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FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Mesmo sem acordo ou reuniões periódicas, Montenegro e Rocha mantêm via aberta

Versões sobre a não inclusão da IL no Governo são contraditórias, mas os dois partidos não querem reabrir feridas. Objetivo é manter pontos de contacto e encontrar entendimentos sempre que possível.

Depois de um longo período em que PSD e IL cozinharam uma alternativa à direita, os dois acabaram separados, sem acordo — um no Governo, outro na oposição –, mas não de costas voltadas. Numa legislatura que será muito exigente em termos de equilíbrios parlamentares, Luís Montenegro e Rui Rocha vão jogar no mesmo campo, lutar pelos mesmos objetivos (com graduações diferentes, claro), mas sem que existam confusões: os dois partidos mantêm completa autonomia estratégica.

Segundo apurou o Observador, mesmo depois das conversas inconsequentes que existiram entre os dois partidos, Luís Montenegro e Rui Rocha comprometeram-se a não fechar portas e a manter linhas de comunicação ativas. Sem mais. Não existe um princípio de entendimento que obrigue os liberais a aprovarem medidas de Montenegro, que recomende ao PSD que ausculte Rui Rocha antes de apresentar propostas ou tão pouco um compromisso no sentido de haver reuniões periódicas entre os dois partidos. As negociações vão acontecer quando tiverem de acontecer, proposta a proposta, medida a medida, sempre condicionadas pelo objetivo último de Montenegro: conseguir a maior frente parlamentar possível.

Porque essa é outra certeza que condiciona todos os cálculos parlamentares que se possam fazer: mesmo juntos, sociais-democratas e liberais não terão como garantir maioria. Ou seja, um PSD que está necessariamente dependente de Chega e/ou PS para aprovar instrumentos de governação essenciais (vide Orçamento do Estado) não pode ter como parceiro exclusivo a Iniciativa Liberal, sob pena de ficar ainda mais coxo.

De resto, as declarações que os vários responsáveis do PSD vão fazendo sobre o próximo ciclo político apontam nesse mesmo sentido: vai ser preciso negociar com “todos, todos, todos”. Em muitos casos, agenda da IL será incompatível com a exigência que se vai colocar ao PSD de construir pontes com o PS e ou Chega. A tudo isto, some-se o facto de o PSD não estar sozinho no Governo e precisar de cuidar do seu único parceiro formal, o CDS.

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Mesmo assim, fontes dos dois partidos garantem que há “a possibilidade de haver conversas a outros níveis sempre que se justificar” e que a relação reforçada nos últimos meses entre Montenegro e Rocha está suficientemente cimentada para os momentos fundamentais. Mesmo numa relação que terá de ser inevitavelmente poliamorosa, não há estados de alma: os sociais-democratas sabem que precisam da Iniciativa Liberal para reforçarem a frente da direita moderada (e essa imagem vai e tem de valer para futuras eleições) e os liberais precisam de ser vistos como parte da solução — coisa que, vão insistindo, o Chega não é.

Grande parte das discussões vai passar pelo Parlamento, entre as direções das respetivas bancadas — Hugo Soares, no duplo papel de líder parlamentar e braço-direito de Luís Montenegro dará um peso mais relevante e definitivo às negociações que vão necessariamente ter de existir. As direções partidárias comunicarão sempre que acharem necessário ou sempre que houver discussões de interesse superior, sendo que Montenegro e Rui Rocha terão o papel de chamar a si as negociações e desbloquear qualquer entendimento que possa estar mais difícil.

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O namoro que não acabou em casamento

Começou com uma nega, renasceu com uma nova oportunidade e terminou sem compromisso. A Iniciativa Liberal colocou-se, por vontade própria, fora da coligação que o PSD criou para unir a direita, isolando o Chega, mas nunca fechou a porta a uma aproximação pós-eleitoral. Pelo caminho, ainda houve sociais-democratas a torcer o nariz e a responsabilizar os liberais por um eventual fracasso que viesse a acontecer em legislativas. Na cabeça de todos estava um cenário ideal que não se veio a confirmar: sozinhos, AD e IL não conseguiram maioria parlamentar e o Chega continuou a ser instrumental para o bloco das direitas.

A IL apressou-se em construir a narrativa de que preferia ficar fora do Governo, o PSD fechou-se em copas. A posição dos liberais começou a mudar à medida que os dias foram passando e Rui Rocha aceitou sentar-se à mesa com Montenegro. Conversaram, negociaram, mas falharam no entendimento. Os liberais juram a pés juntos que preferiram abdicar de entrar no Governo porque só estavam verdadeiramente empenhados na discussão de propostas concretas; os sociais-democratas garantem que essa versão não corresponde inteiramente à realidade, mas preferem não abrir feridas. A verdade, como quase sempre, estará algures no meio.

Momentos houve em que o “excesso de protagonismo” de Rui Rocha ia irritando o PSD. Ainda antes de serem dadas como fechadas as negociações, um destacado dirigente social-democrata não escondia algum agastamento com  as sucessivas declarações de Rui Rocha sobre o acordo/não-acordo. “Quem muito fala, pouco acerta”, sintetizava então um elemento do PSD. A verdade é que as conversas existiram e terminaram sem acordo. Num comunicado assinado por Luís Montenegro e Rui Rocha, os dois sublinharam sublinharam três pontos fundamentais: o diálogo existiu, PSD e IL entenderam que um acordo de governo não fazia sentido e acordaram em prosseguir contactos no futuro.

Nesse mesmo dia, fonte do PSD dizia ao Observador que tinha sido uma forma encontrada para todos salvarem a face — mas sem esconder a ideia de que a IL teria dado, porventura, passos maiores do que a perna, entrando num pára-arranca sobre a verdadeira intenção de integrar o Governo — ora queria, ora não queria, ora auscultava os membros do partido nesse sentido, ora dizia que só queria mesmo era discutir propostas. A ideia de Montenegro e Rui Rocha foi sempre preservar e não queimar pontes.

A relação que começou à mesa

Ainda o governo de António Costa estava longe de cair e já Luís Montenegro e Rui Rocha se sentavam à mesa à procura de uma solução à direita que deixasse o Chega isolado. Num almoço que foi tornado público através de uma fotografia, os líderes de PSD e IL deram um sinal a Marcelo Rebelo de Sousa para mostrar que estavam prontos para assumir responsabilidades no dia em que fosse preciso. A ideia fundamental foi a que se tornou real: não estava prevista uma articulação formal até às eleições, nem sequer uma coligação pré-eleitoral, mas havia canais abertos para negociações e acordos sempre que necessário.

O almoço e a fotografia de Luís Montenegro e Rui Rocha serviram para mostrar isso mesmo: o centro-direita estava a organizar-se para chegar ao poder. Seis meses depois, Costa demitir-se-ia e era preciso colocar em prática o plano para que o PSD chegasse ao Governo apoiado pela IL. A realidade não permitiu que os liberais fossem fundamentais nas contas de uma maioria e a IL acabou por ficar de fora.

Aquilo que fontes dos dois partidos fizeram questão de sublinhar na altura acabou por se confirmar, com ambos a mostrarem preferência por mostrarem sinais de aproximação, mas também diferenças que poderiam levar a captar eleitorado diferente. No caso da IL este foi sempre o argumento para que o partido fosse a votos sozinho. Depois dos votos contados, confirmou-se que a IL acabou por ficar esmagada entre uma AD empenhada na conquista do voto útil e os descontentes que preferiram o Chega — e o partido não conseguiu os resultados que esperou, nem os quantitativos que o presidente liberal estabeleceu: 12 deputados, nem o poder que permitiria influenciar o Governo por dentro no caso de maioria parlamentar, mesmo que fosse numa espécie de geringonça de direita.

Há outra certeza que condiciona todos os cálculos parlamentares que se possam fazer: mesmo juntos, sociais-democratas e liberais não terão como garantir maioria. Ou seja, um PSD que está necessariamente dependente de Chega e/ou PS para aprovar instrumentos de governação essenciais (vide Orçamento do Estado) não pode ter como parceiro exclusivo a Iniciativa Liberal, sob pena de ficar ainda mais coxo.

Os desafios que ficaram pelo caminho (ou que podem ver a luz verde)

Quando ainda se ambicionava uma maioria à direita em que PSD e IL fossem suficientes para a solução, Luís Montenegro e Rui Rocha debateram frente a frente sem destruir a possibilidade de uma alternativa à direita. “Os portugueses percebem que a solução para o país está nesta mesa”, começava por dizer Rui Rocha, que trazia na manga uma folha com 10 desafios para apresentar ao líder do PSD.

Da redução de IRC a um modelo próximo do alemão na saúde, passando pela privatização da TAP ou a eliminação do IMT ou Imposto de Selo para a aquisição de habitação própria permanente, os liberais deixavam em aberto a discussão dos assuntos um por um e, mais tarde, em entrevista ao Observador, Rui Rocha reconhecia que o documento devia ser visto como um caminho que é “preciso trilhar”, mas deixava claro que havia assuntos em que era mais necessário uma aproximação à IL, dando como exemplo o caso do IRS.

Na altura, o líder do PSD foi lendo o documento durante o debate — que apresentava diferenças e pontos em comum com o programa da AD — e não identificou no imediato nada que fosse impeditivo de uma negociação entre ambos. E a própria AD acabaria, nas redes sociais, por agradecer a Rui Rocha a “confiança de que Luís Montenegro será o próximo primeiro-ministro”.

O documento que serviria como base para imposições da IL acabou por ficar pelo caminho com um entendimento que acabou com um não-acordo, mas pode servir de base a uma insistência dos liberais no Parlamento com medidas que foram sendo apresentados e chumbados nas anteriores legislaturas na Assembleia da República — que podem vir a ver a luz do dia agora que o PSD está no poder.

Em entrevista ao Observador, Rodrigo Saraiva admitiu que Luís Montenegro, no discurso de tomada de posse, optou por “também para fazer um bocado um check em muitas das medidas programáticas e bandeiras da Iniciativa Liberal e de outros partidos”. Desta forma, e mesmo sem um lugar no Governo, a IL acredita que a boa relação entre os dois partidos pode dar frutos no futuro: sem ficar com o ónus de uma governação que tem sempre avanços e recuos, os dirigentes entendem que vão conseguir fazer aprovar várias propostas do partido — e ficam com o melhor dos dois mundos. O PSD sabe, naturalmente, o risco de partilhar louros e não vai assistir de forma passiva ao fogo de artifício da IL. Amigos, amigos, negócios à parte.

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