A ex-primeira-ministra escocesa Nicola Sturgeon pode enfrentar uma acusação criminal por ter apagado mensagens no Whatsapp referentes à gestão da pandemia Covid-19, da altura em que era governante, avançam os jornais britânicos.

O inquérito à gestão da crise pandémica na Escócia começou na semana passada, e na sexta-feira a comissão responsável, em fase exploratória, foi informada de que Sturgeon não tinha qualquer mensagem desse período.

Segundo o Telegraph, esta revelação ultrajou a associação Famílias Enlutadas pela Justiça (Covid-19 Bereaved Families for Justice), grupo de pressão formados por familiares de pessoas que morreram no período da pandemia e que estão a impulsionar os inquéritos à gestão governamental da crise pandémica.

O advogado responsável pela representação das Famílias na Escócia, Aamer Anwar, afirmou que iria apresentar uma queixa junto da polícia escocesa, assim como um pedido para o Comissário da Informação (o regulador independente com responsabilidade sobre a proteção de dados e liberdade de informação) para investigar “eventuais violações da lei”, indica a mesma publicação.

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Isto porque a lei prevê que a destruição, alteração ou dissimulação intencional de um documento relevante considera-se um documento relevante “aquele a que uma comissão de inquérito, se soubesse da sua existência, quereria ter acesso” — é um crime, explica o Times. O governo britânico pediu aos executivos escocês, galês e norte-irlandês em junho de 2021 e fevereiro e outubro de 2022 que todos os documentos de potencial relevância fossem guardados.

Na audiência de sexta-feira, soube-se que o então primeiro-ministro adjunto, John Swinney, apagava as suas mensagens usando uma função automática do Whastapp.

Foi igualmente revelado que um alto responsável governamental avisou num grupo na mesma rede social, em maio de 2021, que o que ali fosse escrito poderia ser divulgado ao abrigo das leis de informação. Após um outro responsável responder “Apaguem o chat!”, o diretor clínico nacional (um cargo equivalente ao de diretor da DGS), Jason Leitch, escreveu que apagar mensagens do Whatsapp era parte do “ritual antes de deitar”. Estas mensagens foram trocadas 24 horas depois do anúncio do inquérito à gestão da pandemia.

Em agosto do mesmo ano, em resposta a um jornalista do Channel 4, Nicola Sturgeon comprometeu-se a partilhar as suas mensagens com o futuro inquérito.

Numa publicação de sábado passado, no X, a ex-primeira-ministra afirma que “por respeito a todos os que foram impactados pela pandemia”, iria responder diretamente às questões que lhe forem colocadas quando se apresentar perante a comissão, ainda este mês, ao invés de ir “comentando” o desenrolar do processo.

Contudo, Sturgeon reitera que a gestão da pandemia foi conduzida “através de procedimentos formais” a partir da sede do governo, e não por meio do “Whatsapp ou outras plataformas de mensagens informais”, acrescentando que não era parte de grupos e que só comunicava com um número “limitado” de pessoas por tais meios.

Contudo, nota o Telegraph, na sexta-feira foram apresentadas provas de conversas por Whatsapp entre Sturgeon e a sua chefe de gabinete, Liz Lloyd, e Humza Yousaf, atual primeiro-ministro escocês, que era o então ministro da Saúde.

Adicionalmente, o registo dos meios de comunicação utilizados pela ex-primeira-ministra no período sob inquérito mostra que esta ia “trocando informações e pontos de vista por mensagem ou Whatsapp”, mas que os aspetos que “exigiam tomar decisões” era suscitado em reuniões formais, diz o documento citado pelo jornal britânico.

Por fim, o Times acrescenta que o mesmo documento nota que as mensagens não foram preservadas, ou por serem apagadas na “gestão rotineira das caixas de entrada” ou pela substituição dos telefones, mas que “todos os assuntos substanciais” eram registados nos serviços de correio eletrónico oficiais.

A porta-voz de Nicola Sturgeon recusou prestar mais declarações à imprensa britânica, remetendo-a para os anteriores comunicados.