“A Sala de Professores”

Carla Nowak, uma jovem professora substituta colocada num estabelecimento secundário, é confrontada com uma série de roubos que ali têm acontecido, e descobre que o ladrão pode ser não um aluno, mas sim um adulto: a chefe da secretaria, e mãe de um aluno muito bom, de quem Carla gosta muito. A sua denúncia desencadeia uma sucessão de acontecimentos que põem a escola em polvorosa. Candidata pela Alemanha ao Óscar de Melhor Filme Internacional, esta realização de Ilker Çatak retrata a escola como um local de agressividade à flor da pele, um campo de batalha, com alunos contra alunos e contra os professores, os professores em conflito entre si, e os pais e os professores em choque permanente. Além de mostrar como esta instituição, na Alemanha, parece ter dado demasiada representação, voz e autonomia aos alunos, em nome de uma questionável noção de “democracia” interna, tornando-os nuns monstrozinhos (ver o episódio do jornal escolar e o discurso arrogante, fanático e estereotipado dos jovens “jornalistas”). Leonie Benesch é muito boa na idealista e ingénua Carla, que quanto mais quer fazer o que lhe parece estar certo, mais confusão causa e mais se afunda (leia a crítica aqui).

“Quatro Filhas”

Documentário da tunisina Kaouther Ben-Hania sobre Olfa Hamrouni, uma mãe de família divorciada que, em 2015, viu duas das quatro filhas, as mais velhas, desaparecerem de casa após terem sido radicalizadas, e juntarem-se às forças do Estado Islâmico. Estão hoje ambas presas na Líbia e uma delas tem uma filha de um dirigente jihadista morto em combate. Quatro Filhas é um filme complexo, em que a realizadora combina documentário tradicional, ficção e reconstituição, recorrendo para isso a atrizes para interpretarem Olfa e as duas filhas mais novas, Eya e Tayssir, que no entanto também participam como elas próprias, inclusivamente nas sequências encenadas. Esta escolha formal não resulta totalmente, mas as três mulheres são articuladas, vivas e comunicativas, discorrendo em pormenor, com graça e mesmo bastante franqueza, sobre a sua vida familiar e íntima, a situação das mulheres na Tunísia antes e depois das convulsões da Primavera Árabe, e os efeitos trágicos desta sobre a aceitavelmente laica sociedade local, exemplificados pelo que aconteceu às duas filhas mais velhas de Olfa. A fita é candidata ao Óscar de Melhor Documentário de Longa-Metragem.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Soares é Fixe!”

Realizado por Sérgio Graciano e escrito por João Lacerda Matos (os autores de Salgueiro Maia: O Implicado), Soares é Fixe! será também uma série para a RTP (que já fez, recorde-se, uma série de ficção sobre estas mesmas eleições, 1986, embora de um ponto de vista completamente diferente), e haverá ainda um filme sobre Álvaro Cunhal, Camarada Álvaro. Recriando a renhidíssima segunda volta das eleições presidenciais de 1986, ganhas por Mário Soares por uma unha negra, o que impediu a direita de alcançar a dupla maioria parlamentar/Presidente da República, Soares é Fixe! foi buscar o título ao slogan da campanha de Soares, decorre quase todo durante a noite eleitoral, com alguns recuos no tempo, para o passado político do líder do PS, e ambienta-se essencialmente nas sedes de campanha dos dois rivais, no Saldanha (Soares) e no Hotel Altis (Freitas). Tónan Quito interpreta Mário Soares e Tiago Fernandes personifica Diogo Freitas do Amaral (pode ler a crítica aqui).