Foram cerca de 4.000 os agricultores, com 500 tratores, que se manifestaram-se esta quarta-feira em Madrid, no 16.º dia consecutivo de protestos em toda a Espanha contra políticas e regulamentos europeus. O protesto de Madrid foi o maior que já chegou à capital espanhola e foi convocado pela associação União das Uniões (UDU), que não faz parte do grupo de confederações agrícolas reconhecidas como interlocutoras do Ministério da Agricultura. Os números foram avançados pela Delegação do Governo em Madrid (a entidade responsável por autorizar e organizar os dispositivos de segurança das manifestações).

“Hoje marcámos um antes e um depois. Queremos uma vida digna, rentabilidade e importações de acordo com as exigências feitas em Bruxelas”, exigiu um porta-voz da organização, citado pelo El Mundo, acrescentando: “Senhor ministro, tome um banho de realidade, aqui está o verdadeiro campo.”

O caminho foi marcado por momentos de tensão com as autoridades policiais a atuar quando um grupo de manifestantes na Praça da Independência tentou descer a rua em direção ao Congresso dos Deputados. A polícia impediu que a marcha saísse da rota autorizado, com recurso à força, deixando algumas pessoas com ferimentos ligeiros, entre elas o líder da União de Uniões. Um manifestante foi detido por resistência e desobediência aos agentes.

Com coletes amarelos refletores, chocalhos, apitos, vuvuzelas, bandeiras de Espanha e de diversas regiões autónomas, os agricultores criticaram em Madrid “a asfixia” dos regulamentos europeus e aquilo que consideram ser a passividade do Governo espanhol perante a burocracia e regras a que estão sujeitos. “Amnistia para o campo, não burocracia”, “Não somos a Espanha esvaziada, somos a Espanha abandonada”, lia-se em alguns dos cartazes e faixas empunhados pelos agricultores ou colocados nos tratores.

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Centenas de agricultores manifestaram-se também noutras cidades espanholas, convocadas nestes casos pelas três confederações agrícolas que são interlocutoras do Governo (Asaja – Associação Agrária Jovens Agricultores, UPA – União de Pequenos Agricultores e Ganadeiros e a Coordenadora de COAG – Organizações de Agricultores e Ganadeiros).

No sul do país, 2.000 tratores e outros veículos fizeram marchas lentas em redor de Múrcia e 400 entraram no centro da cidade. Em Málaga, manifestaram-se cerca de mil pessoas a pé, acompanhadas por perto de 90 tratores, segundo a polícia. Em Cáceres, na Extremadura (oeste, na fronteira com Portugal), saíram à rua cerca de 100 veículos agrícolas e 600 pessoas. Houve ainda, entre outras, manifestações em Leão (noroeste) e Saragoça (nordeste), onde uma autoestrada chegou a ser cortada.

Durante a manhã, a secretária de Estado de Agricultura e Alimentação espanhola, Begoña García Bernal, reconheceu o direto das organizações agrícolas de se mobilizarem, no entanto, apelou à “responsabilidade partilhada” da União Europeia, do governo espanhol e das comunidades autónomas para responder às suas reivindicações.

Os agricultores espanhóis começaram no início do mês protestos contra as políticas e regulamentos europeus para o setor da Agricultura, como está a acontecer noutros países, com manifestações convocadas nas redes sociais, mas também pelas organizações agrícolas. Segundo o Ministério da Administração Interna, 52 pessoas foram detidas e 9.080 foram identificadas nas manifestações desde 06 de fevereiro.