O plano de subscrição com anúncios da Netflix, que marcou a primeira vez que a plataforma de streaming desenvolveu uma assinatura com publicidade, fez um ano em novembro. Mas, tal como no lançamento, continua apenas disponível num número limitado de países, como Estados Unidos, França, Alemanha, Itália, Austrália, Japão, Coreia do Sul, Brasil e Espanha. Portugal não constava e continua a não constar da lista, mesmo que a opção de se juntar aos ‘vizinhos’ pareça ser um “encaixe natural”.
“Com base no bom desempenho do plano de anúncios em Espanha e Itália, não discordo que Portugal parece ser um ajuste natural” para receber o plano de assinatura com publicidade, afirmou Eunice Kim, chief product officer da Netflix, numa mesa redonda em que o Observador esteve presente. Porém, a empresa ainda tem “muito para aprender” e “infraestruturas básicas” para desenvolver antes de efetuar “qualquer expansão”. “Não está fora de questão [a chegada dos anúncios ao mercado português], mas não posso comentar os nossos planos futuros”, rematou.
Questionada pelos jornalistas sobre se a chegada dos anúncios ao streaming pode ser um problema, uma vez que aproxima esses serviços da televisão, a responsável pela inovação de produto da Netflix defendeu que o streaming é “um espaço diferente”. “Não só não queremos que a experiência dos anúncios seja a mesma que a da televisão ‘linear’, como não achamos que possa ser a mesma”. Isto porque, continuou, “há um certo grau de personalização no streaming” que não existe na televisão, onde “os mesmos anúncios estão a ser mostrados, na sua maioria, a toda a gente”.
Por outro lado, disse que “a carga média de anúncios” que a Netflix mostra se “situa entre os quatro e os cinco minutos por hora, em comparação com os quase 20 minutos por hora” na televisão. Eunice Kim descreveu a experiência com publicidade na plataforma como “incrivelmente ligeira” e disse que, a longo prazo, a empresa se preocupa em manter a promessa de que os utilizadores continuarão a ter uma “experiência com poucos anúncios”.
Durante a mesa redonda existiu também espaço para falar sobre o aumento dos preços das assinaturas, especificamente em França, onde o plano mais caro passou a custar no ano passado 19,99 euros (em Portugal, por exemplo, custa 15,99 euros). Questionada pelo Observador sobre uma possível subida da mensalidade no mercado português, a chief product officer respondeu o seguinte: “Não creio que anunciemos previamente os nossos aumentos de preços e quando é que vão acontecer.”
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Quanto custa o combate à partilha de passwords?
O plano com anúncios e o fim da partilha gratuita de contas com quem não mora na mesma casa, que começou no início do ano passado, são “duas coisas que estão a decorrer em paralelo”. No segundo caso, a Netflix teve, de acordo com Eunice Kim, de garantir que eram oferecidas “excelentes opções para as pessoas partilharem a um preço razoável com os seus amigos e familiares”. Em Portugal, por exemplo, cada “membro adicional” custa 3,99€, valor que acresce ao preço da mensalidade.
A empresa disse estar “muito satisfeita” com a forma como tentou encontrar “o equilíbrio certo entre as necessidades dos utilizadores”. Quanto a custos, afirmou que “é um pouco difícil” precisar quanto é que tem vindo a gastar no combate à partilha de contas. Isto porque “o único custo que advém de trabalhar na partilha de passwords é o capital humano” que é investido na “conceção da solução certa”. “No final do dia, em termos de percentagem dos nossos esforços de investigação e desenvolvimento, foi pequeno, mas exigiu muita aprendizagem, precisão e muita paciência para o conseguirmos [combater a partilha de contas] fazer corretamente”, afirmou a responsável pela área de produto, sem especificar números em concreto.
Anteriormente, quando falou sobre este processo no relatório e contas do terceiro trimestre de 2023, a Netflix disse que a reação de cancelamento era “baixa”, o que excedia as suas expectativas. O número de casas que pediam a password emprestada e que se converteram em “membros pagantes” também estava a “demonstrar uma retenção [de subscrições] saudável”. De julho a setembro do ano passado, já com o combate à partilha de contas em vigor, a empresa ganhou 8,8 milhões de novos subscritores, um número superior ao que antecipava e maior do que os 2,4 milhões registados no período homólogo.
O fenómeno Squid Game e a transmissão de eventos em direto
A Netflix estreou-se nos eventos ao vivo no ano passado, com o documentário Selective Outrage, do comediante Chris Rock. Recentemente, apostou cinco mil milhões de dólares nessa área, ao fechar um acordo para, a partir de 2025, deter os direitos exclusivos de transmissão do programa de wrestling Raw e de outros da World Wrestling Entertainment (WWE). Ao todo, serão transmitidas cerca de três horas de luta livre ao vivo por semana.
Na mesa redonda desta terça-feira, Eunice Kim, responsável pela incorporação de transmissões em direto ou jogos, notou que a Netflix terá de “ser capaz de comercializar e criar interesse” nos eventos ao vivo antes de estes estarem “efetivamente disponíveis no serviço”. Ao contrário do que acontece com os filmes ou séries que disponibiliza. “O Squid Game atingiu, provavelmente, o ápice de visualizações duas semanas depois de ter sido lançado, em vez de o ter feito logo à partida, (…) a viralidade foi crescendo e crescendo ao longo do tempo”, exemplificou.
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Para a chief product officer da Netflix, é possível ser “bastante preguiçoso” num serviço on-demand, especialmente em relação ao conceito de tempo porque “a atualidade e a precisão não tem de ser muito elevadas”. Nos eventos ao vivo, por outro lado, “é preciso ter em conta o milésimo de segundo para perceber quando é se vai entrar em direto”. Por isso, “há muitas coisas que precisam de ser redesenhadas do ponto de vista técnico” na plataforma, explicou, acrescentando que a empresa ainda está na “fase inicial de aprendizagem”.
Isso foi possível perceber quando, no ano passado, cerca de um mês após a estreia do documentário de Chris Rock, uma transmissão ao vivo de um especial da quarta temporada da série Love is Blind não aconteceu devido a problemas técnicos. De acordo com o The Verge, o episódio acabou por ser gravado e disponibilizado apenas em diferido.