos e na economia do país.
Em novembro, a organização defendeu penas de prisão “mais severas” contra raptores e sem possibilidade de pagamento de caução para travar estes crimes.
No sábado, um empresário moçambicano, a primeira vítima conhecida de raptos em Moçambique, em 2011, voltou a ser raptado em Maputo, por um grupo de quatro homens que chegou a efetuar vários disparos na via pública, segundo várias fontes.
A ocorrência do rapto foi confirmada à Lusa por fonte oficial da Polícia da República de Moçambique na cidade de Maputo, reservando outras informações para mais tarde.
Contudo, as imagens do sistema de videovigilância divulgadas publicamente mostram o momento do sequestro do empresário quando saía na viatura de um edifício, cerca das 07h30 locais (05h30 em Lisboa).
Nas mesmas imagens é possível ver que o grupo, munido de armas de fogo, chegou a efetuar vários disparos na via pública, na avenida Ho Chi Min, centro da cidade, face à oposição dos seguranças e à presença de pessoas nas proximidades.
A vítima, arrastada para o interior da viatura dos raptores, é um dos donos dos Armazéns Atlântico, que fugiu do cativeiro depois ter sido raptado em junho de 2011, o primeiro caso do género conhecido em Moçambique, indicaram outras fontes.
Há uma semana, um gestor de uma loja foi ferido no abdómen durante uma tentativa de rapto frustrada por populares que atiraram pedras contra os autores do crime, disse então à Lusa o porta-voz da polícia em Maputo, Leonel Muchina.
“Infelizmente, a vítima foi atingida no abdómen, mas está fora de perigo e em segurança, na sequência de uma ação de populares”, afirmou Muchina.
Uma petição lançada há cerca de um mês, dirigida aos governos de Moçambique e de Portugal, pede medidas para resgatar os cidadãos em cativeiro, apelando para que “não deixem estas vítimas cair no esquecimento”, tendo reunido já mais de meio milhar de subscritores.
A polícia de Moçambique deteve na madrugada de 18 de dezembro três pessoas envolvidas no rapto de uma jovem luso-moçambicana de 26 anos, que esteve em cativeiro durante 50 dias. A vítima foi raptada à porta de casa, no centro de Maputo, em 1 de novembro, por três homens armados, tendo o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal confirmado anteriormente que estava a acompanhar este caso e um outro, de outro cidadão também luso-moçambicano, alvo de uma tentativa de rapto também na capital, pouco dias depois.
Em novembro, o Gabinete Central de Combate à Criminalidade Organizada e Transnacional (GCCOT) de Moçambique deduziu acusação contra três arguidos alegadamente envolvidos no rapto e morte de um homem de 57 anos em dezembro de 2022.
Um dos arguidos é um antigo membro do Serviço Nacional de Investigação Criminal (Sernic) e um outro é funcionário de uma direção provincial da Justiça, que tinha sido condenado a 23 anos de prisão por envolvimento noutros crimes, incluindo rapto, mas absolvido em segunda instância, referiu o GCCOT em comunicado.