A startup portuguesa Connected, que está a desenvolver uma tecnologia para criar uma rede global de conectividade a partir do espaço, fechou um investimento de dois milhões de euros numa ronda pré-seed, que classifica como “a maior de sempre captada por uma empresa do setor espacial em Portugal”. Com o financiamento, a empresa quer aumentar a equipa, que atualmente conta com 12 pessoas.
Até ao final do ano, a tecnológica pretende contratar 10 trabalhadores. O investimento coliderado pela Shilling VC, Iberis Capital e FundBox, que contou ainda com a participação da Amena Ventures, do investidor “anjo” Keith Willey, e da Octopus Ventures, vai também permitir à empresa acelerar o desenvolvimento de soluções de conectividade NB-IoT (baixa largura de banda para a Internet das Coisas) a partir do espaço e em zonas remotas.
Tiago Rebelo, CEO e cofundador da startup, explica ao Observador que a startup está a “desenvolver uma tecnologia que vai permitir, a partir do espaço, ter uma rede global de conectividade”. “80% do nosso planeta não tem rede terrestre. Em todo o oceano e num terço da terra não há forma de nos ligarmos a qualquer rede terrestre. A Connected está a criar uma rede não terrestre”, que funciona através de um sistema rádio proprietário e que é integrado em satélites de terceiros em órbitas baixas e de baixa largura de banda.
Queremos criar uma rede global que permita a qualquer dispositivo IoT — qualquer dispositivo que esteja a recolher dados em zonas remotas — ligar-se à nossa rede e transferir os dados de onde são recolhidos para onde são necessários”, afirma Tiago Rebelo.
Neste momento, a empresa ainda se encontra em “fase de desenvolvimento tecnológico”, mas os primeiros testes no espaço deverão realizar-se no final deste ano. O sistema da tecnológica portuguesa — que é autónomo e escalável — vai voar a bordo de um satélite da britânica Open Cosmos. Segundo o CEO, trata-se do “primeiro sistema a nível mundial que está a ser desenvolvido para [viajar] a bordo de satélites terceiros”.
Ao invés de ter os seus próprios satélites, a Connected vai “apanhar uma boleia para o espaço”, algo que Tiago Rebelo classifica como “extremamente sustentável do ponto de vista de ecossistema espacial”. Isto porque em vez de serem lançados “ativos próprios” que teriam “um único propósito”, a empresa aproveita “uma boleia de satélites que já iam para o espaço fazer outro tipo de aplicações, nomeadamente de recolha de imagens da terra”.
A Connected vai “testar” a sua capacidade de “fornecer este serviço” de conectividade a partir do momento em que tiver o seu primeiro satélite no espaço. “Depois, precisamos de 16 satélites para ter uma rede piloto. O plano passa por ter 16 ativos a voar no espaço até ao final de 2026. Até ao final de 2028 queremos entrar em operação com um serviço com cerca de 100 ativos”, detalha Tiago Rebelo, em declarações ao Observador.
No comunicado em que é anunciado o investimento, o cofundador e CEO descreve a ronda como um “marco significativo para uma empresa que foi fundada há apenas um ano” e diz que permitirá dar “mais um passo na construção de uma rede global de conectividade IoT, que apoiará a transformação digital e a transição climática na terra, além de contribuir para a sustentabilidade no espaço”.
A Connected foi fundada em 2023 por Tiago Rebelo, André Guerra, Hélder Oliveira e Raquel Magalhães e integra “a iniciativa de incubação de empresas da Agência Espacial Europeia (ESA-BIC)”. Tem a sede no Instituto Pedro Nunes, em Coimbra, e escritórios na UPTEC, no Porto.
Um dos objetivos da empresa é que a rede que está a desenvolver forneça “serviços de conectividade para aplicações pessoais (por exemplo, apoio de emergência em áreas remotas), bem como aplicações IoT, que promovem a transição climática (na prevenção de incêndios e proteção da vida selvagem, por exemplo) e ainda a transformação digital (na agricultura de precisão, na aquacultura e na vigilância e defesa do território, entre outras áreas)”.