O verniz estalou entre PSD e PCP a propósito dos debates televisivos desta pré-campanha eleitoral. Depois de o Diário de Notícias ter noticiado que Luís Montenegro se prepara para não estar presente nos debates contra PCP e Livre, sendo substituído pelo líder do CDS, Nuno Melo, o PCP irritou-se e acusou Montenegro de estar a querer “fugir” ao debate e ao confronto com a esquerda — e o PSD veio dizer que não tem “medo” de ninguém e que a substituição já estava combinada. O episódio acabou com as televisões a desmentirem os sociais democratas, recusando alterar o modelo dos debates.

Inicialmente, durante a tarde desta quarta-feira, e já depois da notícia do DN, os comunistas enviaram uma nota em que consideravam que Luís Montenegro pretende “esconder-se”. “Depois de acordado um modelo de debates entre as televisões e os partidos com representação parlamentar, o PSD e o seu presidente querem agora esconder-se e esconder o seu projeto atrás de pretextos”, acusava o partido de Paulo Raimundo.

Na mesma nota, o PCP aproveitava para acusar o PSD de querer evitar o confronto com os comunistas por estes lhe fazerem frente e lhes recordarem das suas responsabilidades durante o período da troika. “A CDU é a verdadeira força do combate à direita e à política de direita, que foi e será determinante para barrar o caminho à política e projectos que empobrecem a vida dos trabalhadores e do povo”, argumentava o partido, assegurando que Montenegro sabe que o PCP “não deixará esquecer o papel que assumiu enquanto presidente do grupo parlamentar do PSD no período do assalto da política da troika (…), assim como sabe que foi o PCP, e a luta dos trabalhadores e do povo, o mais firme e determinado obstáculo e opositor a essa política”.

Os comunistas mantinham a sua posição: não iriam “facilitar a intenção” do PSD nem cancelar o debate: “Os debates foram organizados sobre determinados pressupostos. Não será por parte do PCP e da CDU que esse momento clarificador de debate não se realizará”. Ao DN, Rui Tavares também criticava a posição do PSD, considerando a decisão de Montenegro uma “cobardia”.

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Poucos minutos depois, era a vez de o PSD reagir e desmentir os comunistas, garantindo que a troca já estava combinada. Numa nota assinada pelo diretor de campanha do PSD, Pedro Esteves, o partido garantia que desde a “primeira conversa” com os canais de televisão que ficou “acertado” que a AD se faria representar “em todos os debates pelo Presidente do PSD, com excepção daqueles que opõem a AD ao Livre e à CDU, onde a representação da Coligação Aliança Democrática ficará a cargo do Presidente do CDS, à semelhança do que aconteceu em 2015”.

E rematavam, na mesma nota, recusando que esteja seja uma forma de fugir ao debate. “A Aliança Democrática e o seu líder não têm medo de debater com ninguém”. Por isso é que “não recusou nenhum dos debates propostos. Nem na televisão nem na rádio”.

Faltava, no entanto, a posição das televisões que transmitem os debates, e que também não demorou a chegar: minutos depois da nota do PSD chegava às redações uma outra, assinada pelos três diretores de informação (António José Teixeira, da RTP, Nuno Santos, da TVI/CNN, e Ricardo Costa, da SIC), na qual transmitiam que o modelo proposto pela Aliança Democrática não seria aceite.

As televisões contrariam o argumento principal dado pela AD, que recorda que em 2015 Paulo Portas chegou a fazer debates em representação da coligação com o PSD, lembrando que nessa altura o CDS tinha uma bancada parlamentar. Ora, segundo RTP, SIC e TVI, o convite para os debates foi “dirigido exclusivamente” aos líderes dos partidos e coligações com presença no Parlamento, num modelo que tem sido aplicado nos últimos anos e é aceite pela CNE e pela ERC.

A mesma nota revela que depois de o modelo e o calendário base terem ficado assentes, na tarde de 22 de dezembro o PSD informou as televisões de que a AD “poderia decidir enviar o líder do CDS a alguns debates, replicando o que tinha acontecido em 2015”. Os diretores de informação relatam que o representante das televisões “tomou nota” dessa vontade mas explicou que isso “poderia levar a reações de outros partidos (entre os quais também há uma coligação, a CDU) que inviabilizariam o modelo”. E dizem ter enviado um e-mail posterior com os termos dos convites e debates, que terão ficado “perfeitamente explícitos, reforçados e aceites”.

Assim, as televisões dizem ter ouvido a posição do PSD com “alguma surpresa”. “Não podemos colocar em risco todo este processo. Recordamos que este modelo foi seguido com êxito desde 2019 em três eleições. A aceitar-se esta exceção, desvirtuar-se-iam o modelo e as condições de equidade propostas a todos, o que não é aceitável e justo”, diz a nota, que remata estabelecendo que o modelo se mantém “em vigor nos termos exatos” que propuseram à partida.

Tavares disponível para alterar “hora, dia ou local” do debate com Montenegro

Mais tarde, também o porta-voz do Livre reagiu à polémica, demonstrando total disponibilidade para mudar o debate, marcado para 17 de fevereiro, na TVI, para um dia que possa contar com o líder do PSD.  “Não acreditamos que Luís Montenegro falte a um compromisso previamente assumido há semanas, trate de maneira diferente partidos democráticos e não tenha tido sequer a cortesia de informar o Livre ou Rui Tavares. Desistir de debater é sempre uma derrota maior que um debate mal sucedido”, lê-se numa nota enviada pelo partido à Lusa.

Para o Livre, “este é um péssimo sinal para quem almeja ser primeiro-ministro de Portugal”. “Os debates existem para o esclarecimento dos cidadãos, pelo que Rui Tavares não faltará ao respeito para com os cidadãos que querem ser esclarecidos e esperamos que esta situação não passe de um mal-entendido”, diz o partido na mesma nota.

De qualquer forma, continua o texto, “Rui Tavares manifesta desde já a sua disponibilidade para alterar a hora, o dia ou o local do debate de forma a que este seja mais compatível com a agenda de Luís Montenegro”.

Na rede social ‘X’ (antigo ‘Twitter’), Rui Tavares acusou o presidente do PSD de “desrespeito para com os eleitores” face a esta decisão. “Caro Luís Montenegro, não quero acreditar que falte a um compromisso que todos assumimos previamente, e que é acima de tudo com os nossos concidadãos. É uma falta de respeito para com os eleitores que querem ser esclarecidos. Eu não falharei a este debate”, escreveu.